quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Guerra sutil


Depois de ouvirmos besteiras monumentais ditas durante anos por Lula, por Dilma, por Cristina, por Hugo, por Lugo, chegamos à inevitável conclusão:
Idiotice, aliada a esperteza, pode provocar cancro.

POR EXEMPLO

sábado, 24 de dezembro de 2011

Mistérios (2)


Nesta época de mistérios tais como a concepção de um menino por uma virgem, bem antes da fertilização in vitro, lanço a pergunta que, para mim, questiona um enorme mistério:
Por que as casas de banho, em Portugal, têm o interruptor da luz instalado do lado de fora?!

Natal


Amanhã comemora-se o nascimento do presumível filho de Pantera, soldado romano, com Maria.
E (quase) toda a gente vai comer, beber e trocar presentes e gentilezas.

Bom Natal!

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Nevoeiro



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Agora de manhã, cá em Bragança, o cenário é esse que aí (não) se vê.
Mais ou menos o mesmo de um inverno em São Paulo, 1.963.
Luiz e eu teríamos prova de Cálculo na Cidade Universitária. Era nosso primeiro ano na Escola Politécnica da USP. Quem conduzia o fusquinha era eu. Melhor, tacteava em meio à névoa, a tentar adivinhar o que vinha à frente.
Luiz ainda me perguntou como eu conseguia dirigir sem enxergar quase nada. Comecei a dar-lhe uma explicação quando veio a pancada. Fora um pequeno corte no supercílio de um rapaz que viajava no outro automóvel, também um fusca, nada aconteceu às pessoas envolvidas. Apenas os estragos materiais é que foram grandes.
Além de todos os aborrecimentos que um evento desses acarreta, perdemos a prova de Cálculo.
Dada a falta de gravidade da ocorrência, o inquérito policial descansou em alguma gaveta e parecia que não teria conseqüências.
Mas, quase dez anos adiante, eu perderia mais alguma coisa.

* * *

Dezembro de 1.972. Final de um ano vivido atrás das grades. Por já ter sido condenado e já ter cumprido mais de metade da pena, eu tinha direito à liberdade condicional.
Meu advogado, José Carlos Dias, quis aproveitar o clima de Natal para solicitar minha soltura. Quanto a mim, sonhava sem parar com o passar as festas junto à família, solto no mundão.
Às vésperas do Natal veio a notícia: não iriam soltar-me. Havia a informação de um processo contra mim e seria necessário verificar do que se tratava antes de autorizar minha libertação. Tal verificação só poderia ser feita no início do ano.
Era o processo do acidente de 1.963.

* * *

Só pude respirar o ar da liberdade em 5 de janeiro de 1.973.
Em pleno verão paulistano. Sem névoa.

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segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Boas Festas


Estendo aos leitores do blog os cumprimentos que os brigantinos iluminaram na rotunda dos touros...


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e na pracinha dos caretos:

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De resto, brindo a todos com uma imagem de Bragança banhada pelo sol. Ao fundo a avenida Cidade de Leon. A câmera está na avenida das Forças Armadas, junto a mim e à Doga, ambos desarmados, claro.

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sábado, 17 de dezembro de 2011

Pílulas de língua portuguesa


Não sou profundo conhecedor da língua portuguesa. Mas imaginava ao menos conhecer o alfabeto.
Eis que, ao percorrer os corredores de um mercado, em Bragança, descobri em uma prateleira o produto abaixo:


Imediatamente pensei:
- Como são ingênuos, os portugueses! No Brasil, um produto com esse nome não venderia nem uma unidade. Aliás, mais: nenhum publicitário sugeriria para um produto um nome que se lê Caga Sete!
Não demorou, descobri que o que imaginava ser ingenuidade portuguesa, era ignorância minha: em Portugal, a letra K é pronunciada Kapa. No Brasil é que se diz Ka. Portanto, aqui, o produto pode ser tranqüilamente comercializado. É o Capa Agá Sete.
Pronto.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Imaculada Conceição


Portugal e Espanha param, todo ano, no dia 8 de dezembro, pra comemorar a conceição imaculada. Ou a concepção pura. Ou o nascimento sem sexo.

E eu, que pensava que adultos não mais acreditavam em cegonhas a trazer bebés.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

7Belo


Tenho um sobrinho que considero - já que os matemáticos preferem contar a partir do zero - meu filho zero. Depois vieram o primeiro, o segundo e o terceiro...
Eu tinha 17 anos quando ele nasceu. Meu pai morrera no ano anterior. Comecei, graças a ele, a aprender como se lida com uma criança.
E que criança!

Um dia desses, não faz muito tempo, mandou-me e-mail em que relata a visão que um garoto de nove anos teve das visitas que fazia, com os pais e a avó, ao tio preso no Presídio Tiradentes, em São Paulo, nos remotos anos de 1.971, 1.972.

Ele começa por sugerir o contexto da leitura:

Bom ... então ... agora ... toma duas doses da tua mais vagabunda bebida que estiver por perto ... e lê:

Daqui pra frente a palavra é toda dele:

Um cara com uma arma na cintura ia até quase no meio do pátio e aos berros mandava todos embora.
- O horário da visita acabô !!!
Este com certeza esbravejava outras frases não mais delicadas prá tirar todo mundo dalí.
Enquanto o milico berrava, ele, com seus + ou - oito anos, só conseguia prestar atenção nas famílias reunidas, uma a uma em "rodinhas" se despedindo dos que alí iriam ficar ...ao invés de ouvir o tal ...
Todo sábado era assim ..
Informação na cabeça dele era tudo ...
Via ... ouvia ...aliás, via mais do que deixavam ele ouvir.
Na época não tinha muito tempo prá sentir o que realmente acontecia . Mas não era de todo um tolo.
Só quem poderia dizer a data e a hora seria sua vó ... Quando a bomba estourou ... E a notícia chegou !
Ele estava no quintal de casa e viu ela, sua vó, receber a nova.
Com desespero ouviu, debruçada na janela de sua casa que ficava nos fundos do quintal, a notícia !
Foi um tal de: chora de um lado ... chora de outro ... cuidado com os vizinhos daqui ... cuidado com os vizinhos de lá ...
Enfim ... foi "o oh do borogodó do penacho roxo" !!!
E ele só ficou olhando ...
Tudo que ele queria era entender o que estava acontecendo !!!
Mas na verdade ... ninguém conseguia entender nada !!!
E ... então ... nos sábados iam todos prá lá.
Sua vó, seu pai, mãe, irmão ...
Com a idade que tinha ele só olhava ...filmava ... sim ... era tudo um filme ...
No fim de tudo ... na cabeça dele ... tudo isso virou um filme ... uma história ... este maldito roteiro ...
Não só na cabeça dele ... mas na cabeça de um monte de espertos que ganharam e continuam ganhando muita grana :
Músicas aos montes ... filmes .... muito confete e serpentina ...
Deram a "letra" prá neguinho "corrê" da Pátria mãe antes da "casa caí" - exilados -
Tomaram muito vinho aí por fora enquanto a "raça" aqui só tomava era muito choque e muita porrada !!!
Teve gente que até virou Presidente !!!
Quem é que não lembra da Copa de 70 ... Porra !!! Os caras jogavam muuuuiiitto !!!
Mas .. nas coxias desse teatro todo ... a história tava mais prá ginástica olímpica !!!
E ... nas coxias ... muitas famílias se encontravam ...
Lá na Tiradentes.
Estação do metrô ?
Não !
Na época não havia uma estação de metrô com todos os contornos, côres, cantos vivos que a arquitetura exibe hoje.
Na época famílias entravam alí por dentro de corredores intermináves.
E ele acompanhava a sua junto com outras tantas. !!
Tudo era muito curioso ... Pois ... chegada certa altura do circuito, depois de muita fila, era homem e menino prá um lado e mulher e menina prá outro.
E era gente prá caralho ...
O silêncio era o rei da festa, digo, da fila ...O que nos restava era olhar um nos olhos do outro como se fosse a última vez ... na real ninguém sabia ...
O mais louco é que a gente tinha que tirar a roupa e depois da "revista" colocar de novo ... umas duas ou até quatro vezes ... dependia da chefia da carceragem .
Prá ele e para os alí presentes isso não "pegava" nada ... Desde que no fim dessa travessia a gente "botasse os olhos" em cima de nossos amados !!!
E o prêmio era esse !!!
Era muito louco ...
Ao mesmo tempo que as famílias chegavam lá dentro do presídio, os presos encontravam não só com seus familiares mas também com suas caras metades, resultado:
Era beijo e abraço prá todo lado ... fora o que devia ser "disfarçado" ...
Dentro de um contexto era lindo de ver !!!
Presos políticos e suas famílias .. abraçados ... cada família formava uma rodinha ... todos abraçados pelos ombros ... todos alí em pé !!!
Ele pequeno, se enfiava no meio da roda ... Tinha Mário, Maria, tinha até baiano !
Uma coisa ele nunca entendeu:
O tio dele fumava a porra de um cigarro francês forte prá caralho - goloaze - sei lá como se escreve isso, nem filtro o bicho tinha, vinha num maço azul calcinha ... Enfim, o cara dava uma tragada atrás da outra, até aí tudo bem ... mais aí ele soltava a fumaça prá baixo no meio da bendita roda ... Vinha aquele fumaceiro de baixo prá cima !!!
Porra ! Por que ele não jogava a fumaça prá cima logo de uma vez ??? Vai sabê né ?!?
Tinha também umas coisas prá comer e beber. Cada família tinha sua festinha particular.
Em uma das tais rodas-famílias, tinha um cara que fazia questão de falar mais alto que todo mundo ... bem revoltadinho o rapaz. Diziam que era filho de milico, e também disseram que ele não falou alto por muito tempo ...
As histórias flutuavam por aquele pátio ... e sempre que ele chegava perto a conversa mudava ... era uma puta confusão prá ele "costurar" os assuntos ...
E ... nesse angu de caroço ... ele ficava andando prá lá e prá cá ... prá lá e prá cá ...
Havia um lugar que ele sempre ia. Enquanto Mários, Marias e baianos malhavam advogados, em um canto do pátio ele parava na frente da grade de entrada dos presos - no caminho das celas. Um corredor que ia escurecendo conforme a distância ia aumentando. Do lado de dentro da grade uma senhora negra ... bem negra ...e bem gorda.
Esta ficava sentada alí ... com as pernas abertas ... toda suada ... chegava a brilhar ... tão úmida como o corredor ...
E os dois ficavam se olhando nos olhos até que ele fugia o olhar.
Na cabeça só lembranças - passeio de barco no lago do ibirapuera ... Esterzita ... conversas ... o tio andando de bicicleta na vila ... banho de canequinha no tanque da casa da vovó ...passeio de fusca com o tio fazendo o maior esporro com a buzina de trem ...
Será que tudo isso acabou ?
Não ... claro que não !
Sempre que dava, com um cigarro recém aceso, aquele ...
Seu tio puxava ele de canto e andavam por alí.
Depois de muita conversa vazia e perguntas do tipo : "Como você anda indo na escola?" Os dois acabavam lá nas latrinas do pátio que, prá ele, eram peças muito estranhas:
Como alguém consegue cagar sentado no chão ???
A conversa vazia acabava ... o problema de cagar sentado no chão já não importava ...
Do alto de seus + ou - oito anos a ficha caía e ele lembrava que aquele cara com uma arma de tambor na cinta, logo começaria a gritar.
Era como se fosse um velório ...
Todo mundo chorando ... e sempre alguém não voltava prá casa.
Mas sempre, antes dos gritos, seu tio olhava dentro dos olhos dele ... oferecia um trago do seu cigarro francês ... e nos olhos do tio ele achava alguma paz que lhe acalmava o coração.

Dona Celina, que não usava nenhuma droga mas sempre foi ligada no 220V, as quartas feiras levava prô filho e prá nora as compras da semana ou como se diz no sul "rancho". Comida, muito cigarro, bebida não alcoólica e muita laranja ( ha! ha!).

Pilotando seu FUSCA 68 azul escuro, toda ou quase toda quarta feira (tinha quarta que o "Seo Mário" pai da Suzi ia - lógico que não ia com o fusca) entregava as compras lá na Tiradentes. Quando digo que ela pilotava não é exagero. A mulher dirigia prá caralho - com todo o respeito - Basta dizer que ela é responsável pela "alfabetização motorística" de alguns, muito em especial, dele seu neto.

Ela era muito boa de volante mesmo ... Ia prá todos os cantos de Sampa. Balizava, dava ré em ladeira, fazia de tudo ... e nas quartas feiras até algumas várias ultrapassagens perigosas. A velhinha no volante "dava nó em pingo de éter" !

E nessas quartas feiras antes de fazer a entregua das compras no presídio, pegava seus então só dois netos lá na usp.

O horário para a chegada na tiradentes era rigoroso. A carceragem pegava pesado.

Graças a alguma professorinha bem "não" comida filha da puta a saída do colégio atrasou.

Sabendo das consequências de um atraso na chegada com as compras no presídio, viu sua vó sair dalí "a milhão" enfiando uma marcha em cima da outra ... apavorada ...

Ele sempre ia na frente ... com a bunda na ponta do banco, as mãos no "puta merda!" com a cara grudada no para-brisa. (não esqueça - estamos nos anos 70 - não existiam cintos de segurança e o tal "puta merda !" ficava em cima do porta-luvas)

Se sentia dentro de um video game, enquanto o irmão, no banco de traseiro, mal respirava.

A velhinha aquele dia ia bater todos os seus tempos. Usou um atalho por dentro do Instituto Butantã, (aquele das cobras) atalho este que chega direto na av. Vital Brasil e então na av. Rebouças, aí é só seguir reto ("toda vida" como diz o manezinho) e chegar no centro, no centro da cidade.

Dona Celina conhecia todos os atalhos, com certeza muitos ela mesma inventou, tais como suas bonecas feitas de sobras de pano, brincadeiras e suas receitas culinárias.

Seus atalhos preferidos eram os que chegavam na igreja de Perdizes. Ninguém conhecia tão bem como ela as travessas, contornos, praças e até o tempo dos sinais das avenidas: Cerro Corá, Heitor Penteado, Dr. Arnaldo e Av. Pompéia.

Dona Celina só não conhecia o efeito do óleo diesel, que os ônibus da cmtc deixavam, sobre o calçamento de paralelelípedo, na última curva na saída do instituto (aquele das cobras).

O fusca rabiou prá direita ... e a danada ainda arrumou ... virou o volante (côr de marfim com aro meia lua de alumínio) numa manobra rápida ... aí o carro veio prô plumo ... só não veio como também passou
e foi com o rabo prá esquerda ... aí seguiu em frente ... desceu um pequeno declive de grama e só parou em um muro de tijolinhos à vista.

Foi coisa bonita de se ver. De se ver e ouvir ... foi uma puta porrada !

No carro todo mundo tonto ... o irmão caçula saiu voando prá cima dele ... ele meteu a cara no vidro ... com o "melado" correndo pelo nariz e pela boca, ajudava a vó se desencaixar do volante. Eles querendo sair do carro e uma multidão de curiosos do lado de fora perguntando prá eles : _ "Que qui aconteceu ?! Que qui aconteceu ??!!"

Era ônibus parando ... polícia ... dava de tudo ...

Era gente aparecendo de todo lado ...só não vieram as cobras do instituto !

Mas ... mesmo com esse rolo todo ... não foi nesta quarta feira que as compras não chegaram ... Dona Celina dava jeito prá tudo ...

Em sua casa as coisas ficaram mais corridas. Muitas visitas e muitas conversas.

Utensílios, pertences, móveis ... Tinha até uma caixa: ela era grande de madeira ... muito bonita ... chaveada. Colocaram num canto da sala e disseram prá ninguém mexer!

Era o maior mistério prá ele e seu irmão ... No fim era só um faqueiro ... hã ?!

Em uma noite ele e a família se arrumaram como se fosse domingo e foram prá um lugar parecido com igreja: um prédio grande, cinza, com escadarias na frente ... muita gente dentro. O deixaram prô lado de fora em um sacada.

Não demorou muito ... tentou entrar ... não deixaram .. aí subiu em alguma coisa, mas só via um monte de cabeças. Era um zum zum zum danado lá prá dentro. Desistiu e voltou prá sacada.

Ficou alí olhando a rua, pensando vai saber o quê ...

Lá pelas tantas viu, saindo pelo andar térreo, uma tripa de gente ... vários ... silhuetas mudas ... de cabeças baixas ... entravam em um carro que hoje ... carrega dinheiro prá bancos.

Muitos sábados passaram ... Muitas quartas também ...

E depois ... bem depois disso tudo ... Seu tio lá no Paraíso leu um artigo publicado em um jornal ... quem sabe a folha ou o estadão.

E entre uma garfada de strogonoff e um gole de conhaque ... seu tio chorou ...

As lágrimas secaram e a vida seguiu dalí em diante ... um pouco mais normal ...


Cigano.

sábado, 3 de dezembro de 2011

Vá lá que seja


Ainda é dia 2 no Brasil. Cá, começa o dia 3. Um sábado. Ontem, portanto, foi o dia em que comemoraríamos o aniversário de Koldeway.
E, eis que não há mais Koldeway.
O mundo vai em frente. A gente corre atrás.
Lá se foram meu pai, minha mãe. Agora meu cunhado. Disse cunhado? Balela. Irmão. E daqueles em que podes depositar tua vida. Ele segura.
Segurava.
É certo que deixou descendência que não decepciona.
E viva Koldeway Filho! Que adora ser tido por Cigano. Que seja.

Bola pra frente!

domingo, 27 de novembro de 2011

Amor pra ninguém botar defeito


Minha mãe, falecida no final de 1.992, deixou um caderno de anotações, do qual minha irmã me deu cópia de alguns trechos. O que vai a seguir, começa com a indicação de um versículo bíblico:
II Pedro 1:15 -
Mas procurarei diligentemente que também em toda ocasião depois da minha morte tenhais lembrança destas coisas.

Então, mãe, vamos lá lembrar.
O texto (do qual preservo a grafia original) que se segue à menção do versículo é auto-explicativo e, para mim, é música:

Para abrir este caderno de rabiscos meus, quero enfeitá-lo com o maior e mais belo elogio que uma esposa já recebeu.
Alberto escreveu isto quando ia viajar para Belém em companhia dos nossos três filhos e eu ia ficar sòzinha em Santos porque estava me preparando para o concurso de ingresso no magistério.
Eles viajaram em janeiro e iam passar o meu aniversário (31/1) longe de mim.
Ele deixou este escrito na agenda colado à página do dia 31 que, por sinal, estava rasgada. Eu o encontrei antes do dia 31 porque cada dia eu folheava a agenda para ver se havia alguma providência a tomar, pois Alberto havia deixado várias instruções sôbre pagamentos, pregadores a convidar, etc.


"No meu jardim
Numa linda madrugada, eu,
de insônia perseguido,
fui vagar no meu jardim.
A lua envolvia a terra -
noite linda para mim!
Em um cantinho, abandonada,
uma pequenina planta
sustentava meiga flor.
Logo dela fui cativo -
prêso de um imenso amor!
Cultivei-a com desvêlo;
molhei-a com muitas lágrimas,
cerquei-a de muito afeto.
Ela cresceu, desdobrou-se,
perfumou os meus caminhos,
parecia desfazer-se,
acabar-se em me servir.
Eu amei-a, cultivei-a.
Ela subiu, dominou;
tornou-se a mais linda flor do jardim de minha vida.
Muitos dias se passaram -
pressuroso o tempo foi.
E agora - que linda coisa -
na haste rija e mimosa,
aparecem três botões,
são rebentos dessa flor...
serão mais três lindas flores -
lembrança do nosso amor.
Santos, 2-1-1952
ass. Alberto Augusto
Para 31-1-1952


No verso da página, está escrito:

Estes versos não têm rima, nem métrica - são apenas pensamento. São cascata e não reprêsa, irregulares em sua forma, variados, como o que nos vem de Deus e não regulares, geométricos, como o que nos vem do homem. Digo isto, não aludindo à perfeição, que seria pretensão e irreverência, e mentira, mas falo do sentimento e da espontaneidade.
E dou graças a Deus, porque ainda encontrei poesia em minha alma, depois de 17 anos de casado. Nem todos têm esta ventura.
Presente de aniversário para a minha querida esposa.
Alberto.


Na página rasgada do dia 31/1/52 estava escrito:

Êste dia marca mais uma etapa na vida de minha dileta espôsa. De certo não estarei aqui, por isso que ela estará sozinha; mas nós, seu esposo e filhos, pensaremos nela e agradeceremos efusivamente ao Senhor a espôsa e mãe que nos deu. Pediremos ao Deus eterno que lhe prolongue a existência, porque, sem ela, a nossa vida seria como esta folha dilacerada: de menos utilidade, de menos beleza, porque ela torna estas vidas mais fecundas e mais belas.
assinado: Alberto Augusto, por êle e pelos filhos


14-1-52 (na mesma agenda, respondi:)
Quero escrever, mas não posso, as lágrimas me sufocam.
Você sabe que eu não sei dizer o que sinto escrevendo, por isso queria voar até Belém para abraçá-lo muito e muito para mostrar quanto bem me fizeram êstes versos que me falam tanto à alma e ao coração.
Choro de alegria por não ter apagado a poesia do seu coração, choro de arrependimento pelas muitas vezes que podia ter aumentado essa poesia e não o fiz e pelas vezes, mesmo, que concorri para que ela se enfraquecesse.
Mas não me esqueço nunca que se aquela tão frágil plantinha não tivesse sido tão bem amparada e tão cercada de amor, não teria se tornado, como você diz, em planta rija e forte.
Mas nós dois, unidos assim e amparados pela misericórdia divina que tão pródiga tem sido para conosco, havemos de fazer do nosso lar uma árvore frondosa e resistente e os nossos filhos hão de gloriar-se de serem frutos de uma árvore assim.
Recebi o presente antes do dia porque fui folheando o calendário mais para adeante para ver se havia alguma instrução que precisasse de providências anteriores, mas foi bom, porque achei o tesouro mais cedo.
Sua espôsa agradecida.


Dizer o quê?!

sábado, 26 de novembro de 2011

Aurora em Bragança


São 7:16 da manhã. O sol não surgiu no horizonte mas já clareou o dia.
A temperatura, lá fora, é de 3,5 ºC. Abro a janela apenas o tempo suficiente para furtar esse instante à natureza.

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terça-feira, 22 de novembro de 2011

Efeméride


Comunico solenemente a toda gente que dona Doga Pitucha, que mais uns dias completa 8 anos de vida intensa (talvez nem tanto), acaba de receber seu passaporte da União Europeia.
Sei que (quase) ninguém vai interessar-se por isso, mas garanto que tampouco ela o fará.

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segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Sobre o teste da revista Sábado


Quando eu estudava nos cursos fundamentais, lá pelo início da adolescência, era comum ouvir meu pai vociferar contra o ensino da época. E não era só ele que praticava o esporte de louvar o ensino de antigamente, aquele pelo qual haviam passado os mais velhos.
E o hábito persiste: não me lembro de nenhuma época em que o estilo de ensino vigente tenha sido considerado por muita gente como superior aos estilos anteriores.
Parece que a avaliação do ensino ministrado à gurizada tem a sina de conviver de modo permanente com a decadência.
E, digo logo, não sou exceção à regra.
Mas, como dizia aquele personagem posto por acaso nu em um elevador:
- Primeiro, calma!
Essa conversa mole vem a propósito de uma pesquisa que a revista portuguesa Sábado (que circula às quintas; e isso não é piada de português) fez junto a estudantes de universidades de Lisboa.
Formularam-se dois questionários de 10 perguntas cada e os submeteram a cem alunos abordados à entrada (ou à saída) das aulas, em plena rua. Não entendi qual a distribuição dos dois questionários. Imagino que cada um deles foi utilizado na abordagem de metade da amostra de universitários.
A ideia foi apresentar aos universitários perguntas que exigissem conhecimentos rudimentares.
Eis o conteúdo dos dois questionários:

1.Quantos quilos tem uma tonelada?
2.Em que ano aconteceu o 25 de abril?
3.Como se chamava o maior campo de concentração nazi?
4.Que actor protagonizou O Padrinho?
5.Quem é Manoel de Oliveira?
6.Quem escreveu O Evangelho Segundo Jesus Cristo?
7.Quem escreveu Os Maias?
8.Como se chama a chanceler alemã?
9.Quem é o presidente da Comissão Europeia?
10.Quem é o presidente dos EUA?



1.Quem pintou o tecto da Capela Sistina?
2.Quem pintou Mona Lisa?
3.Qual é o maior mamífero do mundo?
4.Qual é o símbolo químico da água?
5.Qual é a capital dos EUA?
6.Qual é a capital de Itália?
7.Como se chama o fundador da Microsoft?
8.O que significa a sigla LOL?
9.Que instrumento toca Maria João Pires?
10.De que banda fez parte John Lennon?

A matéria publicada na revista Sábado tem um clima de escândalo. Algo na linha:

- Oh! Como são ignorantes esses universitários! A que ponto chegámos!

Deixem-me, antes de mais, dar um depoimento pessoal.

Fui criado no Brasil. Terminei meu curso de engenharia eletrônica em 1.967, já lá se vão bem mais de 40 anos. Cursei uma das três melhores escolas de engenharia do país (claro que alguns ex-alunos dirão ser a melhor...). Antes disso, fui sempre dos alunos mais aplicados no ensino fundamental (pré-universitário).
Pois bem: das 20 questões acima, não sabia responder a duas (não tinha a menor ideia de qual o maior mamífero do mundo e não lembrava a expressão em inglês resumida na sigla LOL, apesar de saber do que se tratava). Além disso, se abordado na rua e instado a responder a algum dos dois questionários, talvez confundisse o nome de quem pintou o tecto da Capela Sistina com o nome de quem pintou a Mona Lisa. E isso apesar de já ter disputado acirradamente espaço no Louvre com uma multidão de orientais para contemplar o bendito quadro.
Está bem que se o universitário português não tem a menor ideia do que tenha sido o 25 de abril, a coisa é grave. Mas se o dito cujo souber do que se trata e apenas não se lembrar se foi em 74 ou 75 ou 82, qual o problema? Além do que, apenas 14% não souberam acertar o ano. O que significa que 86 estudantes em 100 acertaram.
Aliás, por falar em percentagens, 2% não sabiam quantos quilos tem uma tonelada, 2% não acertaram o nome do presidente dos EUA, 6% não lembraram qual o símbolo químico da água e 12% não souberam dizer qual a verdadeira capital de Itália.
Ora, em qualquer pesquisa, sobre qualquer tema, em qualquer lugar, algo em torno de 10% da amostra sempre vai descambar para absurdos. Se você fizer uma pesquisa no noroeste da Noruega (espero que a Noruega tenha noroeste) sobre, digamos, religião, encontrará seguramente uns 10% de adoradores do Sol.
O facto de 34% de universitários não saberem a que banda pertencia John Lennon me deixa na dúvida: devo lastimar os 34% ou é mais adequado lastimar os 66% restantes?
E olha que gosto de muita coisa produzida pelos Beatles.
Quanto a O Evangelho Segundo Jesus Cristo, eu sabia que tinha sido escrito por Saramago. Isso não me ajudou a passar das primeiras páginas do livro em algumas tentativas que fiz de lê-lo.
Enfim, podem anotar: daqui a uns 20 anos esses mesmos universitários estarão a lastimar o nível do ensino ministrado a seus filhos.
E dirão, consternados:
- Que decadência! Ah! no meu tempo...

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Plano de vôo


Faz tempo, imaginei uma viagem à região de Cognac, na França. Não sei por quais cargas d'água, cá em Bragança os whiskys oferecidos são dos bons e a preços excelentes, mas cognacs existem poucos em oferta e a preços um tanto salgados. Qualquer dia desses, vamos partir em direção a Cognac.
Basta sair daqui para o norte, passar uma primeira noite em San Sebastian (Donostia, em basco), ou em Biarritz, já na França, no dia seguinte seguir sempre ao norte e desembocar em Bordeaux, para visitar Cognac, logo ali, mais um pouco acima.
Feitas as devidas aquisições, voltar por caminho análogo.
Dá pra fazer a ida em apenas um dia, mas como sou descansado, pensei em dividir a ida (e depois, a volta) em duas etapas.
Ainda não chegou o momento de fazer essa viagem e eis que me surge a ideia de outra.

Trata-se de viagem ligada a vinho, não mais a cognac.
Consiste em sairmos daqui em direção a leste, até alcançar Valladolid. São exatos 201 km. Por estradas de primeira qualidade. Portanto, algo como menos de duas horas.
A partir de Valladolid, visitar as vinícolas da Ribera del Duero, produtoras dos vinhos mais sofisticados da Espanha.
Claro, não comprarei um Vega Sicilia Unico, o vinho espanhol mais caro. Afinal, minhas armas não são desse calibre. Mas algo um pouco abaixo desse nível deve ser possível.
Se a viagem for realizada ainda neste outono, será possível contemplar paisagens magníficas.
Como o frio intenso ainda não chegou, pode ser que possa ser...

A Doga, de certeza, vai adorar os ares de Valladolid.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Acaso e crença


Já me aconteceu de conhecer alguém e ouvir dessa pessoa:
- Não foi por acaso que nos conhecemos.
É sempre a dificuldade de aceitar que os eventos se sucedem ao acaso.
Parece que aceitar isso é admitir a nossa enorme insignificância.
E, no entanto, essas mesmas pessoas gostam de lembrar, com freqüência, o quão insignificantes somos diante da vastidão do Universo. Isso quando se trata de enaltecer algum deus de plantão.
Há algum tempo aprendi que esperar uma postura com alguma lógica dessas pessoas (infelizmente, a grande maioria) é inútil.
A Internet, então, tornou-se o paraíso dos que adoram falar de flores, pássaros, sentimentos nobres e como tudo isso causa a felicidade.
E dá-lhe power point, com música melodiosa de fundo (ligue o som!).
Se eu fosse governante, principalmente em país europeu nesse momento de crise, instituía um imposto sobre power point criado e sobre seu repasse.
Das duas uma: ou resolvia a crise ou acabava com essa mania de criar e repassar power point.
Ora, se um indivíduo quer acreditar em um deus qualquer, isso é problema dele. Só se torna problema meu quando o mesmo indivíduo resolve que eu também devo acreditar no deus dele.
Quanto a mim, se me permitem, prefiro entender que cá estamos por acaso, nascemos ao acaso, vivemos ao acaso e morreremos por acaso. E isso me parece deslumbrante. Não preciso de causalidade que me explique nada disso.

Nesse aspecto, os portugueses têm o hábito salutar de usar uma expressão que enaltece o acaso: é o se calhar.
Usa-se o se calhar a propósito de quase tudo, nesta terra católica.

Se calhar, nem católica é.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

O vinho e a salvação


Leio em algum lugar que o vinho foi introduzido na Espanha por comerciantes fenícios, há três mil anos.
Duvido que esses indivíduos tivessem plena noção da importância da contribuição que davam ao continente europeu. O que não lhes diminui o mérito.
E graças a essas associações de ideias que só ocorrem a ociosos, lembrei-me de meus primeiros passos rumo à descrença nas verdades cristãs.
Foi quando resolvi perguntar a meu pai como ficava a situação dos índios habitantes do Brasil antes dos descobrimentos, no quesito salvação.
Meu pai devolveu-me um meio sorriso carinhoso e ofereceu-me o conselho:
- Deixa pra lá os índios e preocupa-te contigo.
Claro que não estava eu preocupado com os índios. Estava, sim, preocupado com a lógica de uma doutrina que já começava a me parecer sem pé nem cabeça.
Se um indivíduo, qualquer um da espécie humana em qualquer época, só vai para o céu, usufruir do prazer eterno, se aceitar a Cristo como seu salvador, me parecia - já naquela época - totalmente injusto mandar para o inferno indivíduos que jamais tiveram qualquer remota possibilidade de se valerem do sacrifício do Calvário.

Ou então as inscrições para o céu por meio de Cristo deveriam ter data de início e mais algumas condicionantes, como por exemplo as geográficas.

Mas volto aos fenícios. No que me tange, terem sido os responsáveis últimos (ou primeiros...) por me ser dado usufruir do milagre do vinho já lhes reserva um belo sítio no paraíso eterno.
Quaisquer que tenham sido seus inevitáveis pecadilhos.

domingo, 6 de novembro de 2011

Acasos


Neste domingo, com sol em Bragança, fomos até Sendim (Miranda do Douro) almoçar no Gabriela, restaurante que serve alheiras fantásticas seguidas de posta mirandesa com um molho que é segredo antigo da casa.
Depois de algumas desavenças com o GPS, conseguimos chegar ao Gabriela.
No Largo da Igreja, onde fica o Gabriela, havia - seguramente - uma vintena de velhinhos a vigiar a vida.
Ao final da refeição, como não podia deixar de ser, pedi à senhora que nos atendeu que nos desse a receita do molho. Apenas para ouvir uma negativa imediata e sucinta:
- Não é possível. Resposta seguida de um sorriso.
Ao sair do restaurante, nossa acompanhante - uma amiga brasileira que vive cá há mais de dezesseis anos e ama esta terra - esclareceu:
- Está na hora dos velhinhos fazerem o lanche.
Perguntei:
- Como sabes que já é hora?
- Simples. Já não têm o palito à boca.
E detalhou:
- Quando acabam de almoçar, ficam todos a palitar os dentes. Como já não o fazem, é porque está na hora do lanche.
Saímos de Sendim e fomos orientados a seguir caminhos esdrúxulos pela locutora do GPS. Estranhos caminhos mas maravilhosos.
De repente, surge ao lado da estrada a Quinta dos Melros, com dezenas e dezenas de galinhas a passear em um relvado amplo.
Lá fomos nós.


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Saímos de lá com ovos e mais ovos.

Há quem pretenda ter controle sobre seu atos.
Determinar o rumo de seus passos.

Nada disso.
O acaso é o melhor conselheiro.

sábado, 5 de novembro de 2011

Remoto passado


Fomos hoje à aldeia - a Passos.
Havia por lá alguma agitação.
O filho de minha prima caçula, que sempre vai às castanhas ajudar aos pais, mora no Alentejo, trabalha na GNR, mas anseia pelo dia em que poderá reformar-se e voltar às origens.
Estava ele a promover uma festança a propósito da colheita das castanhas. Incentivava uma enorme fogueira, enquanto outros punham a arder sardinhas e febras a serem saboreadas com pão e vinho.
Quanto a nós, lá tínhamos ido a cumprimentar minha prima, a outra, a mais velha, pelo aniversário. Um rápido exame do BI e eis que a efeméride fora dois dias atrás.
E quem se importa. Na aldeia, pelos vistos, não se comemoram aniversários.
A Baixinha não deixou de arrebatar duas sardinhas. E aproveitámos a passagem do vendedor para comprar cinco litros de azeite.
Na casa de outra prima todos tinham ido às castanhas. Menos o puto de uns dez anos.
- Por que não foi ele a colher castanhas? pergunta a Baixinha, curiosa como sempre.
- Porque não quer!, responde a avó, com naturalidade.
E o guri continua, entediado, a bisbilhotar a Internet.
A educação vai ladeira abaixo, em Portugal.
Fosse eu o pai, puxava-o pela orelha e o levava a catar castanhas. Quisesse ou não.

Mas, ao que todos os sinais indicam, isso faz parte de um remoto passado.

Quase


Estive hoje em uma livraria, no centro comercial de Bragança. Fora alguma ficção de Rentes de Carvalho, nada - ou quase nada - a aproveitar.
Vou ter de visitar o Porto com maior freqüência...
Nada é perfeito. Nem Bragança.
Mas quase, quase.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Mistérios


A árvore abaixo é uma oliveira. Até aí, tudo bem.

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Ora, a laranjeira dá laranja, a bananeira dá banana, por que raios a oliveira dá azeitona?!

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As vagas para os veículos foram cuidadosamente demarcadas. Por que diabos a segunda faixa ficou menor que as demais?!

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