Conheci a churrascaria
Fogo de Chão de São Paulo em 1.986. Quase trinta anos.
Várias vezes escrevi
sobre a excelência da casa. Das carnes, do buffet, do serviço, do
ambiente.
Talvez não tenha
tocado em um ponto fundamental: a política de recursos humanos que
os proprietários originais nela implantaram.
Levavam do Rio Grande
do Sul para São Paulo rapazes originários da agricultura gaúcha.
Davam-lhes moradia,
treinamento e um excelente plano de carreira.
Vi muitos deles
começarem a limpar mesas, depois a percorrer as mesas com os
espetos.
Alguns tornaram-se
gerentes. Outros de lá saíram para abrir seus próprios
restaurantes.
Depois que o Fogo de
Chão começou a abrir casas nos EUA, deram cursos de inglês para a
moçada e muitos foram trabalhar no hemisfério norte.
Não me recordo do ano
em que aconteceu. Estava a jantar com meu filho no Fogo de Chão da
av. Santo Amaro. Um rapaz que estreava no espeto mais simples, o de
frango e linguiça, veio servir-me. Nervoso, deixou cair a faca em
minha mão.
O gerente veio ver o
estrago em meu dedo e levou-me a um hospital que – feliz
coincidência – ficava em frente ao restaurante. Recebi alguns
pontos no dedo e voltei para terminar a refeição. Pedi ao gerente
que não punisse o estreante.
Esse mesmo gerente
apareceu bem mais recentemente na loja da Santo Amaro. Estava de
terno. Veio conversar comigo, como sempre fazia. Contou-me que
administrava, então, todas as casas de Fogo de Chão de São Paulo.
E circulava entre elas, a cuidar que tudo funcionasse bem. Dei-lhe os
parabéns pela evolução profissional.
Pouco antes de mudar-me
para Portugal, fui despedir-me do restaurante.
Calhou de ele estar por
lá. Contei a ele que passaria a residir em Portugal. E perguntei se
não pretendiam abrir casas na península ibérica. Disse-me que
acabava de voltar de viagem a Portugal e Espanha para avaliar a
possibilidade de instalar a Fogo de Chão nesses países. Havia
chegado à conclusão de que não era viável. Fiquei triste com a
notícia mas mais uma vez elogiei sua ascensão profissional.
Hoje, ao ler a Folha
de SPaulo, deparei-me com uma enorme propaganda de empresa de
enchidos.
E lá estava, ao lado
de Fátima Bernardes, da Globo, o Presidente do Fogo de Chão, Jandir
Dalberto.
O gerente que me levou
ao hospital. Que – disso não me lembro – deve ter começado por
limpar mesas.
Gente assim me faz
ainda acreditar um bocadinho na raça humana.
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