segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Papo dominical


Hoje foi dia de conversar com meu amigo Pardal. E conhecer sua esposa, Ana Maria.
Como estavam eles em Foz Coa, a gozar curtas férias, fui até lá para almoçar e papear.

Eles haviam reservado uma surpresa para mim. O almoço seria na Quinta Ervamoira, do grupo Ramos Pinto.
Deixei meu carro em Foz Coa e fomos no carro do Pardal até a aldeia de Muxagata. De lá seguimos, por oito quilômetros, em um jipe da Quinta por aquilo que Ana Maria negou ser uma estradinha. E é mesmo um “caminho de cabras”.
Como quase sempre onde há mal há bem, a dificuldade de acesso à Ervamoira a torna uma relíquia maior.
Almoçamos praticamente ao ar livre, banhados por uma paisagem de vinhedos e colinas e vinhedos e colinas... Ervamoira tem algo como 450 mil videiras. E estamos em plenas vindimas.

Fiquei a saber que há, perto dali, às margens do rio Coa, afluente do Douro, exemplares abundantes de arte rupestre que se constituem nos mais antigos registos de atividade de gravação da história da humanidade. São gravações em pedra feitos a partir de um passado de 25 mil anos. Representam animais, em sua maioria. Mas há também alguns desenhos de seres humanos.
Não posso deixar de visitar tal coisa.

Lembrei-me até de uma expressão que se usa quando se quer dizer que alguém é muito antigo: “não viveu o dilúvio mas pisou na lama”. De hoje em diante vou preferir dizer: “não chegou a desenhar nas pedras mas sujou as mãos na tinta fresca”.

É infame. Admito.

Mas há mais: na própria Quinta Ervamoira há ruínas de uma aldeia romana do primeiro século da era cristã. A Ramos Pinto tem planos de restaurá-la. Mas aguarda ter recursos suficientes para tanto. É trabalho dispendioso.

Visita-se também, na sede da Quinta, um pequeno museu da casa Adriano Ramos Pinto. Um dos protagonistas da casa é o Lacrima Christi.



A propósito, conta-me o Pardal que seu pai costumava dizer:

Se o vinho é o sangue de Cristo, bem haja quem o matou!

Se a frase me parece saborosa (afinal, estávamos também próximos à foz do rio Sabor...), talvez pareça herética aos ouvidos de um cristão fervoroso.
Alto lá! Não pode ser assim. Os cristãos devem ser gratos aos que crucificaram Jesus. Sem isso não teríamos a possibilidade da salvação.

E fico a imaginar um Jesus que fizesse de um tudo para ser sacrificado mas esbarrasse em um Estado Democrático que não permitisse seu sacrifício. Que o deixasse fazer seus sermões à vontade.
Isso daria uma boa história.

Mas alguém já deve tê-la posto no papel.

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