terça-feira, 2 de setembro de 2014

Forças plasmadoras do futuro brasileiro – 2


Escrevi há um mês em meu blogue  a respeito dos dois polos que considero serem os que vão modelar o futuro do Brasil: o Partido dos Trabalhadores (PT) e suas franjas sindicais, estudantis e intelectuais de um lado e, de outro, os evangélicos sob a predominância ideológica dos neopentecostais.

Em primeiro lugar, saliento que o facto da evangélica Marina Silva ter sido guindada à posição de candidata à Presidência da República não é – necessariamente – algo que aponte na direção da polarização de que falo. Aliás, publiquei o texto sobre esse assunto mais de uma semana antes da morte de Eduardo Campos. Além disso, é curioso notar que tanto Dilma Rousseff quanto Marina Silva não são representantes “pura gema” das duas correntes por mim mencionadas. Dilma bandeou-se para o PT tardiamente e até hoje enfrenta um ambiente um bocadinho hostil em seu novo partido. Marina Silva teve formação católica e só bem mais tarde tornou-se evangélica. Também não é prata da casa.

Contudo, tenho a convicção de que, mais adiante, a polarização que indico tornar-se-á mais nítida.
Mas ela já atua nos subterrâneos dos costumes brasileiros. E quero, agora, colocar em relevo as razões que  levam tal polarização, por exemplo, a uma exacerbação da corrupção.

Diga-se logo que corrupção é algo que existe em absolutamente todos os países e lugares. Daí, quando me ponho a discutir a corrupção no Brasil, discuto – na verdade – as razões que tornam a corrupção brasileira notável. Notável pelo volume de recursos que movimenta, notável pela quase total impunidade de seus atores, notável pela leniência do povo, em geral, em relação a ela.

Pois bem: penso que esse ambiente favorável à corrupção (melhor diria: ambiente incentivador da corrupção) decorre de uma característica comum aos dois polos plasmadores da brasilidade no atual momento histórico.

Essa característica é: os dois polos em questão não têm apreço verdadeiro pela sociedade em que vivem.

O PT e suas franjas têm, programaticamente, o socialismo como horizonte. Convivem com uma sociedade capitalista apenas enquanto não têm forças para destruí-la.
Os evangélicos enxergam nossa sociedade como aquilo que eles chamam, pejorativamente, “o mundo”. Algo no qual são obrigados a viver até que possam desfrutar da vida eterna.
Diga-se, de passagem, que mesmo assim nenhum dos dois polos despreza a boa vida desta sociedade podre. A esquerda é cada vez mais caviar e os evangélicos são cada vez mais adeptos da prosperidade. Mas dispõem-se a lutar pelo pão de cada dia com quaisquer armas, uma vez que a sociedade real não lhes impõe respeito.

Daí a impetuosidade em burlar as regras de uma tal sociedade. Daí a justificativa para a voracidade predatória: afinal, ao corrompermos a sociedade nós estamos a contribuir para sua derrocada final.

A corrupção apressa o apocalipse.

Seja ele terreno ou celestial.

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