Escrevi há um mês em meu blogue
a respeito dos dois polos que considero serem os que vão modelar o
futuro do Brasil: o Partido dos Trabalhadores (PT) e suas franjas
sindicais, estudantis e intelectuais de um lado e, de outro, os
evangélicos sob a predominância ideológica dos neopentecostais.
Em primeiro lugar, saliento que o facto
da evangélica Marina Silva ter sido guindada à posição de
candidata à Presidência da República não é – necessariamente –
algo que aponte na direção da polarização de que falo. Aliás,
publiquei o texto sobre esse assunto mais de uma semana antes da
morte de Eduardo Campos. Além disso, é curioso notar que tanto
Dilma Rousseff quanto Marina Silva não são representantes “pura
gema” das duas correntes por mim mencionadas. Dilma bandeou-se para
o PT tardiamente e até hoje enfrenta um ambiente um bocadinho hostil
em seu novo partido. Marina Silva teve formação católica e só bem
mais tarde tornou-se evangélica. Também não é prata da casa.
Contudo, tenho a convicção de que,
mais adiante, a polarização que indico tornar-se-á mais nítida.
Mas ela já atua nos subterrâneos dos
costumes brasileiros. E quero, agora, colocar em relevo as razões
que levam tal polarização, por exemplo, a uma exacerbação da
corrupção.
Diga-se logo que corrupção é algo
que existe em absolutamente todos os países e lugares. Daí, quando
me ponho a discutir a corrupção no Brasil, discuto – na verdade –
as razões que tornam a corrupção brasileira notável. Notável
pelo volume de recursos que movimenta, notável pela quase total
impunidade de seus atores, notável pela leniência do povo, em
geral, em relação a ela.
Pois bem: penso que esse ambiente
favorável à corrupção (melhor diria: ambiente incentivador da
corrupção) decorre de uma característica comum aos dois polos
plasmadores da brasilidade no atual momento histórico.
Essa característica é: os dois polos
em questão não têm apreço verdadeiro pela sociedade em que vivem.
O PT e suas franjas têm,
programaticamente, o socialismo como horizonte. Convivem com uma
sociedade capitalista apenas enquanto não têm forças para
destruí-la.
Os evangélicos enxergam nossa
sociedade como aquilo que eles chamam, pejorativamente, “o mundo”.
Algo no qual são obrigados a viver até que possam desfrutar da vida
eterna.
Diga-se, de passagem, que mesmo assim
nenhum dos dois polos despreza a boa vida desta sociedade podre. A
esquerda é cada vez mais caviar e os evangélicos são cada vez mais
adeptos da prosperidade. Mas dispõem-se a lutar pelo pão de cada dia
com quaisquer armas, uma vez que a sociedade real não lhes impõe
respeito.
Daí a impetuosidade em burlar as
regras de uma tal sociedade. Daí a justificativa para a voracidade
predatória: afinal, ao corrompermos a sociedade nós estamos a
contribuir para sua derrocada final.
A corrupção apressa o apocalipse.
Seja ele terreno ou celestial.
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