quinta-feira, 9 de maio de 2013

Sobre traduções



No Antigo Testamento há um sem número de casos de nomes atribuídos a recém nascidos em função de algum evento associado ao nascimento deles.
Essa vinculação de nomes a significados relacionados aos nomeados é explícita e clara no texto original, em hebraico. Mas esse elo se perde com a tradução do texto bíblico para outras línguas.

Um bom exemplo disso consta da narrativa do nascimento de Isaac, filho de Abraão e de Sara.
A história é bem conhecida: Deus resolve conceder a maternidade a Sara quando esta já é quase centenária.
Sara, então, diz (Gênesis 21:6):
{Nota: as traduções deste versículo para o português, várias das mais difundidas, são muito ruins. Vou citar as menos fracas]
Versão católica:
Sara disse: "Deus deu-me algo de que rir; e todos aqueles que o souberem se rirão de mim."
Sociedade bíblica britânica:
Disse Sara: Deus preparou riso para mim; todo aquele que o ouvir, se rirá por minha causa.
Uma tradução melhor, ou seja, mais fiel ao original e até mais compreensível seria:
Disse Sara: Deus me fez algo risível: todos que souberem disso rirão de mim.
Ou até mesmo:
Disse Sara: Deus me fez algo risível; todos que souberem disso zombarão de mim.
Pra quem gosta de modernices, poderia ser:
Disse Sara: Deus aprontou o maior mico pra mim; quando o pessoal souber, vai me tirar o maior sarro.

Enfim, dá pra entender o sentimento de Sara. Mas o ponto aqui não é este.
A questão é que pouco antes (Gênesis 21:3) ficamos a saber que o nome dado ao garoto foi Isaac (ou Isaque).
Em português a escolha do nome parece ter sido absolutamente aleatória.
Mas não foi.
Em hebraico, “rirá” (com um sentido beirando o “zombará”) é יצחק, que se pronuncia mais ou menos assim: Itsrrac (com “r” à moda carioca ou como o “j” do espanhol).
Ora, o personagem que conhecemos como Isaque tem seu nome grafado, em hebraico, exatamente assim como consta acima.

Minha sugestão seria a de buscar-se, para esses nomes próprios, traduções que se ligassem – em português – ao evento que evocam em hebraico.
No caso de Isaque, eu proporia chamá-lo, em português, de Hilário.
Missão difícil? Claro! Quase impossível.
Ora, mas depois que conseguiram traduzir Guimarães Rosa para o alemão, tudo é possível.

1 comentário:

Unknown disse...

Bacana seu texto e as informações contidas. Aprendi, mas eu traduziria Isaque por Hilírico, já que não é dele que se riem, mas da mãe... Quanta bobagem...