No Antigo Testamento há um sem número
de casos de nomes atribuídos a recém nascidos em função de algum
evento associado ao nascimento deles.
Essa vinculação de nomes a
significados relacionados aos nomeados é explícita e clara no texto
original, em hebraico. Mas esse elo se perde com a tradução do
texto bíblico para outras línguas.
Um bom exemplo disso consta da
narrativa do nascimento de Isaac, filho de Abraão e de Sara.
A história é bem conhecida: Deus
resolve conceder a maternidade a Sara quando esta já é quase
centenária.
Sara, então, diz (Gênesis 21:6):
{Nota: as traduções deste versículo
para o português, várias das mais difundidas, são muito ruins. Vou
citar as menos fracas]
Versão católica:
Sara
disse: "Deus deu-me algo de que rir; e todos aqueles que o
souberem se rirão de mim."
Sociedade bíblica
britânica:
Disse
Sara: Deus preparou riso para mim; todo aquele que o ouvir, se rirá
por minha causa.
Uma
tradução melhor, ou seja, mais fiel ao original e até mais
compreensível seria:
Disse
Sara: Deus me fez algo risível: todos que souberem disso rirão de
mim.
Ou até mesmo:
Ou até mesmo:
Disse Sara:
Deus me fez algo risível; todos que souberem disso zombarão de mim.
Pra quem gosta de
modernices, poderia ser:
Disse Sara:
Deus aprontou o maior mico pra mim; quando o pessoal souber, vai me
tirar o maior sarro.
Enfim, dá pra
entender o sentimento de Sara. Mas o ponto aqui não é este.
A questão é que
pouco antes (Gênesis 21:3) ficamos a saber que o nome dado ao garoto
foi Isaac (ou Isaque).
Em português a
escolha do nome parece ter sido absolutamente aleatória.
Mas não foi.
Em hebraico,
“rirá” (com um sentido beirando o “zombará”) é יצחק,
que se
pronuncia mais ou menos assim: Itsrrac
(com “r” à moda carioca ou como o “j” do espanhol).
Ora,
o personagem que conhecemos como Isaque tem seu nome grafado, em
hebraico, exatamente assim como consta acima.
Minha
sugestão seria a de buscar-se, para esses nomes próprios, traduções
que se ligassem – em português – ao evento que evocam em
hebraico.
No
caso de Isaque, eu proporia chamá-lo, em português, de Hilário.
Missão
difícil? Claro! Quase impossível.
Ora,
mas depois que conseguiram traduzir Guimarães Rosa para o alemão,
tudo é possível.
1 comentário:
Bacana seu texto e as informações contidas. Aprendi, mas eu traduziria Isaque por Hilírico, já que não é dele que se riem, mas da mãe... Quanta bobagem...
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