Hoje foi um dia especial. De manhã, fomos ao mercado municipal para ver o concurso de cães de gado transmontanos.
Como ainda não comprei minha nova máquina fotográfica, meu actual sonho de consumo, aqui vai uma referência e uma foto só para ilustrar.
Quando resolvemos almoçar, nos deparámos com uma situação inusitada: não havia vaga em restaurante algum.
Por sorte, conseguimos uma mesa em O Javali, de meu homónimo, Alberto Augusto.
É que, além do concurso dos cães de gado, havia a festa da queima das fitas. Hotéis, restaurantes e sabe-se lá mais o quê, estão todos lotados com os familiares dos estudantes que comemoram a tal Queima das Fitas.
Quando eu era estudante, era avesso a comemorações desse tipo. Até me saí bem, por isso. Quando se aproximava o fim do curso de engenharia electrónica na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, meus colegas começaram a recolher contribuições para compor com as fotografias de todos o quadro dos formandos de 1.967, que ficaria exposto na entrada principal da Escola, na Cidade Universitária. Recusei-me a contribuir, por não querer aparecer no tal quadro. Não sei se fui o único entre todos os formandos. Em minha turma de electrónicos sim, fui.
Resultado: o fotógrafo sumiu com as fotos e com o dinheiro e até hoje não há quadro com a turma de 1.967 (constatei isso quando lá dei aulas no início dos anos 70).
Hoje, melhorei um bocadinho. Entendo ser pertinente comemorar as etapas todas da vida académica. E que venham mais queimas de fitas! Afinal, fazer um curso qualquer que seja, em alguma universidade, não é fácil. Exige esforço. Esforço do aluno e, o mais das vezes, da família. Comemoremos, portanto.
É certo que, graças à crise que cobre os céus de Portugal, o formando de hoje é o desempregado de amanhã. Mas paciência. Problema adiado é problema resolvido.
E, acrescente-se, os festejos da queima das fitas só faz movimentar a economia. O restaurante em que almoçámos, por exemplo, estava repleto de espanhóis.
De volta aos cães de gado: a Doga que me desculpe, mas ela não dá, em peso, nem uma pata daquela turma. Que coisa linda!
sábado, 28 de abril de 2012
sexta-feira, 27 de abril de 2012
Serviços consulares
Parece que consulados e embaixadas, mundo afora, têm especial prazer em humilhar seus utentes(/usuários).
Ontem fomos ao Porto. Mais um Ministério lá do Brasil quer que os documentos que devo enviar a ele sejam chancelados pelo Consulado brasileiro.
E não adianta argumentar que a Junta de Freguesia à qual pertenço, cá em Bragança, pode fornecer chancela muito mais pertinente do que a do Consulado. Por exemplo, um comprovativo de residência: a Junta de Freguesia da Sé, em Bragança, sabe quem sou e onde moro. No Consulado brasileiro, para fornecer-me um comprovante de residência (como se diz no Brasil) eles me exigem... o comprovativo fornecido pela Junta de Freguesia. Eles mesmos não têm a mínima ideia de onde resido.
Da última vez em que tive necessidade de solicitar tais chancelas, fui ao Consulado em horário de gente e consegui - é verdade que depois de longa espera - aquilo que buscava.
Desta vez, ao chegar pouco antes das dez da manhã ao Consulado, fui informado que as senhas já se haviam esgotado. Antes, senhas para esse tipo de procedimento não tinham limite. Agora têm. E o funcionário nos dispensa com indisfarçável sorriso de satisfação. Aquela conhecida satisfação do exercício do poder. Quando alegámos que vínhamos de longe, de Bragança, retrucou:
- Há os que vêm de Lisboa...
Ao argumentarmos que não era necessário ir de Lisboa ao Consulado do Porto (há, em Lisboa, a Embaixada do Brasil), grunhiu algo ininteligível e pronto.
Terei de voltar outro dia ao Consulado, chegar lá pelas 3 da madrugada, ficar à espera da distribuição de senhas, às oito e trinta, para - tendo sorte de ser um dos agraciados com senha - ser atendido a partir das nove.
Nada que não tenha enfrentado no Consulado português em São Paulo, nos tempos em que buscava minha dupla nacionalidade. É verdade que, hoje, o Consulado português em São Paulo está muito mais amigável e organizado do que naqueles tempos (lá por 2.002). Mas parece que o Consulado brasileiro do Porto terá de aguardar mais algumas décadas até civilizar-se.
Resolvemos, para salvar nossa ida ao Porto, ir até aos consulados de EUA e Canadá. Como queremos ir a esses países no final do ano para visitar os filhos, precisamos saber como obter visto para a Baixinha em seu passaporte brasileiro.
Eu anotara, nos sites da Internet das embaixadas desses países, os endereços dos respectivos consulados no Porto.
O do Canadá constava ficar no hotel Meridien, na Av. Boa Vista, 1.466. Quando lá chegámos, constatámos tratar-se do Hotel Tiara, no qual já ficámos algumas vezes (eles aceitam cães). O porteiro nos informou que o consulado jamais funcionou lá (penso que, ao menos, desde que o hotel passou a ser o Tiara). Mais: não há mais consulado do Canadá no Porto.
Partimos para o consulado dos EUA: av. Boa Vista, 3.523. O porteiro que nos atendeu no edifício comercial com esse número nos sugeriu que fizéssemos uma reclamação junto à embaixada dos EUA:
- Quase todo dia vêm cá pessoas à procura do consulado americano, orientadas pelo endereço que consta na Internet. Acontece que o consulado já não é aqui há mais de dez anos.
E, agora, onde fica o consulado?
- Já não há consulado dos EUA cá no Porto.
Vou acabar por concluir que embaixadas e consulados têm por função evitar que pessoas de outras plagas consigam aproximar-se dos territórios dos países que representam.
sexta-feira, 20 de abril de 2012
Jeitinho brasileiro
Quase toda a gente sabe que o Brasil pratica os juros mais altos do mundo.
Portanto, quando alguém é forçado pelas circunstâncias a utilizar-se de empréstimos bancários já pode esperar por dias difíceis pela frente.
Mas os brasileiros são dados a jeitinhos. E descobrem mil maneiras de amenizar seus infortúnios.
Aí vai um exemplo:
Lá pela década de 70 comprei um terreno em Cotia, arredores de São Paulo. Por muitas e variadas razões, o loteamento em que fica o dito cujo terreno desvalorizou-se. Como se diz no Brasil: micou.
Há uns dois anos, comecei a tentar vendê-lo. Nada. O terreno foi avaliado em 30 mil reais (uns 12 mil euros) mas ninguém se prontificava a pagar qualquer coisa semelhante para ficar com ele.
Até que no início de 2.011 lá se foi o terreno, vendido a alguém que acabou por pagar uns 34 ou 35 mil reais. Algo assim.
Quando eu já me aprontava para mudar de mala e cuia para Portugal, chegou-me o imposto anual que se deve pagar por imóveis (IPTU). Tratei de ir a Cotia para mostrar à Prefeitura que já não era mais eu o proprietário. Para fazer prova disso, passei pelo Registro de Imóveis e tirei uma Certidão. Nela constava todo o histórico de transações referentes ao terreno.
Soube, então, que o terreno que eu vendera em Janeiro fora, logo a seguir, em Fevereiro, vendido a outra pessoa. Por 150 mil reais.
Moral (?) da história: o cidadão precisa de dinheiro. Por exemplo, para tocar seu negócio. O empréstimo para aquisição de imóveis é muito mais camarada do que um empréstimo para capital de giro ou outra coisa qualquer. Evidentemente com a conivência do gerente da instituição financeira (que leva algum troco), faz-se a venda do terreno por um valor irreal, levanta-se um empréstimo no banco para esse fim e usa-se a maior parte dele para outra finalidade.
Convenhamos que é bem bolado.
segunda-feira, 16 de abril de 2012
Meus três espantos
A revista Sábado desta semana conta o seguinte:
Tão acusada é a Igreja Ortodoxa Russa de riqueza e ostentação que levou ao extremo os esforços para disfarçar os seus luxos. (...) Esta semana, a Igreja admitiu ter usado o programa de tratamento de imagem Photoshop para apagar um relógio Breguet de dezenas de milhões de euros usado pelo patriarca Kirill durante uma reunião em 2009 com o ministro da Justiça. A manobra só foi detectada quase ao fim de três anos porque um bloguista descobriu na fotografia tratada que se tinham esquecido de apagar o reflexo da mão do patriarca no tampo de vidro da mesa. Nesse reflexo, o Breguet estava no pulso. (...)
Primeiro espanto: relógio de dezenas de milhões de euros?!
Segundo espanto: o tal patriarca perdeu completamente o pudor?!
Terceiro espanto (e o maior de todos): o medo da morte é assim tão terrível que torna milhões e milhões de pessoas reféns desses escroques travestidos de sacerdotes?!
sexta-feira, 13 de abril de 2012
Bandido sim! Bicha jamais!
O cangaceiro Lampião, figura famosa na história brasileira da primeira metade do século passado, que aprontou poucas e boas pelo interior do Brasil, é apresentado como homossexual na obra Lampião o Mata Sete, de Pedro de Morais.
O juiz de Direito Aldo de Albuquerque Mello, da 7ª vara Cível de Aracaju/SE, proibiu que o livro fosse lançado. A obra sustenta a história de que o conhecido "rei do cangaço", Virgulino Ferreira da Silva, em razão de sua incapacidade de erecção, resultado do esfacelamento do saco escrotal por uma bala, mantinha um triângulo amoroso com Maria Bonita e o cangaceiro Luís Pedro.
A mim, o que surpreende - mas nem tanto - é dar-se importância ao ser ou não ser paneleiro/boiola do bandido. A opção sexual do cangaceiro não deve ter modificado em nada o sofrimento de suas vítimas.
Lá pelo final da década de 50, o jornal A Tribuna, de Santos, publicou uma série de relatos de um cangaceiro sobrevivente. Eu lia aqueles textos com a avidez compreensível em um garoto em início de adolescência. Uma das historietas de que nunca me esqueci:
Em várias fazendas, o bando de Lampião, depois de matar, de roubar o que podia, de estuprar as mulheres etc etc, deixava apenas o chefe da família em uma sala, nu, com a bolsa escrotal pregada em uma mesa por dois pregos cuidadosamente pregados para só atingirem as peles. A seu lado deixavam uma faca afiada. E partiam.
quinta-feira, 12 de abril de 2012
O maravilhoso Livro Amarelo
Essa minha natureza dócil ainda acaba comigo!
Não faz muito, escrevi o post abaixo, disposto a divergir, a terçar lanças com algum rival.
E já me vejo a escrever um post de... elogio.
Acontece que, antes de vir morar em Portugal, tanto eu quanto a Baixinha tínhamos telemóveis pré-pagos.
Em Agosto do ano passado, ao aportar definitivamente em Bragança, fomos a uma loja tmn para converter nossos telemóveis em pós-pagos. Lembrámos, então, ao atendente, que nossos telemóveis tinham créditos. Como seriam aproveitados esses créditos?
- Ora, meu senhor. Serão abatidos na(s) próxima(s) factura(s).
Muito bem.
Ao chegar a primeira factura, surpresa (nem tanto...): nada de créditos.
Lá fomos nós à mesma loja tmn (são agora chamadas de blue stores. Parece que a língua portuguesa está a tornar-se, a cada dia, mais insuficiente.).
Isso já se deu em Setembro do ano da graça de 2.011. Fizeram-nos assinar duas cartas nas quais reclamávamos o reconhecimento dos tais créditos. Meu telemóvel tinha poucos: algo em torno de 15 euros. O da Baixinha era o feliz possuidor de algo em torno de 60 euros, em créditos. Esses créditos, com seus exactos valores, constavam do sistema informático da loja.
O tempo passou e nada.
Voltámos umas 2 ou 3 vezes à mesma loja. Sempre nos diziam que era preciso aguardar.
Foi o que fizemos. Até Março deste ano.
Ao comentar o caso com uma amiga bem mais calejada de vida portuguesa, ficámos a saber:
As lojas têm a obrigação de manter Livros Amarelos (Complaint Books) à disposição de seus clientes. Feita, por escrito, uma reclamação, via Livro Amarelo, a dita cuja reclamação vai directamente para o órgão regulador da actividade correspondente. Isso não é muito divulgado.
Voltámos à mesma loja. Comecei por expor o caso à atendente e, ao ser informado de que nada constava do sistema informático da tmn, concluí por afirmar que pensava só existir uma última medida cabível: dar queixa de furto à polícia.
A atendente nem piscou. Achou tudo aquilo mero desabafo de utente insatisfeito.
Foi quando a fantástica Baixinha lembrou-se do Livro Amarelo. Só errou porque pediu o Livro Vermelho. Mas foi compreendida de pronto.
A atendente sumiu. Voltou pouco depois com a gerente. Gerente que já carregava o Livro Amarelo (que, de facto, tinha capa vermelha...). Sentimos que havíamos acertado um certeiro golpe no fígado da tmn, para usar uma metáfora do boxe.
Mas, feita a reclamação, por escrito, voltámos para casa com poucas esperanças de ter realizado algum progresso.
Dois dias depois, telefonema. Primeiro para mim.
- É da tmn. Quantos eram os créditos que o senhor tinha?
- Não me lembro, exactamente. Era algo em torno de 15 euros.
- Pois vamos creditá-lo em 15 euros.
Em seguida, telefonema para a Baixinha:
- Algo em torno de 60 a 70 euros? Pois vamos creditá-la em 60 euros.
Não é fantástico, esse Livro?
segunda-feira, 9 de abril de 2012
Viva a polêmica!
O blogueiro brasileiro Reinaldo Azevedo costuma polemizar com seus adversários por meio do que ele chama "vermelho e azul" (veja um exemplo aqui): ele vai citando fatias do texto do adversário, letras em vermelho, e comentando fatia por fatia, em azul.
Vermelho atribuído ao adversário deve ser decorrência da ojeriza que nutre por comunistas, petistas e outros clubes do gênero. Ojeriza de resto compreensível para quem, na adolescência, deixou-se encantar pela IV Internacional.
O azul reservado a seus próprios comentários deve ser homenagem a algum riacho lá de sua terra de origem: Dois Córregos.
Pois bem. Quero tornar-me também um blogueiro polêmico. Afinal, Reinaldo Azevedo, com seu combate a tantos moinhos de vento da cena política brasileira, consegue que seu blog seja lido por milhares de pessoas todos os dias. Já o meu blog se assemelha àquelas cidadecas de interior: até que por lá passam alguns viajantes. Mas sempre em busca de outras paragens.
Como não tenho a sutileza, elegância e finesse do blogueiro da revista Veja, o vermelho-e-azul dele, aqui, passará a ser o castanho-e-verde.
Os adversários em castanho para não restar dúvida de que só escrevem merda.
Meus comentários em verde, homenagem à bílis que me dá energia para escrevê-los.
Vou começar a procurar adversários.
sábado, 7 de abril de 2012
segunda-feira, 2 de abril de 2012
Salpicões e chouriças
Ainda me surpreende a enxurrada de crenças que amigos e conhecidos meus carregam vida afora.
Uns se agarram a salvadores, como aquele de Nazaré, por exemplo. Outros, menos exigentes, se satisfazem com Chico Xavier, Kardec, curandeiros e vigaristas de todo quilate. Pra não falar nos que se entregam à sanha arrecadadora das Universais, Mundiais etc etc.
E há os crentes nas salvações vindas do reino da política. Se já não é mais elegante glorificar Stalin, Lenin, Trotsky etc etc (mas ainda há muitos que o fazem), agarram-se aos que não tiveram tempo e oportunidade de mostrar a que vieram: Rosa Luxemburgo, Karl Liebknecht e outros anjinhos enterrados em caixões brancos.
Minha vinda para o nordeste trasmontano teve o mérito - mais um! - de me afastar desse mundo de crenças as mais variadas. Convivo com elas, agora, apenas por meio da internet.
Ora, dirá alguém. Trás-os-Montes é terra profundamente católica.
Sim e não, digo eu.
Aqui, de facto toda aldeia tem seu santo de estimação, respeitam-se as festas dos santos. Mas atenção! Tudo isso se efectua no mesmo diapasão das matanças, do cuidado com o fumeiro, da feitura das chouriças e dos salpicões e das alheiras, da caça ao javali e da pesca à truta.
É parte da tradição que pontua a passagem do tempo e lhe confere densidade. É parte de uma liturgia do real.
Para o trasmontano, o Além é o logo ali, depois daquele monte.
domingo, 1 de abril de 2012
Apesar da seca...
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