sexta-feira, 29 de dezembro de 2006

Matança na Zelinda


OBSERVAÇÃO PRELIMINAR: Como as fotos eram muitas e também porque algumas são fortes (no sentido de que podem agredir pessoas mais sensíveis), resolvi colocá-las aos pares. Ou seja: em cada foto, se você clicar sobre ela aparecerá outra foto. São 32 ao todo. Você verá 16. As outras 16 estão no verso, digamos assim. Os comentários referem-se às vezes às fotos aparentes, outras vezes às fotos escondidas.
Penso ter sido claro. Não me venham com reclamações. Quem não quiser ver as fotos mais fortes, não clique sobre aquelas nas quais a legenda é CUIDADO. Hoje em dia, as pessoas organizam-se para que não se matem porcos, baleias, micos-leões dourados e o scambau. Em compensação, cada vez mais, matam-se umas às outras.


Vamos ao que interessa. Os porcos são mortos no frio. Deles aproveita-se tudo. E o produto da matança serve aos habitantes das aldeias durante todo o ano seguinte.
Como o processo de matança e preparo das carnes exige o envolvimento de muitas pessoas, a matança promovida por cada família transforma-se em evento social: vários vizinhos são convidados a ajudar e recebem pequeno almoço, almoço e ceia como recompensa pela ajuda.
Ouvi dizer que se pretende proibir as matanças. Os porcos terão de ser enviados a matadouros para serem abatidos de acordo com padrões de higiene mais rígidos. Cá entre nós, duvido que se consiga, com isso, qualquer melhoria do ponto de vista sanitário. Conseguir-se-á, isso sim, matar uma tradição secular. E seremos cada vez mais civilizados. Amém.

Quando cheguei à casa de minha prima Zelinda, no sábado, 16 de dezembro de 2.006, eram nove horas, pouco mais pouco menos, e um porco já havia sido morto. Estavam a puxar para fora um segundo porco. Fotografei o momento seguinte àquele em que a facada lhe foi aplicada no pescoço. O sangue, ao jorrar, formou à sua volta uma densa fumaça. Estava muito frio e o sangue, claro, estava quente.
A foto abaixo mostra o gelo que se formou sobre as plantas e sobre a cerca. Se clicarem, verão o porco a ser abatido.

CUIDADO AO CLICAR. CENA FORTE
Enquanto as galinhas buscavam minhocas on the rocks, o porco continuava a teimar uma sobrevida. Recolhia-se dele o sangue. Este também se aproveita.

CUIDADO AO CLICAR. CENA FORTE
Um porco já descansa em paz. O outro, resiste e - quase já sem sangue - ainda dá coices.

CUIDADO AO CLICAR. CENA FORTE
Enfim, mortos os porcos, começa-se o processo de limpeza: um lança chamas à base de gás butano serve para queimar o pelo que se retira com o auxílio de enxadas e de facas. É trabalho minucioso.

Apesar de ser trabalho detalhista, é ainda feito por homens
Em certo momento da limpeza da pele, alguém percebeu que tinha sido deixado um pouco de pelo junto ao pescoço do porco. O comentário mostrou-me o orgulho que sentem aqueles homens da sua condição:
- Deixaste cá pelo. Nem pareces agricultor!

Os porcos terminam róseos, limpinhos

Continuação da limpeza dos pelos
Depois, deve-se lavar bem o porco. Antigamente, eles eram lavados junto ao rio. Agora, usa-se a mangueira ligada a uma torneira. Só que, desta vez, meu primo Alípio se deu conta de que a água congelou dentro da mangueira. Foi preciso jogar água quente dentro da mangueira para "desentupi-la".

Com um pequeno funil, joga-se água dentro da mangueira congelada. Veja no verso
Vem agora uma parte muito interessante. O porco passa por uma - digamos - lipoaspiração. Abre-se-lhe a barriga, retira-se parte da gordura.
Se você olhar a foto do verso, verá o resultado de um trabalho perfeito de proctologista: o ânus do porco é cortado, amarrado e retirado junto com o intestino. No buraco resultante dessa operação, prende-se um cordão forte (no caso, azul) que servirá para pendurar o porco em pé, preso a uma escada rústica de madeira.

Bonitinho o lacinho, né não? (vide verso)
Para levantar a escada com o porco, são necessários seis homens, ou melhor: sete. Seis para levantar o porco, um (eu) para fotografá-lo.
Começará, agora, a retirada das entranhas do dito cujo porco.

Repare que enquanto o primeiro porco a morrer já está erguido, o outro passa, ainda, pelo processo de limpeza de pele
E, agora, retiram-se os órgãos do nosso querido porco. Serão trabalhados pelas mulheres.


Elas já se aproximam com um grande pano para recolher tudo e levar a um canto para minuciosa elaboração.


Começa, aqui, o trabalho das mulheres na elaboração dos órgãos do porco.




Por fim, seis homens empregam toda sua força para transportar o porco já desprovido de boa parte de suas entranhas. O restante do trabalho continuará no dia seguinte.


Às mulheres cabe, também, o preparo do almoço.


Do almoço desfrutam - com justiça - os que trabalharam na matança e, Deus seja louvado, eu, que nada fiz, a não ser fotografar tudo para vocês.
Para que tudo ficasse perfeito, deveria cá estar meu sobrinho Kold, que fotografaria a matança muito melhor que eu.
Um dia, quem sabe, isso aconteça.
Por hora, contentem-se com o que consegui registar.

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