quinta-feira, 3 de março de 2005
De como a elite brasileira trata a plebe
Essa discussão, a meu ver absolutamente ridícula, a respeito do aumento de salário dos parlamentares brasileiros me lembra uma história dos anos setenta.
Havia, na Avenida Paulista, São Paulo, uma loja de roupas femininas dedicada à aristocracia brasileira. Digo aristocracia, porque não era qualquer novo rico que podia sentir-se à vontade lá. O local era dedicado a condessas e coisas do tipo: mulheres de sobrenomes “quatrocentões”, como se dizia naquele tempo. É claro que as esposas de presidentes – naquele tempo, generais – eram bem recebidas. Mas, entre os funcionários da loja, eram ironizadas graças à sua origem pequeno-burguesa (e, com a exceção da esposa do general Geisel, graças à avidez com que disputavam vestidos e complementos).
Pois bem. Perto da dita loja (que ocupava um casarão dos poucos restantes na Paulista) ficava a rua Augusta, naquele tempo rua de comércio voltado para a classe média.
Ocorria com alguma freqüência que uma senhora levasse sua filha casadoira a passear na rua Augusta para escolher um vestido de noiva. Esgotadas as vitrines/montras da dita rua (como todos sabem, a voracidade das mulheres por vitrines é inesgotável), a dupla partia para uma incursão pela Avenida Paulista. Logo, logo, esbarrava na loja de Madame Rosita. Exposto na vitrine, lá estava um vestido de noiva absolutamente simples na sua brancura e em seu despojamento perfeitamente elegante, como convém à aristocracia.
Mamãe ficava excitada.
- Vamos olhar esse vestido!
Entravam.
Eram atendidas por uma vendedora muito gentil. Perguntavam o preço do vestido da vitrine. A vendedora, bem treinada, informava que o vestido custava 3.000 dinheiros.
Mamãe e filhinha olhavam-se, consternadas, agradeciam e partiam. Era muito para suas posses.
Mal sabiam elas que o vestido – na verdade – custava 30.000 dinheiros.
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