domingo, 11 de fevereiro de 2007

Limites


Década de 50. Minha mãe dava aulas de matemática no Colégio Canadá, em Santos. Houve épocas em que ela chegou a dar aulas em três turnos: manhã, tarde e noite. Esse esforço era necessário porque meu pai, pastor batista, ganhava uma miséria. Estávamos ainda longe da era dos bispos e apóstolos que exploram cinicamente a crendice popular.
Vai daí, um aluno ganhou certa fama no Colégio por ter mostrado uma faca a um professor que o expulsara da sala de aula. Vejam bem: ele não enfiou faca em professor algum, nem mesmo ameaçou-o disso. Mas insinuou a possibilidade de utilizar a arma branca. Foi o que bastou para provocar um escândalo.
Pouco tempo depois, minha mãe dava aula para a turma do mesmo rapaz. A certa altura, notou que o dito cujo conversava e ria no fundo da sala. Advertiu-o. Não adiantou. A bagunça continuava. Minha mãe, então, pediu que ele se retirasse da sala. Ele não se moveu. Minha mãe foi até a carteira em que estava sentado o moço. Segurou-o pelo braço e forçou sua retirada. O rapaz, alto e forte, não ofereceu resistência. Deixou-se levar e foi embora.
Simplesmente não passava pela cabeça dele ameaçar uma senhora, de forma alguma.
Ele podia ser um aluno indisciplinado. Até mesmo desafiar um professor. Mas, diante de uma professora percebeu ter chegado a seu limite. E não reagiu.
Naquele tempo, até o mau comportamento tinha limites.
Minha mãe contou-me essa história quando, certa vez, como eu estivesse a assistir a um programa esportivo na TV, nos idos dos anos 60, ela viu que um dos participantes do programa era o rapaz que ela colocara pra fora da sala de aula.
Era Peirão de Castro, jornalista esportivo já falecido. Torcedor fanático do Santos F.C..

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