sexta-feira, 2 de junho de 2006
O livro e o blog
O livro tem uma, digamos, materialidade que o blog não tem. Tem peso, volume, cheiro. Principalmente cheiro. Que delícia, o cheiro de livros.
Certo. Isso, pra mim, é vantagem.
Há outras, claro.
Mas, na relação com o leitor, o livro é a prostituta.
Você vai ao bordel, melhor, à livraria, escolhe nas prateleiras um livro, paga por ele e o leva embora. Embora o leve, nem sempre o lê. Utiliza-se dele a seu bel prazer (eu sabia que um dia ainda conseguiria encaixar esse bel prazer em algum texto), depois o deixa em uma estante do escritório de sua casa. Ou, pior, relega o coitadinho a algum sebo empoeirado, desses do centro da cidade.
O blog não.
O blog você conhece por meio de algum amigo ou amiga que o recomenda. Ou por meio do Google, o que vem a dar no mesmo. O Google é o melhor amigo do homem na Internet. Parodiando o poetinha, o Google é o cachorro informatizado.
Estabelecido o contato, que é grátis (claro que para encontrá-lo você pagou um sistema qualquer de banda larga ou de linha discada, pagou um provedor etc e tal. Mas para encontrar-se com uma pessoa que seja um potencial relacionamento amoroso você sempre gasta algum), tudo pode acontecer: insatisfação total ou amor à leitura dos primeiros posts.
Se o caso for o último, estabelece-se uma relação duradoura. Quase todo dia você vai querer dar uma espiadinha no blog, fazer um comentário.
Aliás, essa é outra diferença fundamental. No livro, você pode, claro, escrever para o autor (se ele for vivo), por carta ou por e-mail. Mas é algo meio fora do padrão. E, além disso, algo do tipo one of a kind. Você não vai ficar a escrever ao autor toda semana.
No blog, tudo é diferente. Você pode fazer comentários todos os dias. Alguns leitores chegam a enlouquecer o blogueiro, com seus comentários. Tudo normal, aceitável.
O blog é amante. O blog é paixão, amor, relação que dura – pelo menos – mais que o tempo de uma única leitura de final de semana.
Do livro você guarda a sensação da leitura única. Essa será a que vai perdurar pelo resto da vida. A menos de uma releitura, ficção que costuma só existir em textos de críticos literários.
Do blog não. Dele você terá sensações diferentes a cada dia, mixed feelings cambiantes, com o passar do tempo. Tal como em uma relação amorosa.
Meu amigo Zezinho, do alto de sua vasta experiência, costumava dizer que a prostituição jamais acabaria. Talvez, do mesmo modo, os livros não acabem.
Mas o tempo é dos blogs.
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