segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Amantes, jornalistas e outros bichos

Esse episódio das recentes declarações da ex-amante de Fernando Henrique Cardoso me leva a pensar a respeito de alguns aspectos deontológicos do jornalismo tupiniquim.

No Brasil, os jornalistas costumam evitar a conversão de temas de alcova em matéria jornalística. 



O excelente Carlos Brickmann, por exemplo, entende ser essa atitude essencial a um jornalista:



Diz Ricardo Kotscho, grande jornalista, que foi secretário de Imprensa do presidente Lula: “Tenho por norma de conduta como jornalista não tratar da vida privada de políticos nas análises que faço (…) Limito-me a relatar e comentar fatos de interesse público”. Normalmente, discordo de todas as ideias de meu amigo Kotscho, até quanto a futebol; mas temos o mesmo conceito de jornalismo, o que muito me honra. Quem não tem esse conceito jornalista não é.

(Macaco, olha teu rabo, in Chumbo Gordo, 20/02/2016)

Foi necessário que a ex-amante botasse a boca no trombone para que os jornalistas corressem em peso a declarar que "Até o gramado do Congresso sabia da relação extraconjugal entre o senador e a jornalista." (Augusto Nunes, A ressentida e a vigarista, Direto ao Ponto, in Veja on line, 20/02/2016).

Não vou aqui discutir a validade de tal norma deontológica. Lembro apenas que não se trata de preceito universal.

Que os jornalistas brasileiros obedeçam tal orientação me parece compreensível. Apenas gostaria que deixassem de lado a corriqueira afirmação de que o distinto público está sempre em primeiro lugar. 
Afinal, nesse episódio como em muitos outros do gênero, nós - ouvintes, leitores, telespectadores, internautas - ficamos aquém da grama do Congresso. 
Somos apenas outros bichos.

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