O penúltimo capítulo de Gênesis é um deles. Jacó, antes de falecer, abençoa seus filhos.
Os Salmos, os Provérbios, Jó, os Cânticos dos Cânticos são poesia. Etc.
A poesia do Tanakh, o Velho Testamento, não possui rimas, nem métrica, no original hebraico.
Mas tem uma característica chamada de paralelismo.
Os versos guardam relações entre si que podem receber esse nome: paralelismo.
Há o paralelismo sinônimo:
"Perdoa todas as tuas faltas
Cura todos os teus males."
(Salmos 103:3)
O segundo verso é "sinônimo" do primeiro.
De algum modo repete o primeiro.
Há outros tipos de paralelismo.
Mas o que importa aqui é o paralelismo Jano.
Jano vem, aqui, do deus romano. O deus de duas caras.
Esse tipo de paralelismo é assim chamado porque há uma palavra central que tem duas acepções diferentes. Uma serve à parte inicial do poema. A outra faz sentido em relação ao final da composição poética.
Exemplo?
Cântico dos Cânticos 2:12:
הנצנים נראו בארץ עת הזמיר הגיע
וקול התור נשמע בארצנו
Isto pode ser lido mais ou menos assim:
Hanitsanim nireú baárets,
et hazamir higuiiá
vekôl hatôr nishmá beartsênu.
Pois: a palavra "zamir" que segue o artigo "ha", significa tanto "poda" quanto "canto".
Os dois primeiros versos podem ser traduzidos por:
As flores aparecem na terra,
o tempo da poda chegou.
Mas o segundo e o terceiro versos exigem outra tradução:
O tempo do canto chegou
e a voz da rola se escuta na nossa terra.
Essa não é, infelizmente, a tradução que temos para o português.
A Bíblia de Jerusalém, neste versículo, não se sai mal:
As flores florescem na terra,
o tempo da poda vem vindo,
e o canto da rola
está-se ouvindo em nosso campo.
Já a "Almeida corrigida e revisada fiel" ignora a poda:
Aparecem as flores na terra,
o tempo de cantar chega,
e a voz da rola
ouve-se em nossa terra.
Enfim, como melhor traduzir isso, de modo a levar em consideração os dois significados da palavra "zamir" e, assim, ser fiel - o mais possível - ao texto hebraico?
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