terça-feira, 1 de novembro de 2005

Imaginários


Subo na esteira (/passadeira) e começo a caminhada. Da varanda de meu quarto vejo o skyline do Morumbi, ao norte.


Ritmo constante, pensamento solto, lá vou eu, nesse passeio imaginário que a tecnologia me proporciona.
Aos poucos, a esteira se prolonga. Estou na Promenade des Anglais, Nice.


Na baía des Anges, as praias se sucedem: Galion, Ruhl, Lido, Sporting, Blue beach. Ultrapasso o Hotel Negresco. E continuo: Neptune, Forum, Voilier, Florida, Bambou, Miami, Régence. Os aviões não param de subir, descer. O aeroporto é logo ali.
Logo ali, depois da pequena ponte que me leva da margem direita do riacho ao lado de lá, à margem esquerda.


E as árvores da Promenade de la Rivière de l’Arc me protegem do sol, esse sol que enche Aix-em-Provence de luz e cores.


Agora o piso é acidentado. É preciso tomar cuidado com os seixos que se espalham pelo caminho de terra batida.
Por esse chão de terra chego até a estrada que corta Passos, estrada de asfalto da qual avisto a montanha que limita o vale. E lá no alto do monte já é Espanha.


Bem perto, pra lá dos edifícios do Morumbi. Pra lá desse horizonte recortado de prédios.


Morumbi, Nice, Aix, Passos, Espanha. Tudo real, tudo imaginário. Categorias que a navalha de Ockam há muito deveria ter destruído. Conceitos de que a filosofia se utiliza pra tentar inutilizar nossas vidas. Este skyline, estes aviões indo e vindo, esta Espanha próxima, este burburinho de água do riacho, estes ancestrais vivos na memória. Imaginários. Reais.
Aqui. Em mim.

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