segunda-feira, 30 de agosto de 2010
Calma e paixão
Estava ontem a reler o texto de uma caixinha de sumo de maracujá (observação: intelectual brasileiro jamais lê. Ele sempre relê) quando me surpreendi com o nome dessa fruta em um monte de outras línguas: passion fruit (inglês), fruit de la passion (francês), passievrucht (holandês), passionfrucht (alemão), passionfrukt (sueco).
Em primeiro lugar, apesar de eu ser o primeiro a reconhecer uma caixinha de sumo de frutas como fonte importante de cultura (e de um monte de outras coisas, a julgar pela Informação Nutricional), não se deve concluir do que foi dito acima que quem sabe alemão consegue falar tranqüilamente holandês e sueco. Devagar com o andor.
Mas o importante, a meu ver, é a brutal discrepância do nome da fruta em tudo quanto é língua (não consultei o mirandês, é verdade) e o nome da dita cuja em português.
Mais: os dicionários e a vida ensinam que a paixão nada tem de calma. E eu vivi uma já longa existência a ouvir que o maracujá é excelente calmante. Na TV brasileira já houve até um comercial, protagonizado por Juca de Oliveira, notável ator e autor teatral (na TV todos são a lesma lerda), em que ele afirmava:
- Beba Maracujina e fique calmiiiinho, calminho.
Se esse bendito comercial devesse ser vertido para, digamos, o sueco, teria de ser assim (em sueco, mas vai em português que eu não sou o Janer Cristaldo):
- Beba Paixãozina e fique arrebatado e exaltado.
(talvez em sueco até soe melhor)
O Houaiss diz que maracujá vem do tupi moroku'ya. Vá lá.
Mas por que diabos as outras línguas chamam de fruta da paixão a uma fruta que acalma?!
Algo errado
Logo ao acordar verifico que Internet, TV e telefone, viva!, funcionam.
Vou até a cozinha e o frigorífico de época que consegui comprar me arrasta para o início da década de 60, quando minha mãe me emprestou a geladeira que nos acompanhara durante anos, em Santos. Ela ia morar com minha irmã no Rio e eu instalei a geladeira no quarto da república de estudantes em que morava, em São Paulo. Como era bom, chegar à noite a meu quarto e poder fazer uma vitamina de frutas com leite fresco. Era meu jantar. Quanto aos frigoríficos, há diferenças: este é vermelho, aquele era branco. Este é Bosch, aquele era Frigidaire, se não me falha a memória (e como falha). Mas eu também mudei. E quanto.
Volto ao computador. E aprecio Diana Krall no Bic Laranja.
Ainda hoje duvido um bocadinho da existência dessa mulher. O que não me impede de apreciar sua música.
A luz do céu de Bragança está simplesmente maravilhosa.
É aí que me parece haver algo de errado em tudo isso.
Afinal, segundas-feiras não foram feitas pra deixar ninguém tão feliz.
domingo, 29 de agosto de 2010
Um domingo de mixed feelings
Fui a Passos, hoje. Almocei com Zelinda, Alípio, sua filha, genro e neta.
Não poderia ter sido melhor. Não a comida, que foi boa, mas o convívio.
Depois, fui ver Maria Tereza, fui ao café do Otavio e voltei à Zelinda, depois do Kiko me empurrar uma rifa de 20 euros para uma finalidade pra lá de nobre: um centro de convívio que será construído no terreno da escola (desativada), para permitir que os idosos façam suas refeições (pequeno almoço, almoço e jantar) lá, ou que recebam tudo isso em casa, se a locomoção já for difícil.
É a aldeia a preparar-se para o tempo final dos velhos habitantes.
Quando é que alguém vai acordar pra reavivar esses paraísos que são as aldeias trasmontanas?
Fiquei também a saber que morreu minha tia Juventina, no Brasil. Meia-irmã de meu pai. Nenhum de seus filhos ou sobrinhos dignou-se a avisar-me.
Paciência.
Voltei a Bragança e fiquei a saber que a Baixinha está com pneumonia. Já tive esse dissabor. Basta uma semana de repouso absoluto e pronto. Tudo resolvido. Só duvido que ela tenha capacidade de manter repouso absoluto por um dia que seja.
Mas tudo se resolve. Ou não.
sábado, 28 de agosto de 2010
Ainda sobre a Albufeira do Azibo
Dia destes, escrevi, aqui, sobre as praias fluviais da barragem do Azibo.
Eu não as conhecia. Aproveitei este sábado, de muito sol e calor, para ir até lá. É certo que deixei pra ir lá pras cinco da tarde. Mesmo assim, tratei de passar protetor solar nos antebraços e no rosto (o resto, devidamente coberto. Já chega minha neta, que se queimou toda, lá em Westport, e está de molho, à espera de melhoras).
De Bragança até lá são uns 25 km, pelo IP4. Mas isso é contado a partir de Bragança Sul. Como resido no extremo norte da cidade, de minha casa até lá são 40 km.Isso se faz em 20 ou 25 minutos, já que a velocidade permitida nos IP é de 110 km/h.
Vai-se pelo IP4 até encontrar-se a placa para Azibo. Entra-se, então, em uma estrada secundária bem cuidada, como podem constatar nas duas fotos abaixo:
Mas não se empolgue: vai andar apenas uns 200 metros nela e já está no Azibo.
O restante as fotos contam:
E agora, esta
Estava eu a ler a Sábado e encontro isto:
Diz ele que eram usados [blusões que tinham gola em pelúcia] pelos betos que tinham mota e provocavam tremenda inveja nos outros [...].
(Sábado, nº 330, pag. 19, in crônica de Nuno Markl)
Meu apelido de infância é Beto.
Fui ao dicionário:
beto
nome masculino e adjectivo
coloquial jovem bem comportado, geralmente um pouco presumido
presumido
adjectivo
1. vaidoso; presunçoso
2. afectado
3. que é uma hipótese; suposto; conjecturado
nome masculino
indivíduo com presunção ou vaidade
Ainda bem que pouca gente me trata por Beto.
Parece que, aqui em Portugal, Beto é o mesmo que Mauricinho, no Brasil.
sexta-feira, 27 de agosto de 2010
Minha Luta (contra a PT)
Não. Este post não se refere, a não ser como blague, ao livrinho do Adolf.
Acontece que cheguei ao Porto na quarta de manhã, depois de vôo tranqüilo (às favas, a reforma ortográfica), a não ser por uma freada um tanto abrupta na aterrissagem no aeroporto da Maia. Sozinho. A Baixinha e a Doga ficaram em São Paulo.
Duas horas e meia até Bragança. Sol a todo vapor (essa expressão faz sentido?).
Já perto de Mirandela percebi que meus antebraços estavam vermelhos. Passei a dirigir tentando deixar os braços à sombra. Ainda bem que a Baixinha meteu em minha bagagem um protetor solar que vai me socorrer. Mas só depois de chegar em casa e abrir a mala.
Por falar em casa, estava por aqui tudo direitinho. Ou melhor, quase tudo.
A TV, a Internet e o telefone (que algum dia, pra provar que sou português, vou conseguir chamar de tulufone) não funcionavam.
Ocorre que contratei a MEO, da PT. E como isto aqui é a parte mais atrasada de Portugal, nada de fibra. Isso de fibra ainda é requinte de alfacinhas. Pra deixar tudo mais claro: a qualidade da Internet, cá em Bragança, talvez seja a pior de Portugal. E é equivalente (ou pouco superior) à melhor de que se dispõe no Brasil.
Como se percebe, nós, os brasileiros, temos toda a razão quando ridicularizamos a nós, os portugueses. Segue o jogo.
Ligo, então, à PT. Isto ainda na quarta-feira. Descobrem, sabe-se lá de que modo, que o problema é externo à minha morada. Por via das dúvidas (e nem Descartes conseguiu ter tantas dúvidas), fazem o agendamento (detesto essa palavra) de uma visita técnica para o caso de o problema persistir depois da intervenção na parte externa de minha residência: será na quinta, entre 14 e 18 horas. Isso significa que ficarei preso a meu apartamento durante toda a tarde de quinta-feira. Para quem passou um bom tempo (ou terá sido mau?) em uma cela de prisão, isso não deveria constituir nenhum drama. Acontece que vim até Bragança pra resolver uma porção de probleminhas. Uma tarde trancado em casa não era exatamente o que eu tinha pedido aos deuses. E, last but not least, eu tinha de 26 a 28 anos quando fiquei sob tranca no presídio Tiradentes. Agora, sou um ancião de 65 anos que não dispõe de muito tempo pra ver a banda passar.
Como todo mundo já adivinhou, o problema não foi resolvido e a visita não deu as caras. E nem satisfação.
Toca a ligar pro tal 16200 da PT, que - registe-se - é gratuito [alô pessoal do horário eleitoral da TV brasileira: é gratúito e não gratuíto] só pra quem liga de um telefone da PT. Mas justamente por eu estar a ligar por causa da falência múltipla de órgãos de meu sistema MEO, inclua-se aí o tulufone, tive de ligar do meu telemóvel TMN. E gastei, acreditem, DEZENAS de euros. É um tal de transferir a sua ligação (muito importante para nós) para outro lugar, que chego a pensar que a ideia era promover algum tipo de gincana, com prêmios ao final.
Que foi feito? Ora, claro!, agendou-se outra visita técnica para hoje, sexta-feira, entre 14 e 18 horas.
Penso que, afinal, a PT entende não ser justo eu ter ficado dois anos trancafiado no Brasil e - cá em Portugal - passar todo o tempo livre e solto. É preciso um certo equilíbrio.
Quase às 16 horas, recebo uma simpática ligação no telemóvel. Trata-se do visitante PT. Quer vir à minha residência. Fico à beira de sentir-me lisonjeado.
Logo muda de ideia. Diz que, se calhar (os portugueses adoram essa expressão), pode resolver o problema remotamente. Pena. Quase já havia aberto o vinho com que o receberia. Para respirar.
De facto, a TV e a Internet voltam ao meu convívio.
O tulufone é que insiste em não fazer ligações.
Meu quase futuro visitante diz que vai resolver também isso.
E desaparece de cena.
Ligo à PT, reporto o problema do tulufone e me dizem que vou ser contatado para as devidas providências.
Ainda bem que amanhã é sábado. Vou passear e deixar o tulufone pra segunda.
Que me encontrem no telemóvel.
A batalha continua na segunda-feira. Ainda de manhã, vou procurar um representante Zon.
sábado, 14 de agosto de 2010
O anti-herói de Salgueirais
Li sobre ele no Diário de Notícias de hoje.
Jorge, é o nome dele.
Foi detido pela segunda vez por conduzir com uma taxa de álcool acima do permitido.
Conduzir uma carroça atrelada por um burro, diga-se.
O que dele contam seus vizinhos de aldeia é que é digno de nota:
Tem 34 anos, não sabe ler nem escrever e de leis pouco percebe.
Jorge nasceu na Velosa, uma aldeia do outro lado da serra e foi viver para os Salgueirais com uma mulher mais velha que ficou viúva e tem uma pequena pensão.
O casal são uns pilha-galinhas. Deitam a mão a tudo quanto podem.
Chega a dizer um tal de Pedro Santos:
Uma ocasião vim a casa e vou dar com ele deitado na minha cama. Veio para roubar e adormeceu.
Outros ressaltam o tanto que sofrem os animais do casal:
Têm uma cadela que é pele e osso.
O burro leva cada enxerto de porrada que mete dó.
Mas Jorge é homem de princípios rígidos:
Posso deixar de conduzir o burro, mas o vinho não deixo.
Íntegra aqui.
sexta-feira, 13 de agosto de 2010
Da série Mordam-se de inveja
A Albufeira do Azibo, no nordeste trasmontano, que tem uma praia com o maior número de bandeiras azuis na Europa, fica a menos de 30 km de casa.
E isso porque moro longe do mar.
Atualização: E, vai daí, até campeonato nacional de volei de praia vai haver lá neste final de semana.
terça-feira, 3 de agosto de 2010
Fragmentos de um discurso escatológico - 2
Em 1.968, recém formado em Engenharia, mas estudando para o vestibular de Filosofia, na USP, fui morar no centro do movimento estudantil daquela época: a R. Maria Antonia, em São Paulo. Ainda lá funcionava a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo.
Ao prestar vestibular, conheci o Eliandro, um rapaz que havia abandonado o ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica), considerado uma das três melhores escolas de engenharia do país (as três eram: POLI-USP, onde me formei, o ITA e o IME - Instituto Militar de Engenharia, no Rio de Janeiro). Era um excelente aluno no ITA, o Eliandro, mas abandonara a escola por considerá-la uma fábrica de loucos. E, como eu, resolvera fazer Filosofia na USP. Procurava um lugar para morar. Claro, convidei-o a dividir comigo o apartamento que acabara de alugar. A família dele era de Vitória, no Espírito Santo.
Graças a ele, recebíamos, nos finais de semana, a visita de vários alunos do ITA. Alguns deles tinham um hábito digno de nota. Vamos a ele:
É preciso começar por lembrar que, naquela época, (quase) todo mundo fumava. Logo, (quase) todo mundo carregava consigo um isqueiro.
Não sei o que o pessoal comia lá no ITA. O fato é que a turma peidava com uma freqüência assustadora.
Para eliminar os terríveis odores resultantes da reiterada prática, usavam o isqueiro. Bastava o indivíduo querer peidar, sacava o isqueiro, colocava-o próximo ao próprio rabo, e - ao eliminar os gases - acionava o isqueiro.
Dois eram os resultados benéficos:
1. Eliminavam-se os maus odores;
2. Provocavam-se chamas de beleza às vezes surpreendente.
Caso você ainda guarde aquele velho isqueiro, experimente.
Fragmentos de um discurso escatológico
Não sou o Barthes, mas lanço meus fragmentos.
Quando você começar a sair com aquela pessoa, não espere demais: as soon as possible, coloque a questão:
- A gente pode peidar sem problema?
Talvez a pessoa fique um tanto desconcertada. Talvez até proteste pela sua falta de romantismo.
Deixe claro:
- Meu bem, se pergunto isso é porque pretendo uma relação duradoura. E - você há de convir - não há relação duradoura sem flatulência liberada.
Pronto. Ganhou a parada.
E nunca mais use flatulência. É peido, mesmo. Se quiser ser um tanto erudito(a), prefira peidorrada.
É vernáculo.
Ah! E nada de xixi, cocô, bumbum, pum etc etc (etc pode).
Isso é linguagem de criança. Você está iniciando uma relação adulta.
Portanto, mije, cague, peide. De preferência pela bunda. Ou, como dizem os portugueses, usuários da (pen)última flor do Lácio há muito mais tempo, pelo cu.
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