terça-feira, 30 de março de 2010
São demais os perigos desta vida...
...para quem vai a um cartório.
Vinicius de Moraes que me perdoe a paródia.
É que hoje vivenciei algo, para mim, enigmático.
Uma tia minha, sem filhos, solteira, começou - há uns poucos anos - a apresentar sinais de demência.
Um primo meu, também sobrinho dela, foi com ela e comigo a um cartório para que ela nos outorgasse uma procuração para cuidarmos dos bens dela.
Não nos demos conta, na ocasião, de que a procuração nos foi dada para agirmos em conjunto.
Dia desses, meu primo foi ao banco para acertar a senha da conta bancária de nossa tia e foi alertado para o detalhe: era preciso que nós dois fôssemos juntos ao banco para podermos alterar a senha.
Ele, então, me pediu que eu fizesse uma procuração para que ele pudesse me representar nos atos referentes a nossa tia.
Fui a um cartório hoje de manhã, expliquei a situação e fui informado de que não era possível fazer a tal procuração.
- Minha senhora, disse eu, tentando ser o mais educado possível, se minha mulher e eu quisermos vender um imóvel, os dois têm de assinar a escritura, não é verdade? Se eu quiser, posso passar uma procuração para minha mulher e ela poderá passar a escritura assinando por ambos, perfeito?
A atendente concordou.
- Então, continuei, se meu primo e eu temos de praticar juntos qualquer ato referente a nossa tia, não posso passar uma procuração para que meu primo assine por ambos? Não é a mesma situação do exemplo que dei antes?
E ela, impassível:
- Não. É completamente diferente.
Não satisfeita, a atendente ainda acrescentou:
- O senhor e seu primo podem subestabelecer para uma terceira pessoa.
E eu:
- Quer dizer que podemos atribuir a qualquer um o direito de representar nossa tia. Mas esse qualquer um não pode ser meu primo.
- Isso mesmo, ela concordou.
Saí do cartório pensando em meu antigo mestre, Newton da Costa.
Tantos anos queimando pestanas pra desenvolver sua Teoria das Lógicas Inconsistentes. Bastaria visitar um cartório e bater um papinho com algum solícito atendente.
domingo, 28 de março de 2010
A propaganda e os SUV
Liga-se a TV e lá estão os valentes Pajeros saltando sobre dunas imensas, em uma paisagem desértica.
Aí o sujeito se empolga, compra um e cai naquilo: vai cedo para o trabalho, gastando mais de uma hora nas marginais Tietê ou Pinheiros a estonteantes velocidades inferiores a 30 km/hora. Final do dia muda o sentido dessa total falta de sentido. É a volta pra casa ouvindo a rádio que explica detalhadamente porque ele está parado há tempos no trânsito infernal de São Paulo.
Há pouco tempo, passei a implicar com esse tal de Tucson, da Hyundai. Tudo porque apertei o botão errado do controle do portão da garagem de meu prédio e consegui dar um peteleco no Tucson de um vizinho que saía. Isso me fez gastar uma nota alta pra pagar o conserto.
Diante do chilique que meu vizinho aprontou, resolvi investigar um pouquinho o tal Tucson.
Resultado:
Hoje mesmo, se você abrir a Folha de S.Paulo vai encontrar páginas e mais páginas de propaganda desse trambolho (aliás, não só hoje: todo santo dia).
Veja só o que afirma a tal propaganda:
Como você talvez não consiga ler as letrinhas miúdas, transcrevo:
O Tucson foi eleito o melhor SUV compacto entre todos os modelos de todas as marcas, no seu lançamento nos EUA, nos estudos de Qualidade Inicial (Initial Quality Study - IQS) realizados pelo J.D.Power, a maior autoridade mundial em pesquisas de satisfação do consumidor.
A J.D.Power, que o anúncio afirma ser a maior autoridade mundial em pesquisas etc e tal, pode ter chegado a essa conclusão na época do lançamento do Tucson nos EUA, mas hoje, se você for ao site da J.D.Power vai encontrar o seguinte:
Quanto ao tal de IQS:
Repare que eu classifiquei os veículos pela coluna de resultado global, em ordem CRESCENTE. Ou seja, o Tucson é o PIOR.
Quanto a um aspecto que eles chamam de Dependability (se você quiser saber do que se trata, clique na figura e pesquise no site. Eles explicam.):
Aqui o Tucson se saiu melhor: ficou em terceiro lugar (aqui, a classificação está em ordem DECRESCENTE).
Finalmente, o item APEAL (Automotive Performance Execution and Layout):
Neste quesito, o Tucson voltou ao último lugar.
Me parece que esses são os três itens de avaliação por categoria de automóvel. Se você quiser, visite o site clicando na figura abaixo:
Diga-se: não entendo bulhufas de automóvel, marcas, modelos, coisas assim.
Mas costumo sentir o cheiro de engodo quando tentam me enganar.
Mais: acho divertido apreciar a classe média paulistana correndo ao crediário para subir nos tais SUV asiáticos e gastar horas nos engarrafamentos de trânsito, sonhando com paisagens inóspitas do Saara.
terça-feira, 23 de março de 2010
Ads
Como todos os bairros de São Paulo, o meu também tem vários jornaizinhos e revistinhas de propagandas dos estabelecimentos comerciais da região.
Hoje, recebi um deles.
Dois anúncios chamaram minha atenção:
Um implora que você matricule seus filhos na escolinha de inglês:
Até aí, vá lá. Afinal, com três anos uma criança não tem obrigação de saber como se escreve Universidade.
Mas um outro quer me queimar vivo:
Aí já não gostei.
quarta-feira, 17 de março de 2010
Salada russa
Lula compara dissidentes cubanos a bandidos paulistas. Glauco, o cartunista, é assassinado e a gente passa a saber que ele era bispo de uma religião centrada no tal de Santo Daime. E, parece, um pouquinho de maconha.
O novo presidente toma posse no Chile e a terra não pára de tremer. Em Pernambuco, também agora se sabe, treme sempre.
Até na minha pacata Bragança, Portugal, bateu – noite dessas – um vento de uns 140 km/h.
Em meio a tudo isso, 2.010 é – para mim – o último ano de trabalho no Brasil. É verdade que comecei a trabalhar aos 15 anos. Certo que foi só um aluno particular de matemática que me forneceu meus primeiros trocados.
Trabalhar, trabalhar, mesmo, só a partir dos dezoito. Daí pra frente não parei mais. Quase cinqüenta anos. Mas, pra contar tempo para aposentadoria, ainda preciso de mais um ano pra chegar aos trinta e cinco. Foram vários anos de trabalho sem qualquer registro. Uma carteira profissional furtada, sem que eu conseguisse recuperar todos os registros contidos nela.
Além disso, houve o tempo de prisão e o tempo imediatamente posterior. Quando fui preso, era contratado pelo Instituto de Matemática e Estatística da USP (IME). Voltei a dar aulas no IME quando saí do presídio Tiradentes. Fiquei lá um ano e meio sem que ninguém se aventurasse a solicitar à Reitoria um novo contrato para mim. Claro, quem fizesse isso ficaria imediatamente queimado. Pelo crime de pedir recontratação de ex-preso político, ainda com os direitos políticos cassados por 10 anos.
Quando pedi contagem de tempo para aposentadoria na USP, me reconheceram o tempo decorrido desde o início de meu contrato até minha prisão.
Entrei com pedido, na Reitoria, para que contassem o restante do tempo. Comprovei tudo direitinho. Disseram-me que reconheceriam o tempo em que estive preso até o final de meu contrato. Quanto ao resto, deveria solicitar à tal Comissão de Anistia.
Ou seja, reconheceram que – por ter sido preso (melhor seria dizer: seqüestrado) – era justo contar o tempo em que estive preso. Bem. Só que apenas até o final de agosto de 1.972, quando venceu meu contrato.
O fato de ter ficado preso até início de 1.973 já não é problema deles. Talvez pensem que fiquei preso por gosto. Sei lá.
E depois de sair da prisão? Dei aulas, fiz cursos de pós-graduação, passei no exame de qualificação para o mestrado, trabalhei na dissertação de mestrado.
Mas, como ninguém teve coragem de sequer pedir minha recontratação (disseram que eu ficasse vivendo de bolsa do CNPq até que viesse a anistia), a Reitoria entende que não tenho direito a nada. Ou melhor, resta-me o direito de solicitar o reconhecimento desse período à Comissão de Anistia.
Fiz isso há mais de 2 anos. Meu processo continua parado no protocolo da Comissão.
Se a tal Comissão reconhecesse o ano e meio em que trabalhei sem registro (além dos últimos meses de prisão) eu já estaria aposentado.
Como já perdi a esperança de que algo aconteça saído dessa Comissão, vou aguardar o início de março de 2.011 para ir embora desse arremedo de país.
Dia desses pensei: não faz sentido ficar angustiado, à espera de que chegue março do ano que vem. Melhor é curtir este ano de trabalho pois será o último. Imagino que, uma vez aposentado, bata vez em quando uma saudadezinha do tempo em que trabalhava. Afinal, foi o que fiz quase a vida toda. Aí, poderei lembrar deste último ano e curtir meus mixed feelings: que bom estar aposentado/que bom ter trabalhado.
Eis senão quando, do nada, nossa cadelinha, ela, a Doga, aparece arrastando as patas traseiras sem poder andar.
Diagnóstico: hérnia de disco.
Depois de alguns dias tristes, com o espectro de ter de sacrificá-la a rondar nossas cabeças, hoje uma especialista garantiu que ela volta a andar em poucos dias.
Começou a fazer acupuntura e parece já demonstrar sinais tênues de recuperação.
Pode parecer incrível, mas – diante disso – tudo mais virou pano de fundo.
Pra recuperar um pouco da alegria da Doga em movimento, lá vai mais um filminho dela a brincar na neve de Bragança:
terça-feira, 9 de março de 2010
Divertimento à vista
Como tudo no Brasil anda muito chato, sugiro uma leitura divertida:
O blogueiro de Veja, Reinaldo Azevedo, e Janer Cristaldo, parece que blogueiro sem Veja, terçam lanças por Dulcinéia.
Janer chama Reinaldo de “recórter tucanopapista hidrófobo”.
Reinaldo devolve a bola com “a Criada Juliana, a louca barbuda que tem delírios eróticos comigo”.
Ambos garantem não dar a mínima bola para o outro, mas a baba que escorre dos posts os contraria.
Só pra começar, leia isto, isto e isto.
Mas há mais. É só procurar.
A menos que você seja aquele sujeito positivo da frase:
Enquanto Dom Quixote terçava lanças por Dulcinéia, esta esquentava a cama com um cavaleiro menos andante e mais positivo.
sexta-feira, 5 de março de 2010
Nudez e transparência
De uns tempos pra cá, a subprefeita da Lapa, em São Paulo, Soninha Francine, começou a se deixar fotografar nua – ou quase – por algumas revistas.
A imprensa passou, então, a cobrir o assunto (eta expressãozinha chegada a um trocadilho), sempre roçando muito de leve a questão central.
Dois exemplos:
Na coluna de Mônica Bergamo, ontem, na Folha, lê-se a certa altura da entrevista com Soninha justamente a propósito das tais fotos:
FOLHA: O prefeito Gilberto Kassab soube dessa foto?
SONINHA: Ah, não, não. Nem me ocorreu [conversar com ele sobre isso] O prefeito é meu chefe na subprefeitura, não no que mais eu faça por aí.
FOLHA: E o governador José Serra, que é seu grande conselheiro? Você o consultou? Ele viu as fotos?
SONINHA: Ah, também não. Eu consulto os amigos várias vezes quando eu tenho dúvida. Tipo: “O que você acha que eu faço?”. [Desta vez] Eu não tinha dúvidas, não consultei ninguém
(a entrevista completa aqui, para assinantes Folha ou UOL)
Na edição de 5 de março de 2.010 de seu site na Internet, Giba Um dá a seguinte nota:
Provocação
Como a subprefeita da Lapa, em São Paulo, Soninha Francine, vai aparecer seminua na seção Mulheres que Amamos, na próxima Playboy e já disse que, se for para tirar tudo, preferiria a revista Trip, onde as fotos seriam “mais artísticas”, a publicação já está acertando com ela o ensaio, com direito a uma entrevista. Aos mais íntimos, contudo, Soninha confessa: “Ele deve estar se roendo de ciúmes”. Em toda essa novela de nudez, está incluída uma legitima vendetta feminina para provocar um romance secreto.
Junte uma nota à outra e você perceberá do que todos (não) estão falando.
terça-feira, 2 de março de 2010
Buddy Green
E por falar no gênio de Crouch, aí vai Buddy Green, outro gênio, cantando do jeito que - penso - meu pai gostaria de ouvir. Suavemente:
Andrea Crouch
Dado que falei nele, aí vai um vídeo dele com voz e outro já sem ela. Gênio faz com ou sem.
No more crying there
As tragédias se repetem nos últimos dias. Nada como cantar com Cece Winans e Andrae Crouch.
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