terça-feira, 25 de novembro de 2008
De perdas
Agora à noite sentei-me pra terminar uma dose de Grappa e me dei conta: deixei meu dente lá.
Lá, no caso, é o consultório do meu dentista. Fui extrair um dente, hoje à tarde.
Terminado o trabalho, o dentista mostrou-me o dente, ensangüentado. Disse qualquer coisa sobre ter ele mais raízes do que o normal, algo assim (meu dentista é japonês de pouquíssimas palavras).
Meu deus. Quantas coisas fui perdendo ao longo da vida. Bibliotecas, uma levada pelos militares que me prenderam, outra dividida com ex-mulher, na separação.
Discos, nem se fala. Quantos foram distribuídos em razão de mudanças, ou sem razão.
Móveis, até automóveis. Perdi um sem número de coisas.
E também amigos, empregos, lugares que me eram caros.
Como fui deixar meu dente lá?!
Devia tê-lo trazido comigo. Arranjaria para ele um cantinho aconchegante, aqui em casa. Afinal, ele convive comigo (conviveu, devo dizer agora) desde a infância.
De vez em quando, ao passar por ele, daria uma piscadela cúmplice:
- E aí, companheiro?
E ele me retribuiria do alto de suas raízes já sem função, aposentadas.
Poderíamos trocar ideias. Quem sabe ele clareasse as minhas.
Prepararia para ele um lugar especial. Um nicho. Assim como fazem as pessoas com as nossas (delas) senhoras. Com os santos.
Não. Deixei-o lá. Ao abandono. Com certeza foi ao lixo. Parte de mim.
Antes de mim.
sábado, 22 de novembro de 2008
Os trapalhões
foto tirada daqui.
A já famosa Operação Satiagraha, da Polícia Federal (ou talvez seja melhor dizer: de uma das facções da Polícia Federal), envolve personagens tais como o juiz De Sanctis e o promotor De Grandis.
Com esses nomes e com as confusões que gerou, teria sido melhor chamá-la Operação Mussum.
domingo, 16 de novembro de 2008
Estatísticas indiscutíveis
Para cada motorista flagrado bêbado pelo bafômetro, em São Paulo, pouco mais de 1.000 pessoas fogem de suas casas, na Califórnia, por causa de incêndios florestais.
sexta-feira, 14 de novembro de 2008
Avaliação profissional
Em 1.974, depois de curtir um tempinho de tranca (como inquilino no Presídio Tiradentes) e depois de voltar à docência na USP e perceber que o mar ainda não estava pra peixe, resolvi – finalmente – curvar-me diante da dura realidade: fui trabalhar em empresa, em computação, única coisa que eu conhecia e que dava algum dinheiro. Foi difícil encontrar uma empresa que desse emprego a um cassado político, mas alguma coisa sempre se salva: a Promon Engenharia me contratou.
Trabalhar em empresa, como quase todo mundo sabe, tem como efeito colateral ser avaliado de tempos em tempos pelo chefe de plantão.
O meu, na época, era daquele tipo que se recebesse um memorando de um superior mandando que ele pulasse da janela do décimo andar não titubeava: pulava.
Vai daí, o sistema de avaliação adotado pela empresa naquelas priscas eras consistia em cada um – subordinado e chefe – responder a um mesmo questionário a respeito das qualidades ou defeitos do subordinado. A segunda etapa era uma reunião dos dois para comparar os resultados.
Sentei-me diante do DFL (era a sigla do meu chefe) e começamos a comparar as notas dadas por nós dois em cada quesito.
Surpreendentemente, as notas coincidiam em quase todos os itens.
A exceção era no capítulo “Capacidade de vender ideias aos outros”.
Ele me dera nota alta. Eu me atribuíra nota bem baixa.
Começamos a discutir sobre a discrepância. Por meio de alguns exemplos factuais, foi fácil convencê-lo de que eu estava certo: tinha baixa capacidade de vender ideias aos outros.
Mais do que depressa ele tratou de alterar para baixo a nota alta que me concedera.
Foi aí que observei:
- Acabamos de passar por uma situação em que demonstrei forte capacidade de convencimento do outro. Você comprou minha ideia integralmente.
A reunião acabou por aí. Até hoje não sei que nota ele finalmente adotou para esse item da minha avaliação.
domingo, 9 de novembro de 2008
A ilha engraçada
Circula na Internet um áudio, supostamente de programa ao vivo em uma rádio de São Paulo, no qual o locutor pergunta a um ouvinte, por telefone:
- Vamos ver se você acerta: nome de país com duas sílabas; uma delas se refere a algo bom para comer.
E o gaiato responde:
- Cuba!
O locutor, meio sem graça:
- Parabéns pela criatividade. Mas aqui na minha ficha consta como resposta certa “Japão”.
Pois é. Cuba permite piadas sem fim.
É verdade que tem gente que chora, quando vai lá. Tipo Zé Dirceu, por exemplo.
É verdade, também, que se o povo, lá, vive parcamente, há espertos, aqui, ganhando algum dinheirinho com o tema. Fernando Morais, por exemplo.
Agora, início da Era Obama, muita gente ressalta a presumível importância da atitude do novo presidente em relação à ilha de Fidel.
Isso me lembra um episódio lá do final da década de 80. Uma amiga minha, esquerdista habitante de Higienópolis (*), visitou Cuba. Na volta, levei-a à casa de minha mãe, que a conhecia desde pequena.
Minha família sempre teve, em política, uma queda pela direita. Afinal, são quase todos batistas. Minha amiga sabia disso.
Na conversa com minha mãe e o restante da família não parou um instante de ressaltar as virtudes de Cuba. Aquela história de sempre: saúde, educação etc etc.
No caminho de volta à casa dela, segredou:
- Elogiei bastante Cuba porque tua família é de direita. Mas a verdade é que aquilo é um favelão.
(*)tradução, para os leitores portugueses: Higienópolis está para São Paulo assim como Cascais para Portugal.
quinta-feira, 6 de novembro de 2008
De máquinas
Alguém já disse que o italiano é que é feliz: pode chamar qualquer calhambeque de macchina.
Também me parece que o italiano é o único povo que sabe torcer, na Fórmula 1: torce pela Ferrari, não pelo piloto. Ainda que o campeonato seja principalmente de pilotos.
Não entendo bulhufas de automobilismo, mas os que entendem afirmam que o carro é algo como 70 ou 80 por cento do resultado. Ao piloto, sobram parcos 20 ou 30 por cento.
Pode-se discutir esse percentual, mas todos concordam em que o determinante é a macchina.
Talvez por mera coincidência, 2008 ficará marcado pelas vitórias quase concomitantes de dois negros: Lewis Hamilton, na F-1, e Barack Obama, para a presidência dos USA.
Em ambos os casos, exaltam-se as personalidades.
Em ambos os casos, o determinante é a máquina.
quarta-feira, 5 de novembro de 2008
Deu(s) Obama
domingo, 2 de novembro de 2008
Avô coruja
Minha neta, que acaba de completar 8 anos, me manda - lá de Westport, CT, USA - uma historinha escrita por ela: A casa mal-assombrada. Tudo a propósito do Halloween.
Comecei a traduzir. Desisti logo de saída, quando me dei conta de que não conseguia encontrar, em português, uma expressão equivalente a bumpy street.
Vai em inglês, mesmo.
Ela é ótima. A história? Sim, também. Mas, claro, refiro-me à minha neta.
Confiram:
The Creepy House
By: Bruna Augusto Silvestre
(October, 2008)
“Hey Clare!” I yelled. “Hey!” She yelled back. I raced down the bumpy street to her. “Do you want to explore the old house down the street? You know, the one with the vines growing up of it,” She asked me. “I don’t know,” I whisper. I thought for a moment or two. “Ok,” I finally decided. “But it will be rough,” I told her. We scampered up the street. When we reached the house it became suddenly dark. Lightning struck. All the houses disappeared, except the old haunted one. We glared at the old creepy vines. We glanced at the green roof. “Bad color for a roof, don’t you think?” Asked Clare. “That roof is colored wood, that green thing is moss,” I answered. Soon it started to rain. We pulled on our hoods and hurried to the porch of the house. Over the porch was a wooden shield. The old, cracked doors slowly opened behind us. When we turned around shaking there was no one that could have opened the door. We looked at each other. “No turning back now,” I said in a low voice. We slowly walked in the wooden house and glanced around the dark, shadowy room. There was a cracked window in the corner, a chair was in the middle of the room, next to it was a wooden coffee table, and a staircase was in the far left hand corner. It looked about ready to fall. Next to it was a fancy doorway that led to the kitchen. We walked closer to the stair case. BOOM!!!! We jumped. The door slammed shut and startled us. We went up two steps. Creeeeeaaaaaak. The stairs creaked. Creeeeaaaaak. We were finally up there. “Ahhhh!” I screamed. “What” Clare said frightened. “Ahhhhhhhhhhhhhhhhh!” She screeched with me. Right in front of us was a ghost, a witch, and a green goblin!!! “Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!!!!!” We ran down the creaky stairs, past the coffee table, and out the door. Still screaming we ran all the way to Clare’s house. We were so frightened we flopped on the couch. “Bruna!” I opened my eyes, and found myself in my bed with my mom. “You scared me,” She whispered. “It was just a bad dream,” I said after I stopped screaming. So I closed my eyes again, and Mom left my room.
Happy Halloween
Deixem-me ir pegar um lenço. Estou babando.
:)
sábado, 1 de novembro de 2008
Ao pó voltarás
Pois é. Dizem que um dos presidenciáveis para 2.010, no Brasil, cheira adoidado.
Isso é o tipo da coisa que circula à boca pequena, jamais na grande imprensa. Também, há que se notar, não é possível denunciar sem provas. E as provas, nesses casos, são de difícil concretização.
Da mesma forma, já faz tempo que sei - de fonte pra lá de fidedigna - que um antigo governador da província de São Paulo era traficante de drogas. Digo era porque ele já morreu. E olha que o falecido é tido, até hoje, como paradigma de político.
E daí?
A vida segue. Afinal, do pó viemos.
As coisas acontecem lá
Há muitos anos, em conversa com uma colega professora, na USP, ouvi dela o seguinte comentário:
- Adoro viajar! A mim me parece que as coisas sempre acontecem lá.
Para muitos é assim: o dia-a-dia ocorre tedioso, insípido. É preciso correr para lá, para desfrutar da vida.
Pois bem. Por razões que nada têm a ver com tédio, preparo-me para ir viver em Bragança.
Vai daí que, dia destes, ao percorrer no computador fotos de meu apartamento aqui em São Paulo, no qual já moro há 10 anos, percebi que sentirei enorme saudade dele.
Paciência. Nada se ganha sem que algo se perca.
Ou não.
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