terça-feira, 19 de junho de 2007

O combinado é o combinado


Durante dez anos trabalhei em uma empresa de engenharia, a Promon.
Uma das características marcantes dos donos da empresa (empresa que, diga-se, tem um sistema acionário muito interessante mas que não vem ao caso) era – pelo menos na minha época – a fidalguia.
A começar pelo presidente da empresa: Tamas Makray.
Indivíduo que se impunha pelo mérito, não por fortuna, criou os filhos no cultivo da simplicidade. Um pouco daquilo que os americanos chamam de low profile.
Em minha primeira semana de empresa, minha mulher à época, estudante de filosofia, participava de um grupo de estudos do qual também fazia parte o Almos, filho de Tamas. Eu já o conhecia, mas não sabia nada sobre sua filiação. Em uma reunião do grupo lá em casa, minha mulher comentou com os participantes que eu começara a trabalhar na Promon. O Almos – sem perceber as conseqüências – exclamou:
- Meu pai também trabalha lá.
E minha mulher:
- Em que setor ele trabalha?
Almos, embasbacado, saiu-se com uma mentirinha:
- No setor de informática.
Para azar dele, era o setor em que eu fora trabalhar.
Quando, mais tarde, cheguei em casa, minha mulher perguntou-me:
- Em teu setor há um Tamas? É o pai do Almos.
Rimos muito, claro.
Outro diretor, o Siffert, que viria a suceder a Tamas na presidência, era de uma ironia sutil. Algumas vezes o ouvi comentar, depois de alguém fazer exposição da qual decididamente ele não gostara:
- Fico muito infeliz com o que ouvi.
Tal manifestação de infelicidade substituía o que, para diretores comuns de outras empresas, seria bem provavelmente um murro na mesa e uma carta de demissão.
No início dos anos 80, se não me engano, ascendeu à Direção Geral um engenheiro extremamente dinâmico, o Abreu.
Para o momento de crise que a empresa (e o País) vivia, Abreu foi escolhido para impor trabalho duro, disciplina.
Em seus primeiros tempos como manda-chuva publicou e distribuiu a todos os funcionários um Decálogo de sua autoria.
Não me lembro dos nove mandamentos finais. Mas o primeiro, para mim inesquecível, transformaria para bem melhor este mísero País, se adotado em larga escala:
O combinado é o combinado.
A saber: se você combinou alguma coisa com alguém, cumpra. Ponto.

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