terça-feira, 6 de outubro de 2015

Novilíngua


Ao final das legislativas portuguesas de 2015 escrevi no Facebook que os comunistas estavam a afirmar que a coligação Portugal à Frente (PàF = PSD/CDS) perdera as eleições quando – de facto – ganharam.
Diziam isso ao comparar os resultados da coligação PàF agora com os resultados da mesma coligação nas legislativas de 2011. E é verdade que, em relação a 2011, essa coligação teve menos votos, elegeu menos deputados e perdeu a maioria absoluta.
Qualquer raciocínio vale quando se quer adoçar o dissabor de uma derrota.

O defeito dessa comparação é o de relevar os quatro anos que medeiam os dois eventos eleitorais.

Em 2011 Portugal afundara em profunda crise e o governo era socialista. Sem discutir se o Partido Socialista tenha sido em algum grau responsável por tal crise, é natural esperar-se que o eleitorado corresse em grande parte para os braços da centro-direita.
O governo da coligação PSD/CDS foi um período de aplicação de medidas de austeridade, medidas altamente impopulares, mesmo que as consideremos necessárias. Isso, é claro, elevou a cotação do PS na bolsa eleitoral.
Tanto que, ao vencerem as eleições europeias de 2014, os socialistas consideraram tal vitória insuficiente (quase 32% contra menos de 28% da coligação), uma “vitoriazinha”. E defenestraram seu secretário-geral António José Seguro. Colocaram em seu lugar o autarca de Lisboa, António Costa, fadado a mostrar ao mundo o que é uma vitória de bom tamanho.

Desde que começaram as campanhas eleitorais para esta últimas legislativas, o PS quase só experimentou descidas. Já a coligação PàF ainda perdeu intenções de voto durante algum tempo, mas nos últimos meses começou a crescer e suplantou os socialistas.

A observação do gráfico das sondagens nos mostra duas grandes disputas: PS versus coligação PàF, na parte alta do gráfico; CDU (comunistas e verdes) versus Bloco de Esquerda na parte de baixo.
No final, a coligação PàF venceu o PS e o Bloco derrotou a CDU.
É pura ironia que muitos sugiram a formação de um governo de coalizão PS/CDU.
Seria unir o roto ao esfarrapado.


De resto, considerar a vitória da coligação PàF como derrota, em face dos resultados de 2.011, é comparar laranjas com parafusos.


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