No Rio de Janeiro, na
Barra, durante almoço com parentes cariocas, converso com o único
tio que me resta.
Tio que, diga-se logo,
jamais sucumbiu à separação entre realidade e fantasia. Passeia
por ambas sem perceber fronteiras, com a experiência que oitenta e
sete anos de vida lhe outorgaram.
Disse-me, à guisa de
introdução, que já nada o assombra, coisa alguma o abala.
Só enxerga o
sem-sentido à sua volta.
Para ilustrar o que
afirmava, contou-me o que presenciou há pouco :
Morreu-lhe um
conhecido. Foi ao velório prestar a última homenagem ao amigo.
Estava sentado na sala
em que se velava o corpo, quando chega um rapaz e aproxima-se do
caixão. Começa a chorar, abraça-se ao falecido e clama que era seu
desejo ser com ele enterrado, dele não queria separar-se.
O exagero da cena era
tal que meu tio deixou a sala para não se emocionar demasiado.
Esperou que o enterro
se realizasse e foi ao estacionamento buscar seu carro para voltar a
casa.
Estava a abrir a porta
do veículo quando viu o rapaz da cena do velório junto a um
automóvel vizinho. Eis que o dramático rapaz, já recomposto, acena
para outro indivíduo a pouca distância e com o polegar a fazer
sinal de positivo:
- Não se esqueça!
Amanhã, às oito, na academia, ok?
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