quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Notícias de uma viagem ao Brasil


No Rio de Janeiro, na Barra, durante almoço com parentes cariocas, converso com o único tio que me resta.
Tio que, diga-se logo, jamais sucumbiu à separação entre realidade e fantasia. Passeia por ambas sem perceber fronteiras, com a experiência que oitenta e sete anos de vida lhe outorgaram.

Disse-me, à guisa de introdução, que já nada o assombra, coisa alguma o abala.
Só enxerga o sem-sentido à sua volta.
Para ilustrar o que afirmava, contou-me o que presenciou há pouco :

Morreu-lhe um conhecido. Foi ao velório prestar a última homenagem ao amigo.
Estava sentado na sala em que se velava o corpo, quando chega um rapaz e aproxima-se do caixão. Começa a chorar, abraça-se ao falecido e clama que era seu desejo ser com ele enterrado, dele não queria separar-se.
O exagero da cena era tal que meu tio deixou a sala para não se emocionar demasiado.
Esperou que o enterro se realizasse e foi ao estacionamento buscar seu carro para voltar a casa.
Estava a abrir a porta do veículo quando viu o rapaz da cena do velório junto a um automóvel vizinho. Eis que o dramático rapaz, já recomposto, acena para outro indivíduo a pouca distância e com o polegar a fazer sinal de positivo:

- Não se esqueça! Amanhã, às oito, na academia, ok?

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