sábado, 20 de fevereiro de 2010
Convicções
Durante muitos anos fui um cara cheio de convicções. Minha irmã mais nova dizia, com razão, que eu era missionário. Aquele que assume missões. Que procura convencer todo mundo da validade de suas idéias.
Esse tempo desmanchou-se aos poucos. Restam dele alguns retalhos.
Meu pai, esse sim, era missionário.
Centrava no fundamental e deixava o acessório de lado.
Hoje, gosto mais do acessório.
Mas me fascina lembrar de meu pai, com suas idéias inabaláveis, suas convicções invencíveis. Certo que isso custava a ele meia hora por dia de “repouso”. O médico recomendou que ficasse nu (a menos de uma pudica cueca samba-canção), deitasse na cama como Cristo pregado na cruz, com a vantagem de travesseiros de apoio ao invés dos incômodos pregos que devem ter atormentado Jesus.
Isso ele fazia com religiosa assiduidade.
Não adiantou muito. Aos 55 anos um derrame fulminante na nuca acabou com ele.
Mais valia ter tomado remédios para hipertensão com regularidade.
Quanto a mim, depois de querer ter sido Billy Graham, depois de ter tentado ser Lênin, recolhi-me à minha insignificância e já tenho quase idade para ser pai de meu pai.
Chego aos 65 anos com a firme convicção de não mais possuir convicções. Será?
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