terça-feira, 31 de março de 2009
Há esperança
O país perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos, as consciências em debandada, os caracteres corrompidos. A prática da vida tem por única direcção a conveniência. Não há princípio que não seja desmentido. Não há instituição que não seja escarnecida. Ninguém se respeita. Não há nenhuma solidariedade entre os cidadãos. Ninguém crê na honestidade dos homens públicos. Alguns agiotas felizes exploram. A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia. O povo está na miséria. Os serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente. O desprezo pelas ideias aumenta em cada dia. Vivemos todos ao acaso. Perfeita, absoluta indiferença de cima a baixo! Toda a vida espiritual, intelectual, parada. O tédio invadiu todas as almas. A mocidade arrasta-se envelhecida das mesas das secretarias para as mesas dos cafés. A ruína económica cresce, cresce, cresce. As quebras sucedem-se. O pequeno comércio definha. A indústria enfraquece. A sorte dos operários é lamentável. O salário diminui. A renda também diminui. O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como inimigo.
Poucos discordarão dessa descrição dos dias atuais.
Ocorre que este trecho faz parte do primeiro número de As Farpas, de Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão. É de maio de 1.871 mas começou a ser vendido em Lisboa no mês de junho.
Então, viva!
Se tudo já era assim há 138 anos, talvez não piore antes de 2.147.
quarta-feira, 11 de março de 2009
Reflexões quase teológicas
Se houvesse um Código de Defesa do Consumidor quando Deus criou o mundo, ele teria sido obrigado - depois do primeiro pecado de Adão e Eva - a providenciar recall do ser humano.
* * * * *
Do jeito como anda deteriorada a humanidade, é capaz de já estar vencido seu prazo de validade.
domingo, 8 de março de 2009
Dia da mulher
1° Coríntios 14, 34-35: Conservem-se as mulheres caladas nas igrejas, porque não lhes é permitido falar; mas estejam submissas como também a lei o determina. Se porém, querem aprender alguma cousa, interroguem, em casa, a seus próprios maridos, porque para a mulher é vergonhoso falar na igreja.
sábado, 7 de março de 2009
Para minha neta Bruna
És a primeira filha de minha primeira filha.
Amo meus demais filhos tanto quanto amo minha primogênita.
Mas primeiro filho é primeiro filho.
Quando saí da Maternidade São Paulo, na Frei Caneca, em São Paulo, pra ir buscar em casa algumas roupas pra minha mulher logo depois de minha primogênita ter nascido e ouvi no rádio o locutor dizer:
- 28 de novembro de 1.975,
senti alguma coisa dentro de mim que jamais se reproduziu.
Não há sentimento comparável àquele que se tem com o nascimento do primeiro filho.
Vai daí, sei que tua mãe vai amar tua irmã, Isabella, tanto quanto te ama.
Mas jamais qualquer coisa poderá suplantar o teu surgimento.
Dito isso, quero que ouças esse DVD que te envio.
Ele serve pra duas coisas, ao menos:
Em primeiro lugar, as músicas que vais ouvir são – quase todas – as que passei minha infância a cantar.
Isso servirá, me parece, para que conheças melhor teu avô.
Em segundo lugar, poderás conhecer melhor a cultura do país em que vives. Essas músicas fazem parte da formação de quase todas as crianças americanas.
Teu avô é ateu. Mas, se puderes crer na mensagem que essas músicas transmitem, melhor pra ti.
Se não, se não precisares dessa muleta, enfrenta as dificuldades por tua conta, mas ouvindo boa música gospel, como eu.
Beijinhos trasmontanos do
grampa Beto
sexta-feira, 6 de março de 2009
Se crês em lúfrios,
eu te abranizo!
Acabo de criar uma religião. A Igreja Carólica da Goiabada Azeda.
Ela consiste na adoração de alguns poucos deuses, a saber: Paterson, Sonson e Holyspirson (por serem deuses brasileiros e de origem popular, seus nomes tinham de terminar em son).
Quem quiser aderir, basta acreditar neles, depositar neles toda sua esperança e fé.
Só não podes acreditar em lúfrios.
Caso incorras nesse grave pecado, eu te abranizo!
Ser abranizado é o pior castigo que se pode infligir a um fiel, na Carólica.
É óbvio que só vai ficar chateado com a abranização de quem quer que seja o sujeito que se deixar seduzir pela minha conversa mole, ou melhor, carólica.
Vai daí, não sei por que todo esse alvoroço só porque um arcebispo, ou algo assim, excomungou a mãe e a equipe médica que fez o aborto da menina de nove anos estuprada pelo padrasto.
Mesmo quando ele, o arcebispo, colocou a cereja no bolo ao afirmar que o padrasto não pode ser excomungado porque o que ele fez não permite a excomunhão, continuo sem saber para que tanto alarido.
Só é prejudicado pela tal excomunhão aquele que leva essa entidade abjeta que é a igreja católica romana a sério. E, agora digo eu, se o cidadão se sente diminuído pela excomunhão é porque a merece.
Aliás, além de excomungados, considerem-se também abranizados pela Igreja Carólica da Goiabada Azeda.
domingo, 1 de março de 2009
Questão de qualidade
Se não me engano, a Bíblia diz que quem crê recebe a vida eterna. Quem não crê, a morte.
Ao menos é o que parecem dizer estes versículos:
Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. (João 3:16)
Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus, nosso Senhor. (Romanos 6:23)
Penso não ser bem assim (blogueiro dá palpite em tudo).
Apesar das diferentes maneiras de se entender a palavra inferno, aprendi desde criança que inferno é um lugar quente pra burro onde a gente sofre muito. Acho até que vem daí meu pouco apreço pelo verão.
Pra sofrer como o diabo (sem trocadilho) é preciso estar vivo.
Portanto, a questão da salvação não se coloca como dilema entre a vida e a morte.
É tão somente uma questão de qualidade de vida.
Subscrever:
Mensagens (Atom)