sexta-feira, 13 de junho de 2008

A falseta do padre Júlio Lancelotti


Faz algum tempo, o padre Júlio Lancelotti acusou um rapaz de tentativa de extorsão. A história era novelesca: envolvia possíveis relacionamentos sexuais do padre com o acusado, utilização de muita grana de uma ONG à qual o padre é ligado para comprar automóveis de luxo pro rapaz etc etc.
Como o padre é bem relacionado (seu advogado é o inefável Luiz Eduardo Greenhalgh, deputado pelo PT, ex-advogado de presos políticos (ah! essa turma!), ex-vice-prefeito de São Paulo, às voltas com histórias de suborno por parte da empresa Lubeca etc etc), o resultado líquido do imbróglio foi:
1. Decretaram segredo de justiça no processo;
2. Prenderam os acusados (o tal rapaz, sua mulher e dois irmãos envolvidos na acusação);
Agora, passados 7 meses, soltaram o rapaz, a mulher e os irmãos e caiu sobre o caso o mais ruidoso silêncio.
Vi uma discreta notícia na Folha de S.Paulo, dia 11, agora, quarta-feira. Um trecho dela:

Vinte quilos mais magro, Anderson Marcos Batista, 26, acusado pelo Ministério Público de ser o chefe da suposta quadrilha que teria extorquido dinheiro do padre Júlio Lancelotti, 59, foi solto ontem pela Justiça após sete meses preso.
"A Justiça mostrou que sou inocente", afirmou ele ao deixar o Centro de Detenção Provisória do Belém, na zona leste.
Além dele, sua mulher, Conceição Eletério, 44, também acusada, deixou ontem a Penitenciária Feminina do Estado.
"Estou revoltada. Ficamos presos sem nunca termos sido culpados", disse ela, que pretende estudar a possibilidade de entrar com uma ação indenizatória contra o Estado.
Anteontem, outros dois acusados, os irmãos Evandro, 29, e Everson Guimarães, 27, que estavam presos com Batista, já haviam sido soltos. Os quatro foram absolvidos pelo juiz Julio Caio Farto Salles, da 31ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça. Segundo o advogado Nelson Bernardo da Costa, seus clientes "foram absolvidos por insuficiência de provas".
No ano passado, o padre Júlio, que atua na Pastoral do Povo de Rua e é um dos principais defensores dos direitos de adolescentes infratores, procurou a Polícia Civil acusando Batista e os outros três por ameaças falsas de pedofilia. Procurado, o padre não quis falar. [...]

Assinante Folha ou UOL lê a íntegra da matéria aqui.

Não faltam, na imprensa, indignados defensores do tal padre. Só pra dar um exemplo, leia aqui o panegírico esculpido por um Walter Falceta Jr., merecedor do sobrenome que carrega, autor de um Guia Sexy de São Paulo. Aliás, espero que ele, em seu Guia, não tenha esquecido de incluir o padre entre as atrações do ramo na paulicéia desvairada.

Já pra cobrar uma mísera explicação quanto ao fato de deixarem presos cinco indivíduos durante 7 meses e depois soltá-los como quem vai às goiabas, só encontrei, na imprensa, a indignação de Barbara Gancia, aqui (para assinantes Folha ou UOL). Leiam dois trechos:

Quero saber se quem mentiu no caso do padre Júlio receberá o mesmo tratamento de quem disse a verdade

Não é possível saber os pormenores do julgamento, uma vez que o processo correu em segredo de Justiça. Mas ainda há algumas dúvidas antigas por esclarecer no caso do padre Júlio Lancelotti, famoso por defender os direitos dos adolescentes, que no ano passado acusou de extorsão o ex-interno da Febem, Anderson Marcos Batista, a mulher dele, Conceição Eletério, e os irmãos Evandro e Everson Guimarães.
Detidos desde outubro de 2007, o ex-interno, a mulher e os dois irmãos acabaram absolvidos e soltos.
[...]
Quero saber se a história fica por isso mesmo. Quero saber se quem mentiu neste caso receberá o mesmo tratamento de quem disse a verdade e, enxerida que sou, quero saber também de onde vieram os tais R$ 700 mil que o padre teria dado ao antigo protegido.


Eu também.

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