O Evangelho de Mateus (27:52-53) - e só ele, entre os quatro canónicos - narra a morte de Jesus como acontecimento extraordinário ("... a terra tremeu, as pedras se fenderam, os sepulcros se abriram...").
Não à toa, Pepe Rodriguez (Mentiras Fundamentales de la Iglesia Católica, pág. 218-219) estranha a incredulidade dos apóstolos face a evento tão notável:
A inexplicável descrença dos apóstolos diante da notícia da ressurreição de Jesus se torna ainda muito mais alarmante quando lemos o testemunho de Mateus a respeito do que se seguiu à morte do messias judeu: "Jesus, dando de novo um forte grito, expirou. A cortina do templo rasgou-se de alto a baixo em duas partes, a terra tremeu e se partiram as rochas; abriram-se os túmulos e muitos corpos de santos que dormiam ressuscitaram e, saindo dos sepulcros, depois da ressurreição d'Ele, vieram à cidade santa e apareceram a muitos. O centurião e os que com ele guardavam a Jesus, vendo o terremoto e tudo quanto havia sucedido, temeram sobremaneira e diziam uns aos outros: Verdadeiramente, este era o filho de Deus..." (Mateus 27:50-54) [Rodriguez se vale da versão espanhola de Nácar-Colunga da Bíblia Sagrada (católica). A tradução acima é minha, assim como de todo o texto aqui citado de Pepe Rodriguez. Quanto a mim, utilizo a tradução para o Português do Novo Testamento, em Inglês, de Russell Norman Champlin - edição que apresenta, versículo a versículo, o original grego, sua tradução e comentários interpretativos. Champlin foi traduzido para o Português por João Marques Bentes (edição de A Voz Bíblica Brasileira, 6 volumes)].
Diante deste testemunho inspirado de Mateus só cabem duas conclusões: ou o relato é uma absoluta mentira - com o que também se converte em uma invenção o resto da história da ressurreição -, ou a humanidade dessa época apresentava o nível de cretinice mais elevado que se possa jamais conceber. Uma convulsão como a descrita não apenas teria sido a "notícia do século" em todo o vasto Império romano, mas, obviamente, teria de ter levado todo o mundo, judeus e romanos incluídos, com o sumo sacerdote e o imperador à frente, a peregrinar ante a cruz do suplício para aceitar o executado como o único e verdadeiro "Filho de Deus", tal como supostamente avaliaram, com bom tino, o centurião e seus soldados; mas, em lugar disso, ninguém se deu por achado em uma sociedade sedenta de deuses e prodígios, nem espalhou-se o pânico entre a população - máxime em uma época na qual boa parte dos judeus esperava o iminente fim dos tempos, coisa na qual também havia crido e sobre a qual predicara o próprio Jesus -, nem sequer logrou que os apóstolos suspeitassem que ali estava a ponto de ocorrer algo maravilhoso e por isso a nova da ressurreição os pilhou fora de jogo. É o cúmulo do absurdo.
Para mim, o mais interessante nessa lenda toda é a ressurreição de "muitos santos que dormiam". Pepe Rodriguez também se admira com isso:
Além disso, como não iriam chamar atenção e despertar alarme os muitos santos que, segundo Mateus, saíram de suas tumbas e passearam por Jerusalém entre seus moradores? Santos esses dos quais, por certo, não se diz quem eram (nem a razão de sua santidade), nem quem os reconheceu como tais, nem a quem apareceram (...).
Pergunto eu: quando um gajo ressuscita ele passa a viver cá na Terra eternamente? Ou voltará a morrer? Se valer esta última hipótese, então a morte não é como as mães, que são únicas.
A edição do Novo Testamento que utilizo comenta, por um lado:
A ressurreição desses santos (...) provavelmente foi permanente, embora não contemos com informações abundantes a respeito.
(observo, de passagem, que esse "embora não contemos com informações abundantes" é um dos melhores eufemismos de que já tomei conhecimento...)
O autor dos comentários não se digna a informar a razão do "provavelmente"... De resto, quanto às 6 outras ressurreições citadas na Bíblia o comentário é o de que " (...)embora provavelmente tivessem sido todas restaurações à vida física, sem a participação na vida celestial, pois as pessoas assim ressuscitadas continuaram sendo pessoas mortais.". De onde o comentarista tirou também este "provavelmente" eu não sei..
O facto é que simpatizo com a ideia de que a ressurreição daqueles santos que voltaram à vida aquando da morte de Jesus tenha dado a eles a eternidade aqui na Terra.
Por onde andarão esses seres nos dias de hoje?
Tenho alguns palpites: cá em Portugal, um deles deve ser o Mário Soares.
No Brasil, sem dúvida, está o José Sarney.
Sugeres mais alguém?
2 comentários:
Em vez de ressuscitar, seria muito mais forte a suposta manifestação de poder e divindade se "ele" não tivesse se deixado crucificar; se, mesmo crucificado, não sangrasse, não morresse e, depois de um determinado tempo, simplesmente arrancasse os cravos dos pés e das mãos, descesse da cruz (ou pulasse) e falasse para todos: "Volto já. Vou ali em casa tomar um banho. Estou há muito tempo sem me banhar."
Os Santos??? "Eles estão no meio de nós".
"No meio de nós" não é lá moralmente muito digno, porém, é assim que "reza" a lenda.
Só mesmo um português para citar como fonte séria o Pepe Rodríguez.
O pior é que ele ainda pretende fazer troça do povo que vota no Russomano e no Ratinho...
Ó raios!
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