quinta-feira, 30 de abril de 2009

Renascer em Bragança

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Diferentemente do que se conhece no Brasil, este negócio, em Bragança, tem toda probabilidade de tratar-se de empreendimento honesto.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

À beira da estrada


Li, dia desses, que a esposa de um apresentador de TV foi baleada à beira da Avenida Brasil, Rio de Janeiro. Tudo por que o casal parou para comprar uma garrafa de água de um vendedor ambulante.

Ontem, saímos de Bragança em direção ao Porto para comprar alguns móveis de varanda em Lordelo, junto a Paços de Ferreira (o lugar perfeito para se comprar móveis em Portugal. Fica a menos de 20 km do Porto e dispõe de uma infinidade de fábricas de móveis.). No caminho, parámos em uma estação de serviço à beira da auto-estrada A4, junto a Penafiel, para comermos um lanche que leváramos de casa.

O lugar é lindo e muito bem cuidado. Mesas e bancos de madeira ficam espalhados por um relvado. Como estamos na Primavera, há flores por toda parte. As casas de banho (banheiros) estão sempre impecavelmente limpas. Há restaurante e uma lanchonete na qual se toma um café delicioso.

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Enquanto devorava meu sanduíche acompanhado de um iogurte, comentei com a Baixinha: se estivéssemos no Brasil, não pararia em um lugar assim por nada.

Aqui, a Baixinha esqueceu uma caixa de lenços na casa de banho. Ao voltarmos, várias horas depois, parámos lá mais uma vez e ela recuperou a caixa de lenços, que a aguardava – intacta.

domingo, 26 de abril de 2009

Minha filha, minhas filhas


Hoje, cá de Bragança, conversei com minha filha primogênita, que mora em Westport, Connecticut, USA. Via Skype.

Contou-me que minha neta recém nascida, Isabella, está bem, mas não ganha peso como as estatísticas recomendam. Contou-me, também, que comprou uma balança e que pesa até as fraldas da pequena, para ter certeza de que a pequerrucha está a fazer todo o xixi programado pelos levantamentos estatísticos.

Lembrei a ela que, quando ela era dessa mesma idade, eu a pesava antes e depois de cada mamada. E registrava tudo em gráfico, para visualizar melhor o desenvolvimento dela. E que ela jamais ultrapassava o limite mínimo de peso. Da mesma forma que Isabella. E que deu no que deu: uma mulher maravilhosa.

Sei que tudo se repetirá, eterno retorno, e Isabella será quase tão fantástica quanto a mãe.

Igual é difícil.

sábado, 25 de abril de 2009

Problemas de fronteira


Bragança fica a uns 20 km da Espanha. Por isso mesmo, muito do que aqui se consome vem das terras espanholas. Mesmo alimentos produzidos em França têm seus rótulos escritos em espanhol e em português.
Vai daí, estava eu a beber um iogurte espanhol e resolvi ler o rótulo bilíngüe.

Além da lista de ingredientes e coisas assim, próprias de embalagens de produtos desse gênero, esbarrei na seguinte informação, primeiro em espanhol, depois em português:

Conservar entre O˚C y 8˚C

Conservar entre O˚C e 6˚C

Já não basta a esdrúxula diferença de fuso horário, que coloca sempre a Espanha uma hora adiante, mesmo em longitudes idênticas?

Temos agora um fuso térmico?

Socorro, professor Pasquale


Desde que comecei a freqüentar Portugal (já lá se vão muitos anos), chamou-me a atenção o modo de o português pronunciar a dupla “sc”. Por exemplo, “piscina”, em Portugal, é “pixina”. "Adolescente” é "adolexente” etc etc. A lista é grande. Parte dela vai aqui:

abscesso, abscissa, acrescentar, acrescer, acréscimo, adolescente, apascentar, aquiescência, aquiescer, ascender, ascensão, asceta, condescendência, consciência, cônscio, convalescer, crescente, crescer, descendência, descender, descentralização, descer, descerrar, descida, discente (que aprende), discernimento, disciplina(r), discípulo, efervescência, fascículo, fascismo, florescer, imisção (mistura), imiscível, imprescindível, intumescer, irascível, isóscele(s), miscelânea, miscigenação, nascença, nascer, néscio, obsceno, onisciência, oscilar, oscilação, piscicultura, piscina, plebiscito, prescindir, recrudescer, remanescente, reminiscência, renascença, rescindir, rescisão, ressuscitar, seiscentésimo, seiscentos, suscetível, suscitar, transcendência, víscera.

Ora. Desde quando constatei tal pronúncia, gostei. No Brasil, não há distinção de pronúncia entre “piscina” e “passeio”, por exemplo. Entendi que tal distinção era importante. “Piscina”, por exemplo, vem do latim “piscis”, peixe, e – portanto - a pronúncia diferenciada enfatiza a origem constituinte do termo.

Muito bem. Acontece que, hoje, ao saborear uma lasanha de mariscos no Gôndola, ouvi um vizinho de mesa pronunciar “seixentos”.
A partir de então, fiquei embasbacado. Afinal, seiscentos é a justaposiçào de seis e de cento. Não penso que se deveria pronunciar daquela maneira. O s e o c não formam um conjunto. O s pertence ao seis. O c a cento.

E agora?

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Diferenças entre países desenvolvidos e repúblicas bananeiras


Chegados a Bragança, fui buscar o Smart que comprámos. O funcionário da concessionária levou-me à empresa de seguros. Até aí, nada de extraordinário. Em São Paulo, sempre que compro um carro, só o retiro da concessionária depois de feito o seguro.
A pequena diferença é que – aqui – essa providência é obrigatória.
Não só é necessário circular levando consigo a Carta Verde (que faz as vezes da apólice de seguro) como há que se ter colado ao pára-brisas um pequeno selo (destacado da Carta verde) com os dados básicos do seguro.
No Brasil, fica a critério do dono do veículo fazer ou não seguro do mesmo. É pra lá de comum a pessoa levar um esbarrão de outro automóvel e ouvir a confissào do condutor desastrado:
- Não tenho como pagar.
E fica por isso.
O outro detalhe diferenciador exige uma digressão:
Há muitos anos, quando eu respondia pela área administrativa de uma empresa de insumos agrícolas, na qual os seguros eram importantes (nem tanto os de veículos; mais os relativos às fazendas da empresa) aprendi com um corretor de seguros que nos prestava serviços que, ao se fazer um seguro de automóvel, é recomendável estipular valores altos para os danos contra terceiros. No Brasil, tais danos são divididos em danos pessoais (DP) e danos materiais (DM).
Por um lado, aumentos significativos em DP e DM não implicam aumentos sensíveis no prêmio a se pagar. Por outro lado, imagine você abalroar uma Mercedes último modelo. Quanto não sairá o conserto. Pior: imagine o condutor do outro veículo (aquele que você arrebentou) ter de ficar uns 15 dias em uma UTI.
Pois bem: há anos que estipulo DM e DP em R$ 100.000,00 cada. Sempre que mudo de corretora sou obrigado a orientá-la quanto a isso. Porque a praxe, no Brasil, é qualquer coisa – no máximo – igual a R$ 10.000,00.

Pois bem. Voltemos à apólice de meu carrinho. O funcionário que me preparou os papéis do seguro foi mostrando os valores. Todos dentro do esperado. Ao chegar aos danos contra terceiros, a surpresa:
Seguro contra terceiros (e isso – disse-me – é a praxe em Portugal): 1.800.000,00 euros.

É preciso dizer mais alguma coisa?

quarta-feira, 22 de abril de 2009

A ida dos que ficaram


Pois bem. Nào tendo sido possível viajar na sexta, embarcámos no domingo.

Já na sexta, em Guarulhos, o atendente da TAP me dissera que eu teria de pagar uma multa de 100 euros para trocar a data das passagens de sábado para segunda. As passagens de Madrid ao Porto, diga-se. Mas o dito atendente informou que a multa poderia ser paga em Madrid, na segunda-feira. Eu, submisso ao princípio de que problema adiado é problema resolvido, deixei a multa para ser paga em Madrid. Até porque não senti firmeza no atendente, que encarava o monitor do computador dele com olhar de quem vislumbra um ET.

Partimos de São Paulo quase no horário. Sei lá por que ventos, chegámos a Madrid uns 45 minutos depois da hora prevista. Até aí tudo bem. Afinal, teríamos de fazer hora até o embarque para o Porto, às 12:40. E eram, apenas, 7:30.

Feita a alfândega (e eu, que temia a alfândega espanhola por minha mulher, dadas as notícias recentes sobre maus tratos a passageiros brasileiros, tive de ser esperado por ela, liberada que foi, instantaneamente, por um sonolento vigilante espanhol) fomos ao check in da TAP (depois de uns passeios por Barajas, claro, claro).
Como eu já esperava, a atendente disse-me para ir à loja da TAP, pagar a tal multa.

Para minha consternação, um muy amable rapaz informou-me: há a multa (100 euros), mais a diferença de tarifas: por insondáveis desígnios divinos, a passagem no vôo da segunda, no qual embarcaríamos, era sensivelmente mais cara que aquela de que não havíamos desfrutado no sábado, graças ao pecado original da perda do vôo São Paulo – Madrid. Resumo: havia que desembolsar 240 euros. Com o coração a sangrar, entreguei meu cartão de crédito para ser guilhotinado (debitado, para ser moderno).

Como quem vai às batatas, o dito rapaz pergunta ao funcionário a seu lado:
- Houve mesmo o vôo Madrid - Porto de sábado, 9:50?
- Não. Foi cancelado.
O muy amable devolve meu cartão de crédito e explica:
- Como o vôo que o senhor perdeu não houve, não há que cobrar multa nem diferença de tarifas. Pode embarcar.

E lá fomos nós, rumo a um ... –adivinhe! Embraer ERJ 145. Pura engenharia brasileira a serviço de nossas férias.

Eu jamais voara em um Embraer. Posso dizer que gostei. Só achei ridícula a divisão entre classe econômica e classe executiva: todos os assentos são iguais. O que separa as duas classes é uma cortininha. E, para gáudio dos que advogam facilidades para a mobilidade entre as classes, a base de sustentação da cortininha é móvel. A comissária de bordo pode colocá-la mais para a frente (e restringir os lugares disponíveis para os protegidos da sorte) ou pode deslocá-la para trás, diminuindo as desigualdades sociais. Bisbilhotando a classe executiva, constatei que as duas pessoas lá aboletadas, um ancião de ar esnobe e sua presumível esposa, sósia da rainha da Inglaterra, consumiam o mesmo sanduíche horrendo que matava a fome de nós, pobres mortais da fileira 6 em diante. Apenas o faziam em pratos de louca, enquanto nós o atacávamos a partir de bandejinhas de isopor.

Tudo isso parece apontar para o Brasil como o berço de um futuro e promissor socialismo. No bojo do qual todos lembrar-se-ào da Embraer e de seu papel preponderante na edificação da sociedade sem classes a partir da cortina flutuante de seus ERJ 145.

sábado, 18 de abril de 2009

A volta dos que não foram


Ontem, 17, era dia de partir para Bragança, no nordeste trasmontano. Desta vez, o roteiro era: Guarulhos – Madrid (pela Iberia), Madrid – Porto (pela TAP), e Porto – Bragança (de carro, alugado na Europcar).
Tudo organizadinho, bonitinho.
Apenas a dupla aqui (a Baixinha e eu) não considerou devidamente o tremendo trânsito paulistano de uma tarde de sexta-feira de um feriadão enorme (terça é feriado). E perdeu o vôo para Madrid.
Quando conseguimos que o táxi nos deixasse no embarque do aeroporto de Guarulhos já encontrámos o check in encerrado.
Toca a entrar em fila de espera para o vôo seguinte. Em vão. Tudo lotado.
Hoje, sábado: tudo igualmente lotado. Deve ser a crise.
Resultado: só poderemos partir amanhã, domingo.
E passámos a tarde de sexta-feira correndo da loja da Iberia para a loja da TAP e vice-versa. Com a enorme vantagem de fazer excelente exercício físico. Talvez propositalmente, as duas lojas ficam nos extremos opostos do aeroporto.
Finalmente, conseguimos transferir o vôo da TAP para segunda-feira, só que no vôo das 12:40 (o de hoje sairia às 9:50). Para quem tem chegada prevista a Madrid lá pelas 6:45 será uma bela oportunidade de conhecer todos os meandros do Barajas.
Ao entrar em contato agora pela manhã (pra ser exato, agora de madrugada, horário de São Paulo) com o pessoal da Europcar no Porto para explicar que precisava alterar a reserva do carro para segunda-feira, fui informado de que minha reserva continuaria viva. Não sei exatamente o que isso significa. Só espero que a tal reserva não morda.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Adriano, o Imperador


Imperador, o Nero também era.

Preparem-se. Depois da entrevista que o moço deu na tarde de hoje, a quantidade de bobagens que vamos ler/ouvir a respeito vai bater recordes.

Então, por que não colocar aqui algumas bobagens de minha autoria?

Adriano é da estirpe de Ronaldo, Ronaldinho, Robinho, Viola etc etc.
Viola, por exemplo, foi viver na Espanha e não se habituou à comida local. Chegou a alimentar-se apenas de biscoitos. Para um atleta profissional isso deve ser excelente. Aliás, pra qualquer um.
Viola sentia falta do arroz-feijão-mistura de seus tempos de favela.
Maravilha. A comida espanhola não chega aos pés de uma gororoba dessas.

Adriano vivia à beira do lago Cuomo.
Tem, com a Inter de Milão, contrato de 5 milhões de euros anuais.

Tudo bobagem. O bom é curtir os amigos em uma favela carioca.

Quando ainda não havia o fatídico politicamente correto, se alguém dizia que um fulano era louco, logo se perguntava:

- Rasga dinheiro?

Outro dito popular que me ocorre:

- Dinheiro não aceita desaforo.

Quando acabar a grana, o Imperador ficará também sem os amigos de agora.

E sentirá saudades destas paisagens do lago Cuomo:





Sobre corrupção - 3


A corrupção também nos dá suas lições. Por exemplo, ela ensina que branco e preto só tabuleiro de xadrez. De resto, há sempre zonas cinzentas. No caso, entre o legal e o ilegal. Ou, se preferir, entre o legal e o legal!

Veja o caso do auxílio moradia para os parlamentares brasileiros. Na atual avalanche de denúncias contra nossos valorosos representantes, surgiu a questão do uso do auxílio moradia (que deveria cobrir aluguel de imóvel para o parlamentar em Brasília) para pagamento de leasing de flat em hotel sofisticado.

Fui buscar no Google links sobre o assunto e encontrei vários: quase todos do início do século. A coisa é mais velha que andar pra frente.

Um deles termina citando o comentário de Gilberto Kassab, na época deputado federal, hoje prefeito de São Paulo:

"Fiz um negócio legal. Não tenho nada a esconder", afirma ele. O imóvel está registrado em nome da empresa RK Engenharia – que pertence ao próprio deputado Gilberto Kassab. Escondeu só um pouquinho.

Ora, o parlamentar recebe R$ 3.800,00 por mês para pagar aluguel de um imóvel. Em vez disso, usa o auxílio para pagar prestação do flat em que se hospeda e depois de algum tempo é dono do tal flat. Todo mundo saiu ganhando. Ou, ao menos, ninguém perdeu: o auxílio iria ser pago de qualquer forma; o parlamentar iria morar de graça mesmo; quando abandonasse o imóvel simplesmente devolveria as chaves e até logo. Ao fazer o leasing ganha o imóvel. Não é interessante?

quinta-feira, 2 de abril de 2009

De marolinhas e tsunamis


Andam querendo assustar a gente. Talvez sem intenção. Talvez apenas porque assim vendam mais jornais.
Mas, nesse aspecto, sou mais Lula: a situação está mais pra marolinha.

As manchetes são sempre do tipo:

INDÚSTRIA DA GOIABADA NÃO DEMITIA TANTOS DESDE 2.001

Os olhos do leitor se arregalam. Já se sente desempregado, apesar de não trabalhar em nada parecido com fábrica de goiabada.
Ocorre que, bem lida, essa frase pode ser reescrita assim:

AGORINHA MESMO, EM 2.001, INDÚSTRIA DA GOIABADA DEMITIU TANTO OU MAIS QUE ESTA SEMANA.

Ora, se sobrevivi a 2.001, até com alguma galhardia, qual o problema? Sobreviverei também a 2.009. Se não eu, ao menos a indústria da goiabada.

É verdade que, volta e meia, surge alguma manchete um tanto mais assustadora:

PRODUÇÃO DE PICOLÉS DE COCO ATINGE SEU NÍVEL MAIS BAIXO DESDE 1.944.

Epa! Agora complicou um pouco. Nasci em 1.945. De sorte que acabo de ser informado de que jamais, durante a minha já exageradamente longa existência, produziram-se tão poucos picolés de coco. Aqueles que na minha infância a Kibon chamava de Jajá.

Mas, pensando bem, nem essa manchete é tão terrível. Mesmo com uma oferta pequena de Jajás, sob o calorão reinante em Santos, meu pai e minha mãe não desistiram de me fabricar.

E cá estou eu. Com ou sem picolés de coco.

Sobre corrupção - 2


Como vimos na primeira lição, a corrupção não é pra qualquer um. É pra quem tem talento.
Mas o povão se esforça pra se mostrar digno dela.
Você conhece alguém que passe escritura de imóvel pelo valor real da transação?
Eu conheci um: meu pai.
Ele cometeu esse deslize e pagou caro por isso. Os fiscais passaram lá em casa e descobriram alguns pelos em ovo para multá-lo (década de 50, século passado).
Quem mandou querer ser diferente, não é mesmo?
Outro dia, em entrevista a Marília Gabriela, Eduardo Giannetti lembrou episódio vivido por ele: alunos seus participaram de passeata exigindo ética na política. Dias depois, durante prova, tentaram colar adoidado.
Pois é.

Como costumava dizer minha mãe:
- Todo mundo é muito honesto mas meu capote sumiu.

Nossos políticos são corruptos? Claro.
Mas continuarão a ser eleitos porque o pessoal prefere votar em corrupto. O eleitor raciocina: quem sabe esse cara me descola alguma boquinha.
Aliás, esse raciocínio já é tão generalizado que gente honesta (ou cagona) nem se candidata.

Com isso, podemos unir estas novas reflexões às da primeira lição:

Todo mundo procura ser corrupto. Se só consegue praticar as pequenas corrupções do cotidiano, paciência. Fica nisso. Omite alguns rendimentos na declaração de imposto de renda. Se é um mísero assalariado e essa omissão não é possível, trata de inflar as despesas médicas, incluir dependentes inexistentes ou não permitidos etc etc.

Chateado por não poder praticar corrupções de vulto, vota em camaradas que façam isso por ele.

Em resumo, concluímos que todo mundo comete seus pecadilhos. Os talentosos partem pra pecados capitais. Os demais ou se contentam em admirar os bem sucedidos ou desabafam fazendo a apologia da virtude.

Qualquer hora destas, terceira aula.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Sobre corrupção - 1


É. Começo com “1” porque acho que vou escrever vários posts sobre isso.
Mas vamos devagar.
Por enquanto, vou ressaltar apenas um aspecto da corrupção:

A corrupção exige talento do corrupto.

Pode reparar. Todo mundo (todo mundo, em termos. Só o pessoal pequeno burguês ressentido que escreve pra jornais, faz comentários em blogs, manda e-mails pra meio mundo etc), todo mundo, como eu dizia, fala cobras e lagartos contra a corrupção. É sempre aquilo de “assim não é possível”, “que falta de vergonha” etc etc.

Acontece que – esses mesmos caras – se pudessem, seriam corruptos. Com uma honrosa exceção: a dos cagões. É.

Há muita gente que não pratica corrupção porque se caga de medo.

Então, chegamos a uma brilhante taxonomia: há os corruptos, os cagões e alguns poucos loucos desvairados.

Entre os corruptos, há toda uma subdivisão. Mas, por hora, ficaremos com os cagões.

Esses, ou realmente têm um medo imenso de serem repreendidos pelo sistema ou – simplesmente – não se corrompem por falta de talento para tanto.

Pois é isso: ser corrupto não é pra qualquer um. Tem gente que, ao criticar algum corrupto exposto à execração pública, afirma coisas tais como:

- Assim até eu! Roubando desse jeito!

Acontece que se você conseguisse colocar o tal crítico em situação de poder corromper-se, na grande maioria dos casos ele não conseguiria consumar o ato de corrupção.

Corromper-se exige engenho e arte.

E isso, essa verdade simples e elementar, jamais será acatada por um moralista.

A primeira lição acaba aqui. O aprendizado tem de ser lento. Afinal, a contra informação é gigantesca e esmagadora.