No contexto agrário (*) típico da época do nascimento de Jesus, surgiu a imagem popularizada pelos presépios: o boi e o asno a adorar e a acalentar o menino Jesus, deitado na manjedoura.
Mas essa imagem, tão cara à ICAR, não aparece descrita em nenhum dos evangelhos canónicos... A história do Natal, do modo como a conhecemos até hoje, consta do evangelho apócrifo pseudo-Mateus (capítulo 14).
A tradição dos animais adoradores e/ou auxiliadores de personagens extraordinários, nós a encontramos também em todas as culturas anteriores ao cristianismo.
(Pepe Rodríguez, op. cit., p. 145)
Desde Rómulo e Remo, alimentados por uma loba, até as lendas espalhadas por toda a Ásia, que reproduzem tradições antiquíssimas como as de Tchu-Mong (Coreia), Tong-Ming (Manchúria) ou Heu-tsi (China).
Deste último, por exemplo, conta-se que "sua doce mãe o trouxe ao mundo em um pequeno estábulo à margem do caminho; os bois e cordeiros o acalentaram com sua respiração. Foram até ele os habitantes dos bosques, apesar do rigor do frio, e as aves voaram até o pequenino para cobri-lo com suas asas".
(idem, ibidem)
É muito provável que esse tipo de lendas tenha se desenvolvido a partir do costume ancestral, esse sim real e estendido por todo o planeta, de expor os recém nascidos que se supunham ilegítimos aos animais selvagens ou domésticos ou às águas abertas (rios ou mares).
(...)
Nos casos em que o recém nascido sobrevivia à "exposição" aos animais selvagens ou à água e ocorria a circunstância de que o pai não havia podido manter de nenhuma maneira relações sexuais com a mãe (por estar - o pai - a navegar ou em guerra, por exemplo), considerava-se que a criatura havia sido engendrada por algum deus, declaração que devolvia a paz à família e enchia de orgulho ao pai cornudo pela graça de Deus. Em muitos povos do sudeste asiático perdurou até há apenas dois séculos o costume de matar toda mulher grávida de um homem desconhecido... salvo se a mãe anunciasse que o pai havia sido um deus ou um espírito, caso no qual era felicitada por todos seus vizinhos."
(idem, p. 146)
(*) agrário ou pagão. O termo latino paganus significa de aldeia, do campo. Pagus é aldeia. (cf. Félix Gaffiot, Dictionnaire Illustré Latin - Français, Librairie Hachette, 1.934)
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