Estava eu no 2º ano do curso primário. Tinha 7 anos. Ia a pé para o grupo: Grupo Escolar Visconde de São Leopoldo, em Santos.
Surgiu, naqueles tempos, um álbum de figurinhas (em Portugal se diz álbum de cromos [*]). Cada página trazia um dos times de futebol que disputavam o Campeonato Paulista (não havia, ainda, o campeonato brasileiro de clubes). Havia, como em todos os álbuns da época, as figurinhas carimbadas, mais difíceis de aparecerem nas balas [**] nas quais vinham as figurinhas. Sim, elas vinham enroladas em balas. Umas balas horrorosas, mas quem se importava?
Nesse álbum a que me refiro surgiu uma inovação: a figurinha substitutiva. Ela trazia a foto de algum estádio de futebol ou algo assim. Já não me lembro bem. O importante é que ela servia para substituir qualquer figurinha que faltasse em uma página. Não me lembro, também, se uma substitutiva podia ser usada em qualquer página ou se havia uma substitutiva para cada página.
Meu álbum era um tanto rarefeito de figurinhas porque meus recursos, digamos assim, eram pra lá de escassos.
Num belo dia (e põe belo nisso) minha tia Carola, que nos visitava, me deu uma pequena fortuna (de meu ponto de vista, claro) para que eu gastasse como quisesse. Fui ao bar da esquina e comprei tudo em balas de figurinhas. Primeira consequência: meu álbum encheu-se de cores. Segunda: meu bolo de figurinhas repetidas, usadas para trocas na escola, engordou significativamente. Terceira consequência, não necessária mas maravilhosa: consegui uma substitutiva!
O prazer que senti ao me ver possuidor de nada menos que uma substitutiva foi maior do que o prazer de muitos orgasmos que tive ao longo da vida.
Dia seguinte, no caminho para a escola, fui negociando com os colegas que encontrava. Como sempre, cada um consultava o bolo de figurinhas para troca do outro e verificava quais lhe interessavam. As trocas eram realizadas enquanto se caminhava.
Nesse dia eu tinha um trunfo inesperado. Anunciei que era o possuidor de uma substitutiva. Um dos colegas se mostrou mais interessado e ofereceu, sei lá, 20 figurinhas em troca. Pedi, digamos, 60. Fechamos, penso que foi isso, em 40.
Ao chegar em casa, depois das aulas, contei a minha irmã Léa a fantástica troca que fizera. Ela quase cometeu fratricídio.
O estrago já estava feito.
Mas terá sido realmente um estrago? Claro que me faltam dados mais precisos sobre o álbum, coisa e tal.
Mesmo que os tivesse, meus conhecimentos de cálculo de probabilidades não seriam suficientes para calcular quantas figurinhas comuns equivaleriam a uma substitutiva.
Vou morrer com essa dúvida.
Actualização (29/10/2012): Segundo me informa o Bic Laranja, nos comentários,
[*] em Portugal diz-se caderneta de cromos.
[**] E as balas são rebuçados.
2 comentários:
nunca curti os álbuns de figurinhas de futebol. Em compensação, sempre que foi possível, comprava balinhas horrorosas só porque vinham com um anel de "rubi" ou "esmeralda" dentro! Criança é presa fácil, né? Pensando melhor, não só criança ;D
bjs
Caderneta de cromos, não álbum. Balas são rebuçados.
Isso da figurinha substitutiva nunca vi por cá. Não creio que houvesse.
Também tenho uma historieta de infância com o Tonito e uma uma quantidade imensa de cromos do Espaço 1999. Um dia o Beto, o Tonito e eu achámos uma carteira perdida com 100$00. O Beto, que era mais velho, decidiu que a escondêssemos até ao dia seguinte, não fosse aparecer-nos diante o dono dela. A manha dele era outra; teve-a o Tonito (eu era ingènuamente crédulo) e antecipou-se-lhe. Mas não teve maior engenho para gastar a "grana" senão em cromos do Espaço. Lembro-me de o Beto raivoso quando se viu enganado lhe dar uns safanões e de o Tonito lhe ter dados mais de metade dos cromos para se livrar de apanhar mais na corneta (= tomar porrada na cabeça, ou simplesmente comer nos cornos).
Cumpts.
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