sábado, 13 de outubro de 2012

Comentário da Maray

A Maray, do blog Che Caribe, fez o comentário abaixo sobre meu post A Carta de Genoíno. Resolvi publicá-lo como post, pois acho o testemunho dela muito valioso. Ao final, comento o comentário dela:

Vou discordar, Alberto. Bronca não é ferramenta de otário. Bronca é discordar e como já dizia aquele: a unanimidade é burra...
Genoíno, que eu também conheci muito bem, chegando a trabalhar com ele e fazer inúmeras campanhas é um sujeito sério. Messiânico, talvez, vaidoso por vezes. Porque além daquela vaidade feminina dos adornos, existe a vaidade política, daqueles que adoram aparecer nos jornais, nas entrevistas. Fernando Henrique é outro. Mas Genoíno é um cara sério. Com ele aprendi, mais do que com qualquer outra pessoa, a respeitar idéias diferentes. Eu nunca fui a favor de luta armada, não engolia o centralismo democrático, adorava o livre arbítrio ( ainda adoro), era, enfim, uma militante pouco intelectualizada, sem paciência pra ler todos os Lenin e Marx que deveria, uma ovelha cinzenta, já que nem negra jamais fui. Mas ia com ele, muitas vezes servindo de motorista, nas reuniões de bairros distantes, pelo interior e via como ele tratava e falava com as pessoas. E aprendia.
O Genoíno era capaz de discutir política com Curió e Erasmo Dias, tentando trazer as coisas pro nível do humano e do direito. O Genoíno é um cara assim.
Mas é também o cara que acha que questões financeiras são questões menores, o cara que diz só gostar da "grande política", esquecendo-se que não existe grande política sem as pequenas ações.
Naquela época, em que eu militava ele dizia que os fins jamais justificam os meios. Acho que ele não pensa mais assim. Mas ele é um cara sério. A ser respeitado como ser político. Que errou e pagou pelo seu erro de "acomchambrar" ( para usar a gíria da época) com os corruptos, com os que usam de meios espúrios pra chegar e manter o poder. E quem fecha os olhos pra essas coisas, saí chamuscado e muito. A avestruz que enterra a cabeça na areia, nem por isso deixa de ser atropelada pelo caminhão.
Ele está ressentido, como se estivessem chamando-o de ladrão no nível pessoal, coisa que ele nunca foi. É talvez o político de destaque mais "pobre" que conheço.
Mas, na minha opinião, bem modesta, é verdade, não existe nível pessoal e nível político. O homem é uma coisa só.
O Genoíno é um cara sério, que errou feio, mas continua pra mim sendo um cara sério.
Tem a minha eterna gratidão, de companheira, de aprendiz, de amiga.
E este julgamento acredito ser didático. Espero que as coisas melhorem daqui pra frente.
Desde que as pessoas entendam que política é como a vida: a gente erra, a gente faz cagada, mas a gente tem que ter ética sempre.
Acho o Genoíno um cara ético que se afastou de caminhos que ele mesmo me ensinou a trilhar.
Porque, como já disse várias vezes, apesar de tudo, ele é um cara sério.

PS: desculpe o longo comentário, mas vc tb é meu amigo e saberá entender esta minha necessidade.



Maray: em nenhum momento eu afirmei que Genoíno não é um sujeito sério, seja lá o que seja isso. Apenas quis dizer que o facto de ele ter sido condenado não o autoriza a achincalhar o STF e a produzir uma enxurrada de mentiras para justificar a proclamação de sua inocência. Ele perdeu o jogo. Paciência. Se é um homem sério, deveria aceitar a derrota com dignidade. E não dizer que foi condenado graças à teoria do domínio funcional do fato, que "nessas paragens de teorias mal-digeridas se transformou na tirania da hipótese pré-estabelecida". Ora, não sou nem bacharel em direito mas assisti ao julgamento. Não creio que Genoíno tenha nível intelectual para chamar os juízes do STF de levianos e ignorantes. Aliás, ele convenientemente se esquece que o próprio ministro Dias Tofolli, ex advogado do Partido que ele, Genoíno, presidia, o condenou.

Continua Genoíno: "Sem provas para me condenar, basearam-se na circunstância de eu ter sido presidente do PT". Ora, ora. Ele, "na circunstância de presidente do PT" assinou contratos de empréstimo comprovadamente fraudulentos e suas prorrogações. Que provas seriam necessárias além dessas (mesmo assim, diga-se, há várias outras)? Curioso: José Dirceu não queria ser condenado por nunca ter assinado nada. O Genoíno também não queria ser condenado apesar de ter assinado tudo...

Quanto ao património modesto que ele diz possuir, trata-se de um problema de administração familiar. O facto é que, durante uns 20 anos ele, como deputado federal brasileiro, usufruiu de um dos maiores rendimentos pagos a políticos em todo o mundo. Se ele destinou boa parte dessa grana para benemerência, louvado seja. Mas ninguém tem culpa disso. Além da questão de que ele foi condenado por corrupção activa...

De resto, tudo que ele diz sobre a "campanha de ódio contra o meu partido" é a lengalenga petista de sempre. Previsível mas nem por isso menos lastimável.

Em suma, Maray: Genoíno praticou alguns actos capitulados no Código Penal brasileiro e foi condenado por isso. Condenado tendo todo o direito de defesa e em decisão fortemente fundamentada. Em processo do qual participaram dez juízes, oito dos quais indicados por Lula ou Dilma.

Penso que ele teria duas atitudes possíveis: acatar a decisão calado ou deixar o país. Afinal, o bom cabrito não berra mas pode empreender fuga ao sentir-se perseguido.

Quanto a seu testemunho, penso que ele contribui - e muito - para formar-se um quadro da personalidade inteira do homem Genoíno, com seus méritos e com suas culpas.

Obrigado por isso.

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