Conheci José Genoíno nos idos de 1.970. Eu tinha vida dupla: era professor do Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo (IME-USP) e, paralelamente, presidente do Centro Acadêmico da Faculdade de Filosofia da USP, isso em função de ser aluno do curso de Filosofia, ou, para ser mais exato, por ser militante do Partido Operário Comunista (POC).
Genoíno era, em parceria com Honestino (posteriormente, ao que consta, assassinado pela ditadura), dirigente da União Nacional dos Estudantes (UNE). A dupla corporificava, na presidência da UNE, a coligação PCdoB – AP (Partido Comunista do Brasil e Ação Popular).
Quanto a Honestino, eu o vi poucas vezes. Com Genuíno interagi um bocadinho mais. Ele me parecia um indivíduo de baixíssimo nível intelectual e de visão política nada acima do populismo mais rasteiro.
Pouco mais adiante, ele seguiu para a guerrilha do Araguaia, da qual resultou sua prisão.
Quanto a mim, fui também parar na prisão, mesmo sem ter ido a guerrilha alguma...
Anos mais tarde, Genoíno, já no Partido dos Trabalhadores (PT), candidatou-se a deputado. Foi eleito. E me deixou bastante impressionado pelo que me pareceu ser uma evolução política enorme.
Passei a votar nele nas várias eleições seguintes.
Aliás, durante muitos anos fui adepto daquela teoria que afirma que o poder é um violino: pega-se com a esquerda e toca-se com a direita. Eu costumava votar nos partidos mais à direita, no espectro político brasileiro, para os cargos executivos. E votava no pessoal mais à esquerda para os cargos legislativos. Meu raciocínio era o de que os primeiros – na maioria das vezes – sabiam governar. E os segundos era úteis no papel de críticos dos primeiros. Foi durante esse período que votei várias vezes em Genoíno.
Mais tarde passei a anular todos os votos, sistematicamente.
Genoíno, agora, foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por corrupção ativa e pode ainda acumular a condenação por formação de quadrilha.
Diante desse quadro, apresentou à nação uma Carta Aberta ao Brasil.
Tudo indica que voltará à prisão, 40 anos após ser preso pela primeira vez.
(Quase) todo mundo sabe que marxistas não dão a mínima bola para a democracia burguesa. Apenas jogam o jogo dela como tática para avançar rumo ao poder.
Jogar implica perder ou ganhar.
Genoíno, desta vez, perdeu. Sua carta parece indicar que não é bom perdedor.
Devia aprender com o povo, que ele tanto parece venerar:
Bronca é ferramenta de otário.
1 comentário:
vou discordar, Alberto. Bronca não é ferramenta de otário. Bronca é discordar e como já dizia aquele: a unanimidade é burra...
Genoíno, que eu também conheci muito bem, chegando a trabalhar com ele e fazer in´´umeras campanhas é um sujeito sério. Messiânico, talvez, vaidoso por vezes. Porque além daquela vaidade feminina dos adornos, existe a vaidade política, daqueles que adoram aparecer nos jornais, nas entrevistas. Fernando Henrique é outro. Mas Genoíno é um cara sério. Com ele aprendi, mais do que com qualquer outra pessoa, a respeitar idéias diferentes. Eu nunca fui a favor de luta armada, não engolia o centralismo democrático, adorava o livre arbítrio ( ainda adoro), era, enfim, uma militante pouco intelectualizada, sem paciência pra ler todos os Lenin e Marx que deveria, uma ovelha cinzenta, já que nem negra jamais fui. Mas ia com ele, muitas vezes servindo de motorista, nas reuniões de bairros distantes, pelo interior e via como ele tratava e falava com as pessoas. E aprendia.
O Genoíno era capaz de discutir política com Curió e Erasmo Dias, tentando trazer as coisas pro nível do humano e do direito. O Genoíno é um cara assim.
Mas é também o cara que acha que questões financeiras são questões menores, o cara que diz só gostar da "grande política", esquecendo-se que não existe grande política sem as pequenas ações.
Naquela época, em que eu militava ele dizia que os fins jamais justificam os meios. Acho que ele não pensa mais assim. Mas ele é um cara sério. A ser respeitado como ser político. Que errou e pagou pelo seu erro de "acomchambrar" ( para usar a gíria da época) com os corruptos, com os que usam de meios espúrios pra chegar e manter o poder. E quem fecha os olhos pra essas coisas, saí chamuscado e muito. A avestruz que enterra a cabeça na areia, nem por isso deixa de ser atropelada pelo caminhão.
Ele está ressentido, como se estivessem chamando-o de ladrão no nível pessoal, coisa que ele nunca foi. É talvez o político de destaque mais "pobre" que conheço.
Mas, na minha opinião, bem modesta, é verdade, não existe nível pessoal e nível político. O homem é uma coisa só.
O Genoíno é um cara sério, que errou feio, mas continua pra mim sendo um cara sério.
Tem a minha eterna gratidão, de companheira, de aprendiz, de amiga.
E este julgamento acredito ser didático. Espero que as coisas melhorem daqui pra frente.
Desde que as pessoas entendam que política é como a vida: a gente erra, a gente faz cagada, mas a gente tem que ter ética sempre.
Acho o Genoíno um cara ético que se afastou de caminhos que ele mesmo me ensinou a trilhar.
Porque, como já disse várias vezes, apesar de tudo, ele é um cara sério.
PS: desculpe o longo comentário, mas vc tb é meu amigo e saberá entender esta minha necessidade.
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