sábado, 14 de janeiro de 2012

Vaga lembrança


Era carrancudo, meu avô.
Falava coisas que eu não entendia. Quando eu tentava brincar com ele, me repelia. Como quando lhe dei um tapa na cara. Brigou comigo.
Tinha um olhar penetrante, que me deixava entre assustada e curiosa.
Que será que pensava?
Vivia às voltas com seu computador e com suas leituras. Não era de muitas brincadeiras.
Gostava de comer bem e de beber. Bastante.
Parece que bebia cognac, o mais das vezes.
Não me recordo de quase nada do que dizia. A verdade é que não prestava atenção nele.
Foi morar em Portugal. Era mesmo de ideias estranhas. Morar em Portugal...
Um dia meu pai me contou que ele morreu.
Não vou dizer que fiquei triste. Acho que não fiquei.
Ficou-me apenas uma vaga lembrança de seu jeito inquieto.

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