segunda-feira, 20 de junho de 2011
René e Erich Fromm
No final do curso primário, lá pelo longínquo ano de 1.954, meus colegas de Colégio Marçal, Santos, São Paulo, combinámos de aproveitar o último dia de aulas para fazer um torneio de futebol de botão na casa de um dos alunos, o René.
Terminado o curso, lá fomos nós para a casa do René, mais precisamente para a garagem da casa do René. No chão da garagem é que funcionava o campo de futebol de botão.
Enquanto acompanhava as primeiras partidas, fui notando que uma vontade de fazer xixi aumentava paulatinamente. Como era uma criança bastante tímida, fiquei na minha. Claro que, a certa altura, mijei nas calças.
Foi um pega pra capar. Ligaram pra minha casa, a Júlia, que era meio empregada meio membro da família, foi até a casa do René pra levar roupas secas pra mim.
O vexame foi minha despedida da turma do primário.
Alguns poucos anos depois, no curso ginasial, Colégio Canadá, o mesmo René protagonizou cena hilária – pra todos, menos pra ele – em um exame final de francês. O professor Sólon era o terror do Canadá.
René colava durante o exame, o professor Sólon percebeu, foi até a carteira dele e recolheu a prova.
Voltou à mesa de professor e sapecou um sonoro Zero na prova. René procurou explicar:
- Professor, eu estava estudando!
- Esse não era mais o momento de estudar, respondeu Sólon didaticamente.
Anos mais tarde, mais exatamente 1.968, eu era um engenheiro recém formado, aluno do curso de filosofia da USP.
Morava na lendária Rua Maria Antônia. Mais precisamente no quarto andar do Edifício Canadá. Mera coincidência.
Num dia qualquer, encontro na rua o René.
Atualizámos nossas informações e o convidei a subir a meu apartamento para continuarmos a conversa.
Já lá dentro de meu reduto, René encantou-se com minha biblioteca. Em particular, gostou dos livros de Erich Fromm, que estavam na moda.
Deixei que levasse, por empréstimo, uns dois ou três dos livros do dito cujo.
Nunca mais vi o René.
Hoje me parece que fiz uma troca: dois ou três livrinhos de Erich Fromm por uma mijada na garagem da casa dele.
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