sábado, 19 de fevereiro de 2005

Democracia direta,
Democracia directa


Amanhã, Portugal vai às urnas.
Lá como cá, no Brasil, discute-se muito a validade de todo o processo representativo.
Lá, talvez porque a escolha deva ocorrer entre o roto e o esfarrapado.
Aqui, porque o Congresso acaba de eleger figuras risíveis para a presidência de cada uma das duas casas legislativas.
No Brasil, direto é tudo aquilo que vai em linha reta.
Já em Portugal, directo é tudo aquilo que vai em linha recta.
Tanto lá quanto aqui, sou a favor da democracia dire(c)ta.
Se estivesse só a pensar no Brasil, nem tocaria no assunto. Aqui, não se consegue nem uma mísera reforminha política. Tipo exigir um mínimo de fidelidade partidária, instituir um voto distrital misto, coisas simples assim. Parlamentarismo, nem pensar. Um deputado se vende por vinte ou trinta mil reais (algo em torno de seis, sete mil euros) para mudar de partido por um dia (entra de manhã, sai à noite). No interregno, dá maioria pra alguma manobra legislativa. Quem diz isso não sou eu. É o presidente da Câmara dos Deputados. Olha só o artigo de ontem na Folha de S.Paulo:


ELIANE CANTANHÊDE
"20 mil, 30 mil..."

BRASÍLIA - Não foi um eleitor descrente, um jornalista cáustico ou um deputado qualquer, mas, sim, o próprio presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), quem admitiu que o troca-troca entre partidos não é à toa, mas em espécie. Tá danado.
"Um recebe dez, outro recebe 15, outro recebe 20...", disse à Folha.
"Vinte o quê? reais?", perguntei. E ele, claríssimo: "Vinte mil, 30 mil..."
Depois, Severino disse que, se houver provas contra essa "excrescência", abre inquérito e cassa mandatos. Pois está bem na hora de colher provas, principalmente na gangorra em que se transformou a disputa entre o PT e o PMDB nos últimos dias para ter a maior bancada na Câmara dos Deputados.

Em resumo: o Brasil já apodreceu, sem passar pela fase de amadurecimento. Esquece.
Já Portugal, quem sabe, até pelo facto de ter só dez milhões de habitantes (menos que a cidade de São Paulo), talvez tenha ainda oportunidade de tentar.
Os atenienses tinham lá sua democracia directa. Reuniam-se na ágora e resolviam suas pendências. As sociedades modernas, com seus milhões de indivíduos, partiram pra democracia representativa. Divisão do poder em três poderes. Isso a que a gente está habituada.
Já hoje, graças à informática e às telecomunicações, já passou da hora de pensar-se em retomar a democracia directa.
Claro que isso exige transição. Entendo que a grande tarefa política do momento é pensá-la.
O resto é peanuts.

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