quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Educação no lar


Leio hoje, em El País, artigo a respeito dos prós e contras de educar os filhos em casa e não na escola.
E fico admirado em ver essa discussão estender-se aos dias de hoje. E no mundo todo.
Quando tive a intenção de educar meus filhos em casa, longe das escolas, fui bombardeado por todos os meus amigos. Eles não eram apenas contra a ideia. Ficavam raivosos só em ouvir falar dela.
Até hoje não entendo esse sentimento forte de contrariedade. O que não quer dizer que continue a defender a ideia, da qual - diga-se - desisti logo.
Os argumentos contra a educação no lar continuam, ao que parece, os mesmos da década de 70.
O mais freqüente deles refere-se à questão da socialização da criança. Fora da escola, nossos filhos não teriam contato com outras crianças. Não se socializariam.
Ora, antes mesmo de nascer meu terceiro filho, fomos morar em um sobrado situado em uma rua de apenas uma quadra, com sessenta daqueles sobrados, nos quais moravam 120 crianças entre zero e sete ou oito anos. A rua era de terra e as crianças brincavam todas juntas, sujando-se pra valer e desenvolvendo amores e rancores entre elas.
Se isso não é socialização, não sei o que significa essa palavra. Não creio que a escola seja o único meio para socializar a criança.
Outro argumento, segundo em importância no combate à ideia da educação no lar, era - e ainda é - o de que as crianças educadas no lar ficariam muito diferentes das demais. Isso não seria nada bom, considerando-se a necessidade de pertinência a grupo, típica - principalmente - dos adolescentes.
Como desisti da ideia, não sei como teriam ficado meus filhos caso os tivesse educado no lar. Lembro-me das várias vezes em que fui buscar, lá pelas 3 ou 4 da manhã, minha primogênita na saída de bailes de adolescentes no clube sírio-libanês, em São Paulo. Ficava, de dentro de meu carro, a olhar os adolescentes a sair. Às centenas. As meninas - todas, sem absolutamente nenhuma exceção - vestidas inteiramente de preto. Penso que é a coisas assim que se referem ao falar de pertinência a grupos.
Não vejo razão para que adolescentes educados em casa não possam vestir-se de preto e participar de bailes desse tipo. Concordo que - naquela época - o contato com outros da mesma idade era um bocadinho mais difícil. Hoje, com a Internet...
Um argumento, para mim novo, é o de que essa ideia costuma ser posta em prática por fundamentalistas religiosos. Pode ser. Mas o facto de um fundamentalista religioso gostar de, digamos, melancia, não me parece que torne a melancia menos apetitosa.

Apenas fico feliz por ter desistido da ideia ao imaginar os enormes problemas em que me meteria graças a ela.

Meus filhos acabaram por formar-se em escolas regulares, com todos os defeitos e virtudes que essas instituições têm. E tornaram-se adultos que me deixariam orgulhoso se fossem meus filhos. E são!

Quanto a mim, já sou suficientemente criticado por eles por tê-los educado como toda a gente. Não sem algumas razões, diga-se.
Calcule como seria, caso me decidisse por educá-los por minha única conta e risco.

3 comentários:

Anónimo disse...

se eu tenho algo de positivo como adulto - ha quem diga que sim... - devo aos meus pais sobretudo... Obrigado, Jack! Amo voce!

rosangela disse...

parabéns pelos filhos! eu sou suspeita, mais admiro muito um em especial e a minha filha tb. kkkk, bjs c/ carinho

Léa, a irmã. disse...

Esse anônimo aí em cima tem toda a razão: com escola ou sem escola, seus filhos teriam sido a mesma maravilha que eles são.