segunda-feira, 7 de novembro de 2011
O vinho e a salvação
Leio em algum lugar que o vinho foi introduzido na Espanha por comerciantes fenícios, há três mil anos.
Duvido que esses indivíduos tivessem plena noção da importância da contribuição que davam ao continente europeu. O que não lhes diminui o mérito.
E graças a essas associações de ideias que só ocorrem a ociosos, lembrei-me de meus primeiros passos rumo à descrença nas verdades cristãs.
Foi quando resolvi perguntar a meu pai como ficava a situação dos índios habitantes do Brasil antes dos descobrimentos, no quesito salvação.
Meu pai devolveu-me um meio sorriso carinhoso e ofereceu-me o conselho:
- Deixa pra lá os índios e preocupa-te contigo.
Claro que não estava eu preocupado com os índios. Estava, sim, preocupado com a lógica de uma doutrina que já começava a me parecer sem pé nem cabeça.
Se um indivíduo, qualquer um da espécie humana em qualquer época, só vai para o céu, usufruir do prazer eterno, se aceitar a Cristo como seu salvador, me parecia - já naquela época - totalmente injusto mandar para o inferno indivíduos que jamais tiveram qualquer remota possibilidade de se valerem do sacrifício do Calvário.
Ou então as inscrições para o céu por meio de Cristo deveriam ter data de início e mais algumas condicionantes, como por exemplo as geográficas.
Mas volto aos fenícios. No que me tange, terem sido os responsáveis últimos (ou primeiros...) por me ser dado usufruir do milagre do vinho já lhes reserva um belo sítio no paraíso eterno.
Quaisquer que tenham sido seus inevitáveis pecadilhos.
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1 comentário:
engraçado que também me lembro de, ainda bem novinha, ter perguntado mais ou menos o mesmo a um padre, meu professor.
não me lembro da resposta, mas não me deve ter esclarecido.
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