terça-feira, 12 de julho de 2011

Mais comemoração


Quinta-feira próxima o professor Hélio Guerra completa 81 anos.
Helinho, como nós, seus alunos, o chamávamos (apenas entre nós, claro), era diretor (penso que o cargo era esse) do Departamento de Engenharia Elétrica da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) na época em que eu terminava meu sofrido curso de engenharia eletrônica.
Corria o ano de 1.967.
Nas férias do meio de ano eu já estava convencido de nada ter a ver com engenharia e começara a estudar para o vestibular de Filosofia na mesma Universidade (USP).
Pensei seriamente em abandonar o curso. Colegas mais sensatos (naquela época, não era nada difícil ser mais sensato do que eu.) (Eu disse naquela época?!) me lembraram de que não fazia sentido abandonar quatro anos e meio de esforços quando faltava apenas um semestre para obter o diploma de engenheiro.
Continuei o curso, tendo de – para isso – fazer um esforço enorme.
Ao final, passados todos os exames, restou um exame oral de Televisão, no qual eu precisava tirar 2 ou 2,5 (num total de 10), não me lembro exatamente.
Percebi que não me restavam forças para estudar para esse exame.

Lá por agosto ou setembro, na Poli-USP, costumava-se dar pindura nos professores. Tudo muito civilizado, combinado previamente com eles. Pequenos grupos (5 ou 6) de alunos elegiam um professor e se ofereciam para um jantar na casa do dito cujo.
Alguns colegas e eu escolhemos o Helinho.
Tudo combinado, fomos recebidos – nós e as namoradas – de modo soberbo por ele e esposa, em uma aconchegante casa no Morumbi, São Paulo.
Essa experiência nos aproximou um tantinho do mestre.

Quando me debatia com minha incapacidade de enfrentar aquele exame oral de TV lembrei-me do professor Hélio Guerra. Quem aplicaria o exame era o professor Barradas. Mas Helinho era o chefe. Liguei para ele e solicitei um papo. Convidou-me a visitá-lo. Lá fui eu.

Já instalado em confortável sofá na sala de estar da residência do mestre, expliquei a ele minha situação e propus:

- Professor, preciso de 2( ou 2,5) no exame de TV para terminar meu curso. Minha proposta é: vocês me dão essa nota e eu prometo – solenemente – jamais exercer a profissão de engenheiro eletrônico. Quero apenas um diploma de curso superior.

Hélio Guerra sorriu e sapecou-me uma inevitável lição de moral. Algo na linha:
- Um homem tem de enfrentar os desafios que a vida coloca em seu caminho.

Não consigo reproduzir tudo que ele me disse. Até para não ser injusto com ele.
Apenas me recordo que foi uma repreensão suave mas firme.

Felizmente, a vida me presenteou com amigos incríveis. Sílvio Ursic foi um deles.
Sílvio já havia terminado o curso, com folga. Ofereceu-se para me ensinar as matérias do curso de TV.
Na véspera do exame oral, varámos a madrugada – ele e eu. Ele a ensinar, eu a aprender. Ou melhor, a registar tudo em arquivos temporários que seriam deletados logo obtivesse a nota almejada.

Prova feita, 8,5.

No ano seguinte, em meu aniversário (fevereiro), tocaram a campainha de meu apartamento do Edifício Canadá, rua Maria Antonia, São Paulo. Olhei pelo olho mágico e vi uma imagem colorida.
Ao abrir a porta me deparei com Sílvio Ursic a segurar com os dois braços uma enorme bola de plástico colorido. Era meu presente de aniversário.

Quanto ao professor Antonio Hélio Guerra Vieira, que depois foi até reitor da USP, meus parabéns pelo aniversário, meus votos de longa vida ( o Brasil não pode dar-se ao luxo de perder pessoas da estirpe dele) e a informação:
- Caro professor: apesar de não ter sido brindado com a outorga de uma nota imerecida no exame de TV, continuei firme em minha promessa: jamais me aventurei a exercer a profissão de engenheiro eletrônico.

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