quinta-feira, 21 de julho de 2011

Conde de Sarzedas - 2


Os três: Fusco, Brandão e eu, estávamos sempre entre os melhores alunos do Di Tullio. Quando foi se aproximando o final do ano, o Fusco – que se apaixonara infinitamente por uma colega de curso colegial – levou o fora da dita cuja.
Passou a chorar em tempo integral.
O pior de tudo era a incongruência da situação. O Fusco era um camarada enorme, cara de mau, integrante da seleção paulista de judô. Com todo esse physique du role, ele se sentava para assistir às aulas, abria o caderno sobre a carteira e o deixava molhado pelas lágrimas que não paravam de cair sobre as páginas em branco. Páginas e cérebro em branco, diga-se. Não conseguia prestar a mínima atenção a aula alguma.
Resultado: Brandão e eu passámos no vestibular da Poli. O Fusco não.
Ano seguinte criou-se a rotina: aos sábados, dia de provinha no Di Tullio, lá íamos nós, Brandão e eu, esperar o Fusco sair do cursinho para consolá-lo e... ir comer croquetes de carne no alemão da rua Teodoro Sampaio.
Nunca mais na vida comi ou comerei croquetes iguais àqueles.
E o velho alemão nos servia, para acompanhar os croquetes, uma cerveja preta que lembrava os gênios de lâmpadas maravilhosas: a garrafa era sempre trazida à mesa com cuidado para que não fosse muito agitada. Ao abri-la, o velho apressava-se em encher nossos três copos. A pressão da cerveja era tanta que dificilmente nada se perdia sobre a mesa.
Cheguei a voltar nesse restaurante alemão alguns anos depois. O velho morrera, o restaurante era tocado pelos filhos. Os croquetes ainda eram bons, a cerveja ainda teimava em derramar-se pela mesa.
Eu é que – certamente – já não era o mesmo.

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