quarta-feira, 29 de novembro de 2006

Uma pequena maldade


Dia desses, uma blogueira que até então me mandava dezenas de e-mails todo dia mandou-me um, um tanto diferente. Pedia ela que – sem pensar – guiado apenas pelo primeiro impulso, escrevesse, em resposta, a primeira palavra que surgisse em minha mente, associada a ela.
Ao ler tal pedido veio-me à mente umbiguista. Palavra, aliás, que o Houaiss não registra. Mas muito utilizada nos blogs portugueses.
Fiquei em dúvida se deveria responder ou não. Seria grosseiro? Mas, por outro lado, o pedido partira dela. Além disso, trata-se de uma psicanalista. Tem, como dever mesmo de ofício, saber que o que ocorre em minha mente tem muito mais a ver comigo mesmo do que com qualquer outra pessoa. Cheguei a imaginar que trocaríamos alguns e-mails para investigar as razões de ter brotado tal termo em minha mente.
Respondi.
Dia seguinte recebo a réplica:

:) tá bom, não vou mais te mandar nada, assim não precisa mais ficar olhando meu umbigo tchau. Fui .

Como o texto começava com aquele símbolo de riso, encarei como brincadeira e fiquei à espera de novos e-mails dela.
Nada.
Havia feriados. Pensei que talvez tivesse viajado ou que tivesse visitas em casa. Continuei a esperar.
Nada.
Acabei por concluir que ela ficou zangada mesmo, comigo.
Logo pensei em escrever a ela para explicar.
Mas explicar o quê?!
Foi quando lembrei de algo que aprendi com a experiência, no tempo em que dava aulas. Em todas as turmas funcionava assim:
Tópico novo. Eu explicava pela primeira vez. Metade da turma, mais ou menos, entendia na primeira.
Eu explicava de novo. Mais uns trinta por cento passavam a entender.
Explicava pela terceira vez, em atenção aos 20% que ainda não tinham entendido.
Restavam, então, apenas 10% sem entender.
E, aí, entrava o paradoxo.
Se eu explicasse o assunto pela quarta vez, ao invés de a turma dos que não compreenderam cair para uns 5%, ela aumentava!
Surgiam alunos que tinham entendido antes e que agora se confundiam com a nova explicação.
Aprendi, então, que não havia salvação para os tais 10% que não entenderam nem com três explicações.
Ou ainda: nem todos conseguem entender qualquer coisa.
Há momentos em que o remédio é silenciar.

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