domingo, 7 de agosto de 2005

Quem é LuLLa


A Folha de S.Paulo, em sua edição de hoje, caderno mais!, traz quatro artigos sob o tema Quem é Lula.
É interessante compará-los.
Paul Singer rememora, com indisfarçável nostalgia, antigos debates programáticos realizados dentro do PT. Entende que, para atravessar a atual crise, nada como recolocar os debates em primeiro plano:
O que estou constatando é que, há poucos anos, o PT foi capaz de organizar debates sobre temas controversos num clima de respeito e compreensão, absolutamente incomuns na esquerda, em outros tempos. O momento presente parece exigir que algo nessa direção seja novamente tentado, com uma urgência muito maior, dada a gravidade da crise.
Com todo o respeito que Paul Singer merece, é incrível – mas bota incrível nisso – que ele entenda que se trata de discutir temas controversos, apenas aumentando o grau de urgência dessa discussão. Como, no início de seu artigo, ele lembra com saudade de suas discussões com outros intelectuais do PT na casa de Antonio Cândido, debates “que sempre culminavam com um chá e bolo servido pela professora Gilda”, é de se perguntar se – para os atuais debates – bastaria chamar de novo a professora Gilda ou se se deixa a cargo do Delúbio a contratação de um bufê.
Renato Mezan contribui com inspirado artigo sob o título Pior que um crime, um erro, título que ele logo de saída explica:
Questionado por Napoleão acerca da conveniência de mandar assassinar o duque de Enghien, seu ministro Talleyrand teria retrucado: “De forma alguma, majestade! É pior que um crime – é um erro!”.
O artigo de Mezan tem o mérito de arrancar a discussão sobre Lulla da esfera da ética e reposicioná-la como questão de virtu, no sentido de Maquiavel, que ele prefere traduzir por competência. Pena, a meu ver, que ele entenda que a virtu acompanhou Lulla em todo seu processo de ascensão política para só abandoná-lo já no exercício da presidência.
Reinaldo Gonçalves, em A aposta desperdiçada, volta mais atrás na busca das origens da degringolada petista:
Ao longo da história do PT, ficou cada vez mais evidente que o partido era dominado pelo grupo liderado por Lula. O crescimento do PT, sob a hegemonia desse grupo, já trazia os elementos que provocariam sua senilidade acelerada.
Como se vê, ele entende que foi o grupo Articulação, comandado por Lula, que representou a maçã podre responsável pelo apodrecimento de toda a cesta.
O melhor artigo, sempre na minha opinião, claro, é o de César Benjamin. Mas insiste no mesmo diagnóstico de Gonçalves:
Os malfeitos que têm vindo à luz não começaram agora nem decorrem de um equívoco individual. Representam apenas a transferência, para a esfera do governo federal, de práticas iniciadas, com certeza, nos primeiros anos da década de 1990, talvez antes, e nunca descontinuadas. As impressões digitais do mesmo grupo aparecem na gestão do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), na organização das finanças da campanha presidencial de 1994, na gestão de algumas prefeituras, como a de Santo André, na busca de controle de fundos de pensão, para citar apenas as situações mais notórias.
Sobre tudo isso, há anos, correm histórias escabrosas, pois um esquema tão amplo e longevo nunca permanece completamente invisível. Ao aceitar conviver com isso, ao mesmo tempo mantendo a bandeira da ética para consumo externo, o PT ficou exposto à ação corrosiva da hipocrisia, que o destruiu.

Pois é, quem provocou a infecção generalizada do PT parece que está claro.
Mas o que os quatro artigos não explicam é:

De onde vem essa baixa resistência imunológica que tornou o PT sensível ao processo de degeneração provocado pelo grupo lulista?

É na formação do PT, lá na sua origem, que se deve buscá-la. O PT foi, como já acentuei no post anterior, fruto do casamento de uma esquerda derrotada, destituída de programa, moralista, incapaz e obreirista com um movimento sindical esperto, sequioso de ascensão social e de poder, liderado por um lapardão bafejado por uma conjuntura favorável a seus planos.

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