Reforcei minha convicção agora, em meio a uma gripe daquelas. E, hoje, vou me degradar mais um bocadinho, a ponto de torcer pela selecção portuguesa contra os vizinhos espanhóis.
Aliás, a julgar pelos silêncios que tenho ouvido ao longo dos jogos dos portugueses na Euro 2012, talvez só eu esteja a preocupar-me com os destinos da selecção cá nesta terra abençoada por deus e bonita por natureza (esta sim, senhor Jorge Ben).
E já que falei em Jorge Ben, lembro-me de meu amigo Paulo Feofiloff. Começámos juntos no Instituto de Matemática e Estatística da USP. Pouco depois de ter saído da prisão, eu o convidei para ir à minha casa. Não sei se para almoçar ou jantar. Mas foi algo assim. Corria o ano de 1.973. Jorge Ben (que ainda não era Jorge Benjor), lançara seu LP de dez anos de carreira. Estava tudo lá, em um balanço inovador.
Eu, empolgado, fui mostrando a Paulo todas as faixas do disco. Ele as ouviu em silêncio.
Ao final, lá de dentro de sua formação musical erudita, típica de um oriundo da Rússia, com a honestidade intelectual que sempre foi a sua:
- Como é que você consegue gostar disso!?
Paulo, meu amigo. O pior é que continuo a gostar.
Outro grande amigo meu, o Luís, meu hermanito, (aliás, nosso, pois também amigo de Paulo. Trocámos vasta correspondência durante o tempo em que eu estava no Brasil, Paulo em Waterloo, no Canadá, e Luís em Amesterdão.) lembrou-me, dia desses, de um episódio de 1.970.
Levei à casa em que Luís vivia sozinho (seus pais haviam falecido havia pouco tempo), um militante do POC, o Gilberto, que tinha sido meu colega na Faculdade de Filosofia da USP. Minha intenção era que alguém, como Gilberto, tão sofisticado como era - e é - meu hermanito, pudesse convencê-lo a participar connosco da luta que entendíamos ser a única atitude possível diante da situação política brasileira.
Quando chegámos, Luís nos pediu que esperássemos um bocadinho e foi desligar a vitrola, que tocava Brahms. Gilberto comentou comigo:
- Não é saudável ouvir Brahms pela manhã.
Continuo sem saber se os médicos aconselham Brahms logo após o pequeno almoço, mas sinto saudade do Gilberto, com o qual nunca mais tive oportunidade de conviver.
Do Luís, felizmente, desfruto a companhia até hoje, apesar de, agora, existir um oceano entre nós. E, diga-se, o danado continua a ouvir Brahms de manhã. Foi, dia desses, assistir ao ensaio da OSESP na Sala São Paulo. Teve de engolir dois concertos de Brahms pela manhã. Depois não diga que não avisei...
De Brahms a Jorge, continuo a degradar-me.
E, se depender de mim, os defensores da Lusitânia, incluído aí o mestre Pepe, digno representante de Maceió, esmagam hoje os magos espanhóis.
Saravá!
PS: Esmagar não esmagaram. Mas venderam caro a derrota. (22:50 h)
2 comentários:
Que bom que vc está de volta! Nem li o texto direito, porque já está tão tarde que nem tô enxergando direito. Só sei que concordo c/ seu amigo e não c/vc...Tbm não sou "chegada" ao Jorge Ben...Mas cura esta gripe logo, e não deixe de atualizar seu blog todo dia! (rsrsrsrsrsrsrsr)
Abraço,
Regina Reis
Melhoras, viu? Vc fez falta estes dias, pois fiquei preocupada em não ler seu blog, como sabes ,sou sua fã, faça chuva ou faça sol rsrs, aqui nesta terrinha...qto ao futebol que pena que Potugal perdeu ontem, estava torcendo tanto...E qto ao Jorge, tb continuo gostando e faz tanto tempo.Bjs c/carinho e saudade
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