sexta-feira, 25 de julho de 2008

Essa velha humanidade


Em 2001, em Santiago de Compostela, enquanto encharcava de cerveja meu ateísmo, passei algum tempo a contemplar a estupenda fachada da Catedral.
Em minha imaginação, via os operários a erguerem aquela estrutura gigantesca, desacompanhados de tecnologias modernas, amparados em uma fé antiqüíssima.

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Já dentro da nave, desci ao túmulo do apóstolo.
Minha estupefação deveu-se aos degraus de mármore, gastos pelo pisar de peregrinos ao longo dos últimos nove séculos.

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Claro que os portugueses mais legítimos do que eu, aqueles que fizeram seus estudos básicos em Portugal, esboçarão um leve sorriso ao perceber minha admiração quase infantil diante de tradições de séculos tão remotos.

No entanto, para quem habituou-se a antigüidades não aquém do século 16, esses degraus machucados por quase uma dezena de séculos só podem embasbacar.

Por isso, é com prazer de quem saboreia um delicioso chocolate que leio sobre meu Trás-os-Montes, em Gama Barros (Historia da Administração Publica em Portugal nos séculos XII a XV, tomo XI, pág. 425):

Na ultima decada do seculo XI apparece um documento citando Pannonias como territorio onde existiam varias propriedades. Sob esse nome abrangia-se um terreno que podemos dizer vasto, pois as inquirições geraes de 1220 já registaram n’elle trinta e tres freguezias; mas não comprehendia todo o espaço que pertence ao actual districto de Villa Real.
Para designar todos os mais territorios que entestavam com o de Panoias, parece que não havia então um nome especial, e que tambem o não tinha o territorio do moderno districto de Bragança, que fórma agora, com o de Villa Real, a província de Traz-os-Montes. Era porém Bragança uma terra já de certo importante antes de lhe ser concedido o foral de 1187, que lhe chama algumas vezes villa, mas ainda mais civitate, e conclue declarando que por elle dá o soberano á cidade de Bragança e aos seus povoadores integralmente e para sempre a cidade e Lampazas com seus termos.
Foi isso mesmo que responderam os jurados nas inquirições de 1258 (4ª alçada) sobre os direitos fiscaes na villa de Vinas, dizendo que el-rei D. Sancho, o velho, dera por carta ao concelho de Bragança tudo que era regalengo na terra d’esse nome.


Valendo-me da generosa doação de D. Sancho, pretendo ocupar, em breve, um pequeno espaço que já foi de el-rei nas terras de Bragança.

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