sábado, 10 de julho de 2004

Quousque tandem?


Quem sabe. Talvez falar em latim ajude.
Quousque tandem abutere, CNBB, patientia nostra?
Quamdiu etiam furor iste tuus nos eludet?

(Até quando enfim abusarás, CNBB, da nossa paciência?
Por quanto tempo ainda este teu rancor zombará de nós?)
Este discurso de Cícero contra a CNBB (ou melhor, contra Catilina. A adaptação é minha) vem a propósito de matéria na Folha de S.Paulo (FSP) de hoje (Caderno Cotidiano, C6), pela qual somos informados a respeito das idéias do secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Odilo Pedro Scherer, sobre a interrupção da gravidez quando houver laudo médico atestando a anencefalia do feto. A autorização para essa interrupção foi concedida por liminar do ministro Marco Aurélio de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF). Dom Odilo argumenta: "A mulher que gera um filho com anencefalia pode passar por um drama grave e por muitos sofrimentos, sabendo que o feto pode morrer ainda no seu seio ou então logo depois de nascer. Temos que ter muita compreensão com essa mãe e a sociedade dispõe de muitos meios para ajudá-la. Mesmo o risco para a saúde da mãe pode ser controlado pela medicina. Mas o sofrimento da mãe não é justificativa suficiente para tirar a vida do filho dela".
Das idéias à ação, a CNBB pediu anteontem ao presidente do STF, Nelson Jobim, a cassação da medida liminar.
A matéria da FSP esclarece: "Fetos com anencefalia têm defeito de fechamento na calota craniana e ausência de cérebro, o que impede a sobrevivência fora do útero. O problema pode ser detectado por meio de exames."
Não custa lembrar que uma liminar como essa não obriga nenhuma mãe a abortar, apenas permite que ela decida fazê-lo ou não. Mas a CNBB, talvez por ser a proprietária do direito de vida e morte, quer que seja proibido o aborto, mesmo em tais circunstâncias.
Ainda o inefável dom Odilo: "a vida humana não está apenas num órgão, como o cérebro, por mais importante que ele seja. A vida está no conjunto das funções do organismo."
Então tá. Afinal, tudo indica que alguém, mesmo sem cérebro, pode chegar a ser até secretário-geral de uma CNBB.

P.S.: sobre o assunto, leia também aqui.

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