Estou há um mês a aguardar que a NET resolva o problema de intermitência do sinal do Virtua e do NET Fone.
Os técnicos vêm, dizem que – desta vez – tudo está resolvido e... o problema persiste.
Isso é apenas a ponta de imenso iceberg.
Somos todos incompetentes, inclusive – senão principalmente – eu.
Aliás, esse é, quase, o
título de um livro de administração lá da década de 70 do século passado. Mas, agora, a situação é menos conceitual e mais prática.
Eu, na minha profissão, exercida já pra lá de 15 anos, me considero incompetente. Mas, ao menos, tento não dar grandes vexames.
O mesmo não é possível afirmar a respeito dos técnicos da NET (e de outras operadoras, claro, claro). Nem a respeito de – por exemplo – médicos.
Vamos a um caso concreto:
Faz uns 15 anos, um ortopedista descobriu que eu tinha gota. Cheguei à clínica, em que ele trabalhava, com o pé submetido a intensa dor. Dedão do pé. Eu achava que a dor era resultado de algum choque no jogo de futebol. Naquele tempo eu ainda jogava futebol.
Não. Era gota.
Se você não sabe eu explico: gota é o resultado do acúmulo de excesso de ácido úrico nas juntas. Os cristaizinhos ficam ali e – de repente – resolvem inflamar a região. A dor é tamanha que o contato de lençóis é doloroso.
Pois bem. O tal médico (não vou citar nomes. Seria injusto acusar alguns quando tantos são incompetentes) receitou-me um tratamento tão complicado quanto inútil: deixar o pé mergulhado em solução de permanganato de não sei o quê durante não sei quanto tempo. A coisa toda implicava manter o pé mergulhado naquele líquido roxo, dentro de um balde, depois enxugar o pé em toalha que ficava obviamente toda roxa etc etc.
O resultado era rigorosamente nulo.
Fora a sujeira, eu ficava sem poder sair de casa durante alguns dias. Isso atrapalhava a vida toda, como se pode depreender.
Até que um colega de trabalho me deu a dica da injeção de Voltaren. Ele, aliás, disse mais: mandava o farmacêutico misturar Voltaren com não sei o que e ficava bom imediatamente.
Eu preferi me restringir ao Voltaren. Meia hora depois da picada na bunda eu estava pronto para outra crise.
E a vida ganhou nova dinâmica.
Como quase todo mundo sabe, Voltaren não é flor que se cheire. É preciso não abusar.
Vai daí, na primeira crise de gota que surgiu, procurei uma médica que me receitou Zyloric.
Tomei e ... piorei.
Quando li a bula (que não havia lido até então porque, afinal, o remédio tinha sido receitado por uma médica), percebi que a dita cuja bula trazia – destacada em letras vermelhas – a advertência: não tome este remédio durante crise de gota.
Beleza.
Conversando com um cunhado que também padecia de gota, fui advertido:
Verifique se seu remédio de pressão não retém ácido úrico.
Não deu outra. Li a bula e verifiquei que o remédio que tomava, para equilibrar a pressão, retinha ácido úrico no organismo (Tenoretic).
Falei sobre isso ao médico que freqüentava à época. Era, diga-se um medalhão. Cobrava os tubos.
Displicentemente, o dito cujo concordou em trocar o remédio de pressão por outro (Atenol). Se eu não tivesse dito nada, tudo ficaria como estava. Claro que nunca mais voltei ao consultório do imbecil.
Mais adiante, o dr. Mistrorigo (esse é dos bons) ensinou-me a controlar a crise com doses cavalares (de hora em hora) de colchicina. A coisa funciona assim: quando você percebe o início da crise, começa a tomar colchicina (comprimidos) de hora em hora. Depois de uns cinco ou seis comprimidos você começa a sentir enjôo e é acometido de intensa diarréia. Aí você interrompe a ingestão de colchicina.
A crise de gota vai embora. Mas o processo é um tanto desagradável...
Por recomendação de vários médicos, passei a tomar colchicina diariamente.
Um belo dia, a dúvida me assaltou (aliás, em São Paulo, a melhor coisa é ser assaltado por dúvidas. Os outros tipos de assaltos são muito piores):
Diabos. A colchicina impede as crises de gota. Mas o ácido úrico continua a ser produzido por meu organismo em excesso.
Resolvi – por minha conta – passar a tomar Zyloric. Com isso, baixei a níveis normais o ácido úrico em meu organismo.
Quando fui a um urologista, ano passado, fazer o exame de próstata, ouvi dele – que se disse também vítima de gota – a recomendação de que continuasse com o Zyloric mas interrompesse a Colchicina.
Foi a maior besteira. Mergulhei em crise forte de gota.
Descobri, a duras penas, que é preciso manter os dois remédios.
Hoje, passados 15 anos da primeira crise, consigo administrar a gota. Não tenho crises, reduzi a Colchicina e o Zyloric às doses mínimas que garantem a sanidade.
Apesar de um bando de médicos incompetentes que me fizeram sofrer um bocado.
Viva a incompetência geral.